O quadro do IPT conta hoje com 204 técnicos especializados, que representam 20% de sua força de trabalho. Apesar de desempenhar um papel essencial no dia a dia da instituição, operando o desenvolvimento das pesquisas tecnológicas e de inovação, a atividade desses profissionais nem sempre é visível. O último Café com Tecnologia realizado no Instituto, no dia 6 de outubro, deu voz a esses atores, com o objetivo de mostrar casos inovadores em que a habilidade, experiência e conhecimento dos técnicos foram determinantes para o sucesso do projeto.
O trabalho do técnico em mecânica Samuel Dias Duarte, do Laboratório de Engenharia Térmica, envolve a monitoração de processos industriais de combustão e gaseificação, visando a redução do consumo energético e a emissão de poluentes atmosféricos. Há 20 anos no IPT, Duarte se vale da criatividade para resolver os problemas decorrentes do trabalho e para buscar mais eficácia e segurança nos procedimentos empregados pelo laboratório, de maneira que projetar e desenvolver equipamentos pró-ativamente não é novidade para ele.
Duarte apresentou no evento sua última invenção, um sensor de umidade que é utilizado no sistema de amostragem de gases para análise contínua de composição, impedindo que um eventual problema danifique os instrumentos do laboratório do IPT. “Os equipamentos que utilizamos são complexos e caros e a presença de água nos gases analisados pode comprometê-los. O modelo que criei possui um sensor que aciona o alarme no caso de detecção de umidade nos gases, antes de eles chegarem nos analisadores, alertando a equipe do problema e permitindo sua imediata resolução”, afirma Duarte.
O aparelho, cuja demonstração foi feita para a plateia, já passou por testes práticos com sucesso e foi incorporado à rotina de ensaios da equipe. Equipamento semelhante está disponível no mercado, mas a um custo alto, que gira em torno de R$ 10 mil. Além das horas técnicas de Duarte, o sensor desenvolvido no IPT teve custo da ordem de R$ 50.
RECUPERAÇÃO DE OBRA – Ronecir Cirilo da Cruz dedica-se ao IPT há 40 anos. Integrando a Seção de Engenharia de Estruturas, que trabalha sobretudo em projetos de reabilitação e acompanhamento tecnológico da construção de obras civis, o técnico relatou sua participação em trabalho que o Instituto realizou na década de 90 na sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), localizada na capital amazonense. O edifício, projetado pelos arquitetos Severiano Porto e Mario Emilio Ribeiro e composto por diversas cúpulas piramidais independentes e justapostas, sofreu um grande incêndio, que danificou as estruturas e ocasionou trincas, impregnação de fuligem, destacamento do concreto, exposição de armaduras e surgimento de grandes falhas no concreto que ocorreram durante a construção. O trabalho do IPT consistiu principalmente em avaliar a segurança estrutural do prédio, fornecer assistência técnica para a obra e supervisionar a execução dos trabalhos.
Para cumprir esses objetivos, a equipe do IPT realizou atividades de inspeção detalhada da estrutura para descobrir pontos críticos; escoramento de cúpulas; macaqueamento de cúpulas para recuperação emergencial das cunhas de apoio; monitoramento da movimentação das fissuras; provas de carga e remoção da fuligem de todo o edifício. O grande desafio foi o reposicionamento das cúpulas. “Com o incêndio, as cúpulas se expandiram, empurrando as que estavam nas extremidades e deixando-as em precárias condição de apoio. Uma delas caiu. Com o resfriamento, frestas surgiram entre elas”, explica Cruz.
Para lidar com o problema, a experiência de Cruz na primeira obra ‘empurrada’ no País – um viaduto da Ferrovia do Aço – foi fundamental, pois a mesma técnica foi usada para reposicionar as cúpulas. Ela consiste na confecção de um aparelho de apoio deslizante, feito de PTFE politetrafluoretileno (teflon) sobre aço inox polido e lubrificado com vaselina. Foram utilizadas ainda guias metálicas para conter deslizamentos indesejados. Com esse dispositivo foi possível movimentar as cúpulas de 160 toneladas cada, retornando-as a sua posição original.
Com tantos anos de atividades no IPT, Cruz oferece algumas dicas para os técnicos mais jovens. Para ele, é fundamental para o profissional o conhecimento pleno da capacitação de seu laboratório, além das demais unidades do Instituto, assim como acompanhar todo o trabalho que está sendo desenvolvido, desde o planejamento até a emissão do relatório. “Fazendo isso, o profissional vai aprender mais; há pessoas que só fazem o ensaio, pensando que o pesquisador é quem pode fazer o relatório, mas aí você não conhece o fim e o resultado da sua própria atividade”.
