Nanotecnologia em cosméticos

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Foi concluído o projeto cooperativo de nanoencapsulação de ativos em cosméticos realizado entre o Instituto de Pesquisas Tecnológicos, o Instituto de Tecnologia e Estudos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Itehpec) e as empresas Grupo Boticário, Natura, Theraskin Farmacêutica e Yamá. O projeto teve como resultado o desenvolvimento de duas rotas de nanoencapsulação, que foram utilizadas por cada parceiro, isolada e sigilosamente, no desenvolvimento de um ativo cosmético focal.

Pesquisadora Natália Cerize, do Núcleo de Bionanomanufatura, afirma que projeto traz vantagens a empresas e Instituto
Pesquisadora Natália Cerize, do Núcleo de Bionanomanufatura, afirma que projeto traz vantagens a empresas e Instituto
Desenvolvida com aportes da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), a iniciativa de inovação aberta, que uniu quatro empresas concorrentes para o aperfeiçoamento de produtos com base em uma mesma plataforma de conhecimento, foi estruturada em duas etapas. Na primeira, as rotas de nanoencapsulação desenvolvidas pelos pesquisadores do IPT foram compartilhadas entre os parceiros. Na segunda etapa, as equipes técnicas de cada uma das empresas receberam o atendimento sigiloso e customizado do Instituto para a escolha e desenvolvimento de um ativo cosmético.

Segundo Natália Cerize, pesquisadora do Núcleo de Bionanomanufatura do IPT e coordenadora do projeto, a iniciativa trouxe vantagens tanto ao Instituto quanto às empresas envolvidas. “A parceria trouxe possibilidade de desenvolver plataformas de nanoencapsulação para diferentes ativos, experiência na gestão de projetos com mais de um parceiro envolvido, sendo de um mesmo setor de mercado, e ainda a capacitação de recursos humanos na tecnologia desenvolvida”, explicou.

Diante do sucesso do projeto, que satisfez os parceiros tanto do ponto de vista financeiro quanto de capacitação das equipes (que estarão aptas para a geração de novos produtos a partir de uma mesma plataforma de conhecimento), foi proposto às empresas uma segunda fase de projeto. Nela, seria realizado o escalonamento da tecnologia desenvolvida por cada parceiro na primeira fase e compartilhadas questões de segurança, eficácia e desempenho dos processos entre as empresas.

A expectativa é que, se aceita, a proposta seja estruturada nos mesmos moldes do projeto inicial. Com uma previsão de duração de 21 meses e custo estimado em R$1,5 milhões, a segunda fase também contaria com etapas cooperativas e sigilosas entre os parceiros, e o investimento financeiro seria rateado entre as empresas, o Instituto e a Embrapii.

Além dessa iniciativa, o IPT, com o apoio da articulação do Itehpec junto às empresas do ramo de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, está trabalhando no estabelecimento de uma segunda rodada de projetos baseados no mesmo modelo de negócios. Alguns temas, como a redução do consumo de água e tropicalização de produtos cosméticos, ambos utilizando-se de soluções em nanotecnologia, estão sendo discutidos em diversas reuniões com empresas do setor.

Segundo Marina Kobayashi, gerente de inovação do Itehpec, o foco dessas propostas não está apenas em parceiros que desenvolvam produtos para o consumidor final. “Dentro do âmbito da Embrapii, vimos uma oportunidade positiva para acelerar o processo de inovação da cadeia de empresas de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. E essa cadeia de valor inclui também fabricantes de matérias-primas e embalagens, por exemplo. Há oportunidades para novos projetos”, destacou.

DEPOIMENTOS – Na opinião dos parceiros, a iniciativa junto ao Instituto trouxe muitos ganhos, não só para as empresas em si, como para toda a indústria de cosméticos e a comunidade científica, além de abrir novos horizontes no mercado brasileiro para o desenvolvimento cooperativo. Confira:

“É possível e saudável que concorrentes dividam esforços, conhecimento, custos e riscos em um âmbito pré-competitivo, tendo como meta a inovação. Esta prática potencializa os investimentos em P&D e agrega valor à toda cadeia, tanto para a comunidade científica em geral, como para o setor industrial, por meio de produtos de alta qualidade e tecnologia de ponta incorporada” – Gustavo de Campos Dieamant, gerente de pesquisa tecnológica do Grupo Boticário.

“O modelo de unir novas tecnologias em um projeto cooperativo traz diferentes tipos de ganho. O primeiro é a parte financeira, porque dificilmente uma empresa conseguiria, sozinha, ter um orçamento de quase R$3 milhões. Outro ponto é a velocidade de desenvolvimento e os atores que fizeram parte desse desenvolvimento, que traz um sinergismo muito interessante para a cadeia produtiva” – Marcos Spina, gerente do Núcleo de Especialidades Cosméticas da Natura.

“A Yamá enxerga essa parceria de maneira muito positiva, um primeiro passo para estruturar a inovação na empresa. Agora, temos a liberdade de pegar um ativo já existente e transformá-lo, fazer algo exclusivo, aprimorar a performance desse ativo e trazer melhorias perceptíveis para o consumidor. Enxergamos uma estratégia de inovação que vai diferenciar a empresa dos concorrentes” – Fábio M. Yamamora, diretor administrativo financeiro da Yamá.

“O projeto é ousado, pelo aspecto de ter conseguido colocar as maiores empresas de cosméticos, concorrentes históricas, no mesmo projeto de maneira harmônica, deixando todos satisfeitos. Sobretudo o trabalho do IPT de respeitar os cronogramas e prazos, ganhar a confiança de todos com relação ao sigilo, foi de uma seriedade enorme. Foi uma cooperação mútua, não houve sentimento de competitividade” – Simone Sotto Moyo, consultora externa especializada.

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