Ceras mais limpas para o surf

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As ceras para pranchas de surf e de outros esportes aquáticos, usadas para aumentar o equilíbrio dos atletas, são fabricadas tradicionalmente a partir de parafinas de petróleo que, por serem de origem fóssil e não renovável, acabam por gerar poluição e afetar o ecossistema marinho. Novas alternativas são buscadas continuamente para desenvolver processos e produtos ambientalmente mais adequados, e as ceras de origem animal ou vegetal, por exemplo, se degradam mais facilmente em comparação às petroquímicas.

A partir da premissa de oferecer um produto de menor impacto ambiental, o microempresário Alexandre Bruno, proprietário da empresa Parafinaria, decidiu iniciar a fabricação de ceras no Brasil e buscou o apoio do programa Produção Mais Limpa (Prolimp) do IPT para desenvolver formulações com matérias-primas nacionais renováveis e menos agressivas ao meio ambiente.
Cinco formulações de cera base, de cera para pranchas de <em>stand-up paddle</em> e das chamadas <em>top coats</em> para uso em águas de temperaturas fria, morna e quente foram desenvolvidas no laboratório do IPT” class=”wp-image-41889″ width=”323″/><figcaption class=Cinco formulações de cera base, de cera para pranchas de stand-up paddle e das chamadas top coats para uso em águas de temperaturas fria, morna e quente foram desenvolvidas no laboratório do IPT
“Embora soubesse da existência de \’receitas\’ em sites na internet, solicitei o desenvolvimento de soluções com composições específicas para diversas aplicações, pois as parafinas diferem em ingredientes e consistência de acordo com a temperatura da água em que os esportes são praticados”, explica ele, que começou o seu negócio importando ceras à base de cera de abelha para vender no mercado nacional.

A viabilização do suporte financeiro ao microempresário para o projeto foi feita por intermédio do Núcleo de Atendimento Tecnológico à Micro e Pequena Empresa do IPT, com recursos disponibilizados pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação de São Paulo, e o desenvolvimento técnico esteve a cargo de dois pesquisadores do Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas, Guilherme Carmelo Ungar e Silas Derenzo, e da estagiária Larissa Ribeiro Leite de Araújo.

“Nem sempre o conceito de produção mais limpa é interpretado corretamente pelas empresas e acaba por ficar em um segundo plano”, explica a diretora do núcleo do IPT, Mari Katayama. “Trata-se de uma ação voltada principalmente à eficiência de uso de matéria-prima, energia, água e insumos para minimizar os impactos ambientais de processos, produtos e serviços, além de buscar a geração de uma menor quantidade de resíduos e ter maior controle sobre os mesmos”.

PARCERIA PARA AS FORMULAÇÕES – Como não existem parâmetros técnicos padronizados no Brasil e no mundo para o desenvolvimento das ceras usadas em esportes aquáticos, o trabalho foi feito em uma parceria com o empresário, que também é surfista praticante. Foram criadas em um período de quatro meses cinco formulações de cera base (mais dura, para a aplicação direta na superfície da prancha), cera para pranchas de stand-up paddle – uma opção para substituir o deck (antiderrapante) de borracha, que normalmente é usado para remadas no mar sem ondas – e as chamadas top coats (ceras de topo) para uso em águas de temperaturas fria, morna e quente – as três últimas são usualmente aplicadas sobre a camada de cera base.

“As formulações envolveram uma grande proporção de produtos naturais em sua composição, de degradação muito mais rápida que os derivados de petróleo normalmente empregados”, afirma Derenzo, explicando que todas tiveram como principais componentes a cera de abelha e uma resina vegetal de colofônia.

O empresário forneceu uma prancha de surf para que o IPT realizasse em laboratório os testes de aplicação das formulações desenvolvidas. “Fizemos ensaios com uma cera de referência, que é importada, e também com as desenvolvidas por nós no calorímetro diferencial de varredura para obter informações sobre as temperaturas de fusão do material a fim de acertar as proporções dos componentes, pois cada um deles se funde a um determinado grau”, explica Ungar. “Em seguida, usamos a prancha para os ensaios empíricos: aplicávamos a cera importada e as nossas formulações para avaliar a aderência e a formação das placas, os chamados bumps. Além disso, realizamos ensaios de dureza de comparação do produto importado e aqueles do laboratório”. As formulações que apresentavam melhor desempenho nos testes eram então testadas em campo – ou melhor, na praia – por Bruno.

Uma patente foi depositada no mês de julho em conjunto com o cliente e os produtos já estão disponíveis para os consumidores, inicialmente para o mercado interno. “Pelo fato de as ceras serem um produto de baixo valor agregado, não teria sido possível desenvolver as fórmulas sem o apoio de uma instituição como o IPT. Nosso interesse sempre foi desenvolver um produto ecológico, mas não adiantaria nada se ele não tivesse qualidade e nem ajudasse no desempenho do atleta”, completa Bruno.


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