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IPT participa de projeto para tomada de decisão mais rápida no diagnóstico de doenças como dengue, oropouche e febre amarela

Para fortalecer a vigilância epidemiológica e agilizar o atendimento clínico em relação às arboviroses, especialmente em regiões com alta incidência dessas doenças, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) acaba de receber a aprovação de um projeto pelo Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (PDIL) do Ministério da Saúde, que será realizado em parceria com o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM), vinculado à Rede Ebserh, e o Instituto Leônidas & Maria Deane/Fiocruz Amazônia.

O projeto ‘Desenvolvimento de um dispositivo microfluídico point-of-care (POC) capaz de realizar o diagnóstico de múltiplas arboviroses por método molecular’ tem o valor de captação estimado em R$ 12,9 milhões e está direcionado às doenças virais transmitidas principalmente por artrópodes, como mosquitos e carrapatos, que têm como exemplos mais conhecidos a dengue, a Zika, a Chikungunya, a febre oropouche e a febre amarela.

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IPT é o proponente e o executor das etapas que abrangem a miniaturização e a otimização do protótipo para formato microfluídico; a integração do chip a um dispositivo eletrônico portátil; a avaliação de usabilidade em campo; e o plano para transferência de tecnologia e produção nacional em escala

O IPT é o proponente e o executor das etapas que abrangem a miniaturização e a otimização do protótipo para formato microfluídico; a integração do chip a um dispositivo eletrônico portátil; a avaliação de usabilidade em campo; e o plano para transferência de tecnologia e produção nacional em escala.

Para a execução destes trabalhos, uma equipe interdisciplinar do IPT estará envolvida: o Laboratório de Micromanufatura possui expertise para o desenvolvimento microfluídico, com experiência consolidada em projeto, fabricação e caracterização de dispositivos, e infraestrutura dedicada (sala limpa, microusinagem, laser e impressão 3D), enquanto o Laboratório de Biotecnologia Industrial vai apoiar com sua infraestrutura os ensaios envolvendo biologia molecular e biossensores para a detecção no chip. Finalmente, o Núcleo de Tecnologias Avançadas para Bem-Estar e Saúde Aplicados às Ciências da Vida (Nutabes) vai participar da gestão do projeto e será o local de montagem da estrutura fabril e produção do lote final de dispositivos que serão destinados ao Ministério da Saúde.

O Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro fornecerá a infraestrutura e a expertise clínica para a avaliação de desempenho em campo do dispositivo em operação, próximo às condições reais de operação no SUS, enquanto o Instituto Leônidas & Maria Deane/Fiocruz irá apoiar no desenvolvimento dos biossensores, métodos de amplificação e detecção, e também será o responsável pelo teste do dispositivo com amostras de paciente em ambiente laboratorial controlado e comparação com métodos padrão-ouro, ou seja, atividades de ensaio e validação em campo.

“Este projeto é um passo importante para fortalecer a soberania tecnológica do Brasil e contribuir para a construção de um sistema de saúde mais moderno e sustentável” enfatiza a gerente do Nutabes do IPT, Helena Corrêa de Araújo Gomes. “Com o aquecimento global, a tendência é de que aumentem os casos de muitas das febres transmitidas por mosquitos, e vírus que antes eram pouco comuns, como o Oropouche, vão começar a reaparecer, como aconteceu em 2024 no Brasil, quando tivemos mais de 13 mil casos”, completa o pesquisador André Guilherme da Costa Martins, do Laboratório de Micromanufatura do IPT.

POINT-OF-CARE – Tecnologias Point-of-Care (POC), ou testes no ponto de atendimento, são métodos diagnósticos realizados em proximidade ao paciente, seja no leito, em ambulatórios ou em unidades de saúde, em vez de em um laboratório central. O seu objetivo principal é reduzir o tempo de resposta, pois elimina a necessidade de transporte de amostras e o processamento centralizado. Isso possibilita uma tomada de decisão clínica mais rápida.

Pelo fato de serem realizados fora do ambiente laboratorial tradicional, os testes POC devem seguir uma rigorosa governança de qualidade, que inclui treinamento de operadores, controle de qualidade e documentação adequada, conforme preconizam organizações de saúde. Quando bem implementado, o sistema POC otimiza o fluxo de atendimento e contribui para a melhoria dos desfechos clínicos.

O dispositivo a ser desenvolvido no projeto tem justamente como objetivo diagnosticar múltiplas arboviroses diretamente no ponto de atendimento, com operação simples e incubação controlada por módulo eletrônico portátil. “Esse arranjo reduz tempo de resposta, descentraliza o acesso e favorece a vigilância em tempo real. Além disso, a miniaturização diminui o consumo de reagentes e possibilita realização de múltiplos testes em um único chip, o que aprimora o diagnóstico diferencial e a detecção de coinfecções”, afirma Martins. Em comparação, soluções atuais, como sorologia e testes rápidos de antígeno, sofrem com reações cruzadas e sensibilidade variável na fase aguda.

Os principais desafios do projeto concentram-se em alcançar sensibilidade e especificidade com baixa reação cruzada em um arranjo de detecção combinada; cumprir requisitos regulatórios e de validação clínica para incorporação no SUS; escalar a produção com garantia de qualidade e realizar testes em ambiente operacional representativo, e posicionar o produto em um mercado POC em evolução.

“A aprovação desse projeto mostra a força da construção de redes para o avanço da ciência e do SUS”, declara a superintendente do HC-UFTM e pesquisadora do projeto, Luciana de Almeida Silva Teixeira. O coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do Instituto Leônidas & Maria Deane, Luis André Morais Mariúba, destaca a importância da parceria entre as instituições, tratando-se de um passo importante na construção de soluções tecnológicas voltadas ao diagnóstico de doenças relevantes para o Sistema Único de Saúde: “O caminho até a aplicação prática é desafiador, mas acredito que a união de conhecimentos entre as instituições cria um grupo de trabalho com capacidade técnico-científica robusta”.

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