Raio-X da galvanoplastia

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As águas residuais dos processos de galvanoplastia devem receber atenção em razão dos elementos presentes em sua composição que podem criar passivos ambientais caso não sejam estocadas e tratadas de maneira adequada. A conclusão está na dissertação defendida no mês de junho pelo químico industrial Vinicius Dantas Cortez no Mestrado Profissional do IPT, em estudo que caracterizou micro e pequenas prestadoras de serviços localizadas na zona leste da cidade de São Paulo, determinou quantitativamente os metais preponderantes em amostras e apontou alternativas para enfrentar o problema.

A galvanoplastia é o processo químico ou eletroquímico de deposição de finas camadas metálicas sobre uma superfície, a fim de proporcionar proteção contra a corrosão e melhorar o aspecto estético em peças de diversos segmentos industriais. Dados apresentados no trabalho apontam a existência somente na zona leste paulistana de aproximadamente 300 micro e pequenas indústrias, que têm como principais clientes montadoras e fabricantes de metais sanitários.

Para o levantamento das informações em seu trabalho, o bolsista-pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) partiu do banco de dados de atendimentos feitos pelo Prumo – Projeto Unidades Móveis do IPT na área de tratamento de superfície. Sob a orientação do pesquisador Luciano Zanella, do Centro Tecnológico do Ambiente Construído do IPT, foram contatadas 20 empresas, das quais 17 concordaram em responder a um questionário para traçar um panorama da atuação socioeconômica, produtiva e ambiental, com foco na geração e no tratamento das águas residuais industriais.

As 17 empresas responderam que possuíam sistemas de tratamento das águas, que é compulsório para a obtenção das licenças ambientais, mas em todas elas a situação era aquém do ideal representando, entre outros aspectos, riscos de contaminação capazes de gerar passivos ambientais expressivos. Apenas três das empresas afirmaram possuir a certificação ISO 9001:2008 e nenhuma delas a ISO 14:001:2004.

Cortez utilzou a infraestrutura do Centro de Metrologia em Química, como o espectrômetro de emissão atômica de plasma, para a execução de análises
Cortez utilzou a infraestrutura do Centro de Metrologia em Química, como o espectrômetro de emissão atômica de plasma, para a execução de análises
ANÁLISES E SOLUÇÕES – As amostras tratadas coletadas nos tanques de armazenagem dos efluentes de duas das 17 empresas foram submetidas a testes no Centro de Metrologia em Química do IPT. A infraestrutura empregada incluiu um espectrômetro de emissão atômica de plasma para a determinação quantitativa de metais, e também a determinação de cromo hexavalente por espectrofotometria de UV-Visível.

As amostras de águas residuais tratadas das duas empresas mostraram concentrações de boro, chumbo, cobre, zinco, níquel e cromo total em desacordo com os valores exigidos no artigo 19A do Decreto 8.468/76, alterado pelo Decreto 15.425/80, da legislação ambiental do Estado de São Paulo.

As alternativas tecnológicas propostas por Cortez para a melhoria no tratamento das águas residuais incluem desde a melhoria operacional nos processos físico-químicos de tratamento atualmente empregados até o uso de um sistema mais avançado de tratamento composto pelo processo tradicional seguido por reator de eletrocoagulação-flotação de alta eficiência combinado com resinas de troca iônica.

Segundo o pesquisador, estudos recentes avaliaram uma série de resinas comerciais para o tratamento de águas contaminadas com cobre e cromo em concentrações na faixa de 20 a 100 mg/L. Os resultados obtidos mostraram uma redução significativa dos íons dos dois metais, atingindo concentrações de até 0,05 mg/L. O manejo das águas residuais nas indústrias de cromação também pode ser melhorado com alternativas tecnologicamente mais simples, como a separação das linhas dos diferentes processos, o que evitaria a mistura de componentes incompatíveis e de difícil remoção.

Em grande parte das empresas, os resíduos sólidos são armazenados com teor de umidade bastante elevado pela falta de uma etapa de tratamento adequada para extração da fase líquida. A remoção de umidade é comumente feita em leitos de secagem improvisados, na maioria das vezes no próprio ambiente fabril. “Embora seja feita a separação do líquido do lodo, os resíduos permanecem com um alto teor de umidade, que pode chegar até 70%. Sua redução traria uma economia às indústrias já que a destinação final dos resíduos sólidos, realizada por empresas especializadas, é paga por peso do material a ser descartado, além da possibilidade de reúso da água para os banhos de deposição e também as lavagens”, completa Cortez.

Outra sugestão proposta para as indústrias é a formalização de um Arranjo Produtivo Local (APL) junto à prefeitura do município de São Paulo, que seria formado pela união de várias empresas. “O aglomerado de empresas não exige número mínimo de participantes, e elas se tornariam mais fortes como grupo para conversar com entidades governamentais e agências de fomento, assim como as negociações com os clientes”, afirma o pesquisador.

A existência de um APL, segundo ele, facilitaria a negociação para o desenvolvimento de uma estação central de tratamento de efluentes dedicada ao setor que permitisse, além do tratamento adequado, a utilização dos resíduos no desenvolvimento de pesquisas para sua utilização. Algumas das alternativas existentes para esse aproveitamento incluem a incorporação em vidros, peças cerâmicas para uso industrial e blocos de concreto para pavimentação.

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