MODELO DE UTILIDADE – O técnico Renato Barros Araujo trabalha no Laboratório de Análises Químicas, atuando na área de plásticos e borrachas. A maior parte dos clientes que atende está interessado na avaliação da performance de seus materiais e na solução para eventuais defeitos dos produtos. Os ensaios são geralmente realizados em uma ‘máquina universal’, que recebe os diferentes corpos de prova e atua de maneira automatizada. Ocorre que muitas vezes as necessidades dos clientes são inusitadas e o equipamento não dispõe de acessórios que permitam a realização do ensaio conforme as normas. Nesses casos, a solução nasce da engenhosidade. “O que queremos é atender as necessidades do cliente. Então trabalhamos em uma série de adaptações de garras da máquina, responsáveis por fixar os corpos de prova de tal maneira que o ensaio possa ser realizado na condição mais próxima a que o produto do cliente estaria durante sua vida útil”, explica Araujo.
Um dos casos apresentados no evento partiu da necessidade do Centro de Tecnologia da Informação, Automação e Mobilidade do IPT, que queria avaliar a força de adesão dos tags rodoviários nos vidros dos automóveis. Como a máquina não oferecia o suporte adequado, a inovação se deu na adaptação do sistema de garras para permitir o ensaio.
No segundo caso, um cliente do segmento automotivo queria testar seu produto quanto à força de adesão do polímero no vidro e no metal. O corpo de prova confeccionado pelo cliente, no entanto, não conseguia ser fixado na máquina. Na impossibilidade de realizar o ensaio, tendo em vista que o vidro escorregava ou quebrava quando preso à máquina, Araujo projetou com a equipe um dispositivo que, atuando como uma garra, permitiu que o cliente não necessitasse mais preparar corpos de prova cortando vidro, mas sim colando o metal diretamente no vidro do automóvel. Funcionando como uma garra de fixar, o novo dispositivo dispensava o corpo de prova convencional e permitia que o cliente utilizasse o próprio vidro usado no automóvel, tornando uma condição experimental mais próxima do real. “A dificuldade encontrada foi uma oportunidade para expandir”, afirma Araujo.
Para a plateia que compareceu ao evento, ficou clara a importância da parceria dos pesquisadores no reconhecimento do trabalho dos técnicos e do espaço para a criatividade. De acordo com Ademar Hakuo Ushima, pesquisador do Laboratório de Engenharia Térmica, “um ponto importante é estimular a criatividade em todos aqui no IPT, não só nos engenheiros e pesquisadores, mas também nos técnicos”. É essa atitude que vai, para ele, resultar numa cultura inovadora.
O trabalho do técnico em mecânica Samuel Dias Duarte, do Laboratório de Engenharia Térmica, envolve a monitoração de processos industriais de combustão e gaseificação, visando a redução do consumo energético e a emissão de poluentes atmosféricos. Há 20 anos no IPT, Duarte se vale da criatividade para resolver os problemas decorrentes do trabalho e para buscar mais eficácia e segurança nos procedimentos empregados pelo laboratório, de maneira que projetar e desenvolver equipamentos pró-ativamente não é novidade para ele.
Duarte apresentou no evento sua última invenção, um sensor de umidade que é utilizado no sistema de amostragem de gases para análise contínua de composição, impedindo que um eventual problema danifique os instrumentos do laboratório do IPT. “Os equipamentos que utilizamos são complexos e caros e a presença de água nos gases analisados pode comprometê-los. O modelo que criei possui um sensor que aciona o alarme no caso de detecção de umidade nos gases, antes de eles chegarem nos analisadores, alertando a equipe do problema e permitindo sua imediata resolução”, afirma Duarte.
O aparelho, cuja demonstração foi feita para a plateia, já passou por testes práticos com sucesso e foi incorporado à rotina de ensaios da equipe. Equipamento semelhante está disponível no mercado, mas a um custo alto, que gira em torno de R$ 10 mil. Além das horas técnicas de Duarte, o sensor desenvolvido no IPT teve custo da ordem de R$ 50.
RECUPERAÇÃO DE OBRA – Ronecir Cirilo da Cruz dedica-se ao IPT há 40 anos. Integrando a Seção de Engenharia de Estruturas, que trabalha sobretudo em projetos de reabilitação e acompanhamento tecnológico da construção de obras civis, o técnico relatou sua participação em trabalho que o Instituto realizou na década de 90 na sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), localizada na capital amazonense. O edifício, projetado pelos arquitetos Severiano Porto e Mario Emilio Ribeiro e composto por diversas cúpulas piramidais independentes e justapostas, sofreu um grande incêndio, que danificou as estruturas e ocasionou trincas, impregnação de fuligem, destacamento do concreto, exposição de armaduras e surgimento de grandes falhas no concreto que ocorreram durante a construção. O trabalho do IPT consistiu principalmente em avaliar a segurança estrutural do prédio, fornecer assistência técnica para a obra e supervisionar a execução dos trabalhos.
