Têxteis esportivos

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Conforto, desempenho, qualidade e tecnologia. Essas são as palavras-chave utilizadas pela pesquisadora Rayana Santiago de Queiroz, do Laboratório de Tecnologia Têxtil do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, para definir como uniformes e calçados podem impactar atletas durante a atividade física e em que se baseiam as novas tendências têxteis do mundo esportivo, que mesclam tecnologia têxtil à biotecnologia e à TI.

Através de testes e equipamentos para a avaliação da condutividade térmica do tecido, pesquisadores do IPT avaliam o conforto termo-fisiológico das vestimentas, característica diretamente ligada ao desempenho do atleta. “É possível observar se o tecido transfere mais ou menos calor, se essa transferência é rápida ou lenta, e também a permeabilidade ao vapor d’água. Analisamos se o material retém a transpiração ou se permite que o suor seja transferido do corpo para o ambiente, diminuindo a umidade. Quando o desempenho térmico melhora, a fadiga do atleta é reduzida”, explica. Características como maciez, extensibilidade e rigidez também podem ser avaliadas a fim de explorar os benefícios ou desvantagens ao desempenho esportivo.

Camiseta do Brasil de 1978 mostra evolução dos tecidos esportivos, que migraram do algodão para as fibras sintéticas
Camiseta do Brasil de 1978 mostra evolução dos tecidos esportivos, que migraram do algodão para as fibras sintéticas
Para ilustrar como o desenvolvimento da tecnologia têxtil pode impactar a atividade prática do atleta, Rayana cita um estudo do IPT, ainda não concluído, que tem como objetivo caracterizar ao longo do tempo a evolução dos materiais e do conforto térmico em camisas de equipes de futebol brasileiro. Para o projeto, foram utilizadas camisas de colecionadores, de vários times e épocas diferentes, para compará-las às atuais e entender o trabalho das confecções na sinergia entre conforto e desempenho do atleta.

O material mais usado antigamente era o algodão, compondo uma malha grossa e pesada. Como o algodão também absorve a umidade, a camisa ficava ainda mais pesada durante a atividade física do jogador. Com o tempo, as camisas passaram a ficar mais leves, sendo produzidas com fibras sintéticas, principalmente a poliamida. Essas fibras são mais maleáveis, flexíveis e resistentes, mas são também conhecidas por serem termicamente mais desconfortáveis, uma vez que isolam o calor e não transferem a umidade do corpo para o ambiente.

Para superar esse obstáculo, os fabricantes de material esportivo passaram a trabalhar na estrutura das camisetas. “As camisas de hoje são construídas a partir de tecidos com estruturas diferenciadas, sobretudo na região lateral da camisa, em que a malha é mais aberta, permitindo que o vapor d’água saia do corpo para o ambiente. Assim, a baixa condutividade térmica e a permeabilidade ao vapor d’água são compensados, deixando a camisa mais leve e confortável”, explica a pesquisadora.



Outro componente importante para a performance do atleta no esporte são os calçados. A Asics, empresa responsável pelo design e desenvolvimento de uniformes e calçados para atletas brasileiros de modalidades como tênis, handebol, vôlei e atletismo na Olimpíada de Londres (2012), estudou todas as articulações dos pés e calcanhares durante a atividade física. A empresa criou modelos leves, com camadas de gel para diminuir o impacto com o solo e prevenir lesões.

O Laboratório de Tecnologia Têxtil do IPT pode fazer os mesmos ensaios de conforto termo-fisiólogico desenvolvidos para as roupas em calçados, mas também pode realizar ensaios mais simples de caracterização, como composição, gramatura do material e resistência. O Laboratório de Calçados e Produtos de Proteção do IPT, localizado em Franca, realiza ainda ensaios relacionados à durabilidade e ao desempenho dos calçados, como testes de flexão, fadiga do solado e abrasão.

A FAVOR DO ATLETA – A tecnologia foi e ainda é fundamental para a evolução do papel dos materiais esportivos no desempenho do atleta. Hoje, segundo Rayana, a tendência é que esses materiais, especialmente os uniformes, sejam ‘híbridos’, ou seja, que abranjam outras áreas tecnológicas que não só a têxtil, como a biotecnologia e a tecnologia da informação.

Um exemplo é uma vestimenta desenvolvida por um grupo de pesquisadores do Instituto de Pesquisas de Massachusetts (MIT) chamada ‘Biologic’. No projeto, cientistas descobriram que a bactéria Bacillus subtilis reage mudando de tamanho de acordo com a umidade do ambiente em que vive. Os microorganismos foram utilizados num sistema de bioimpressão nos tecidos para que, em contato com o suor do usuário, elas pudessem abrir pequenas aletas (espécie de escamas presentes no tecido), facilitando a liberação do calor do corpo para o ambiente.

A pesquisadora explica que é possível trabalhar tanto nos testes de uniformes com a tecnologia aplicada quanto no desenvolvimento de novas tecnologias semelhantes. “Aqui no IPT podemos partir do desenvolvimento da estrutura dos materiais, na composição das fibras, de maneira que seja possível trabalhar sinergicamente com outras competências do Instituto, como as desenvolvidas no Núcleo de Bionanotecnologia. Podemos também desenvolver novos acabamentos, otimizando a absorção da umidade ou a transferência de calor, por exemplo”, pondera.

A tecnologia da informação também tem sido o foco no desenvolvimento de vestimentas esportivas. A marca americana Athos, que estará presente nas telecomunicações dos Jogos do Rio em 2016, lançou recentemente roupas que coletam dados sobre a performance do atleta. Doze sensores diferentes em cada peça captam dados sobre batimentos cardíacos, frequência respiratória e exigência muscular, enviando-os via bluetooth a um smartphone. Quem também inovou foi a empresa francesa Cityzen Scienses, que criou uma camiseta chamada ‘D-shirt’, leve, lavável e com GPS, monitor de frequência cardíaca, acelerômetro e altímetro. A ideia é que a D-shirt inclua no futuro sensores de calor, respiração e também transpiração.

“Acredito que essas roupas estejam sendo desenvolvidas para atletas, para acompanhar o seu desempenho. E isso instiga o desenvolvimento de novos tecidos também. É a associação de tecnologia têxtil com biotecnologia, TI e até mesmo a microeletrônica”, finaliza Rayana.
 

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