Para cumprir esses objetivos, a equipe do IPT realizou atividades de inspeção detalhada da estrutura para descobrir pontos críticos; escoramento de cúpulas; macaqueamento de cúpulas para recuperação emergencial das cunhas de apoio; monitoramento da movimentação das fissuras; provas de carga e remoção da fuligem de todo o edifício. O grande desafio foi o reposicionamento das cúpulas. “Com o incêndio, as cúpulas se expandiram, empurrando as que estavam nas extremidades e deixando-as em precárias condição de apoio. Uma delas caiu. Com o resfriamento, frestas surgiram entre elas”, explica Cruz.
Para lidar com o problema, a experiência de Cruz na primeira obra ‘empurrada’ no País – um viaduto da Ferrovia do Aço – foi fundamental, pois a mesma técnica foi usada para reposicionar as cúpulas. Ela consiste na confecção de um aparelho de apoio deslizante, feito de PTFE politetrafluoretileno (teflon) sobre aço inox polido e lubrificado com vaselina. Foram utilizadas ainda guias metálicas para conter deslizamentos indesejados. Com esse dispositivo foi possível movimentar as cúpulas de 160 toneladas cada, retornando-as a sua posição original.
Com tantos anos de atividades no IPT, Cruz oferece algumas dicas para os técnicos mais jovens. Para ele, é fundamental para o profissional o conhecimento pleno da capacitação de seu laboratório, além das demais unidades do Instituto, assim como acompanhar todo o trabalho que está sendo desenvolvido, desde o planejamento até a emissão do relatório. “Fazendo isso, o profissional vai aprender mais; há pessoas que só fazem o ensaio, pensando que o pesquisador é quem pode fazer o relatório, mas aí você não conhece o fim e o resultado da sua própria atividade”.
MODELO DE UTILIDADE – O técnico Renato Barros Araujo trabalha no Laboratório de Análises Químicas, atuando na área de plásticos e borrachas. A maior parte dos clientes que atende está interessado na avaliação da performance de seus materiais e na solução para eventuais defeitos dos produtos. Os ensaios são geralmente realizados em uma ‘máquina universal’, que recebe os diferentes corpos de prova e atua de maneira automatizada. Ocorre que muitas vezes as necessidades dos clientes são inusitadas e o equipamento não dispõe de acessórios que permitam a realização do ensaio conforme as normas. Nesses casos, a solução nasce da engenhosidade. “O que queremos é atender as necessidades do cliente. Então trabalhamos em uma série de adaptações de garras da máquina, responsáveis por fixar os corpos de prova de tal maneira que o ensaio possa ser realizado na condição mais próxima a que o produto do cliente estaria durante sua vida útil”, explica Araujo.
Um dos casos apresentados no evento partiu da necessidade do Centro de Tecnologia da Informação, Automação e Mobilidade do IPT, que queria avaliar a força de adesão dos tags rodoviários nos vidros dos automóveis. Como a máquina não oferecia o suporte adequado, a inovação se deu na adaptação do sistema de garras para permitir o ensaio.
No segundo caso, um cliente do segmento automotivo queria testar seu produto quanto à força de adesão do polímero no vidro e no metal. O corpo de prova confeccionado pelo cliente, no entanto, não conseguia ser fixado na máquina. Na impossibilidade de realizar o ensaio, tendo em vista que o vidro escorregava ou quebrava quando preso à máquina, Araujo projetou com a equipe um dispositivo que, atuando como uma garra, permitiu que o cliente não necessitasse mais preparar corpos de prova cortando vidro, mas sim colando o metal diretamente no vidro do automóvel. Funcionando como uma garra de fixar, o novo dispositivo dispensava o corpo de prova convencional e permitia que o cliente utilizasse o próprio vidro usado no automóvel, tornando uma condição experimental mais próxima do real. “A dificuldade encontrada foi uma oportunidade para expandir”, afirma Araujo.
Para a plateia que compareceu ao evento, ficou clara a importância da parceria dos pesquisadores no reconhecimento do trabalho dos técnicos e do espaço para a criatividade. De acordo com Ademar Hakuo Ushima, pesquisador do Laboratório de Engenharia Térmica, “um ponto importante é estimular a criatividade em todos aqui no IPT, não só nos engenheiros e pesquisadores, mas também nos técnicos”. É essa atitude que vai, para ele, resultar numa cultura inovadora.