No dia 6 de setembro realizou-se no Instituto de Pesquisas Tecnológicas uma reunião de trabalho de representantes de Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) que integram o projeto-piloto – IPT, Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia do Senai – com a diretoria da Embrapii, Empresa Brasileira para Pesquisa e Inovação Industrial, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O objetivo do encontro foi apresentar o estágio atual dos trabalhos e as instalações laboratoriais em que se desenvolvem. Ao final, o presidente da Embrapii, João Fernando Gomes de Oliveira, comentou os resultados e fez algumas projeções.
Gomes de Oliveira, à cabeceira da mesa, na reunião ocorrida no IPT: "Não é um exagero dizer que estamos aprendendo a inovar neste momento, mas na verdade estamos aprendendo como gerir um novo sistema de inovação mais ágil e flexível, compatível com nossa história"
Para Oliveira, o primeiro objetivo da reunião foi conhecer os projetos do IPT e verificar in loco a maneira como estão sendo desenvolvidos. “Recebemos informações sobre equipes, cronograma de execução e objetivos, que permitiram fazer um ‘raio-X’ do perfil desses projetos. Pudemos ver que muitos deles são interessantes, apesar da maioria ainda estar no começo. O desafio será a entrega no prazo.” O segundo foi discutir como será o acompanhamento de projetos no sistema Embrapii. “Tivemos uma apresentação do professor Daniel Capaldo Amaral, da USP de São Carlos, que é especialista em gestão ágil de projetos, uma nova metodologia usada pelas empresas principalmente na área de pesquisa e desenvolvimento. Trata-se de um novo sistema que inverte a lógica da gestão tradicional. A gestão ágil funciona como um jogo de rugby, em que todos precisam empurrar a bola para frente com objetivo de fazer o melhor possível com o tempo e recurso disponível.”
PLANEJAMENTO – A avaliação da maneira como as unidades da Embrapii estão gerindo seus projetos, segundo Oliveira, é relevante para definir e implantar um sistema comum para todas as unidades: “Pretendemos ter 20 unidades da Embrapii até 2017 e, para as contratações, haverá um manual para acompanhar suas tarefas, liberando os recursos conforme o desenvolvimento dos projetos. Estamos em uma etapa em que aprendemos ser possível contratar muitos projetos, e temos de assegurar que sejam bem-finalizados”.
A presidente Dilma Rousseff assinou o decreto de estruturação da Organização Social, informou Oliveira. “Estamos agora na discussão final dos indicadores, orçamento detalhado para 2014/2015 e termos do contrato de gestão. Fazemos diversas reuniões com os ministérios envolvidos (MCTI e MEC) e, em aproximadamente um mês, esperamos ter um contrato de gestão assinado e os recursos para começar a operar. Pretendemos lançar um edital em dezembro para captar novas unidades da Embrapii, e esperamos contar com mais seis que irão se juntar às três do projeto-piloto.”
Como foram de maneira geral bem-sucedidas, as três ICTs iniciais deverão se transformar em unidades Embrapii. “Juntamente ao edital, a expectativa é que no início de 2014 consigamos resolver também a continuidade das unidades existentes. Iremos planejar dali para frente com uma nova estrutura administrativa, que não será mais CNI/Finep, e sim Embrapii. É como vamos pactuar com elas o futuro e as metas, de maneira que não haja interrupções e sempre recursos para continuar. Não é um exagero dizer que estamos aprendendo a inovar neste momento, mas na verdade estamos aprendendo como gerir um novo sistema de inovação mais ágil e flexível, compatível com a nossa história. Estamos procurando fazer com que o apoio institucional crie um melhor caminho para todos serem geridos de maneira mais uniforme.”
GESTÃO – “As unidades da Embrapii – diz Oliveira – não vão receber dinheiro por projeto, mas por um plano de ação que por sua vez é constituído de projetos. Sua responsabilidade será de captar projetos e este é um paradigma novo no Brasil. Haverá dinheiro e capacidade de assinar um contrato em menos de 15 dias com a devida liberdade, desde que o contrato esteja inserido em um escopo de atuação, com estratégia pré-definida, maior agilidade e acompanhamento preciso para manter o apoio, mediante o cumprimento da responsabilidade assumida.”
Há cinco anos o IPT faturava cerca de R$ 7 milhões por ano em projetos de pesquisa e desenvolvimento para inovação. Hoje, só no escopo da Embrapii, ele tem R$ 23,9 milhões, sem contar os projetos tradicionais, relembra Oliveira. “Isto representa mais de um terço do faturamento anual, que subiu de 10% para 30%. É um salto, uma mudança de paradigma. Você conversa com os pesquisadores da área de concreto e eles falam que, anteriormente, os equipamentos faziam testes de amostras para obras; atualmente, eles estão dedicados a testar novas fórmulas. Antes, os laboratórios testavam a qualidade dos produtos do mercado, agora irão testar a qualidade de novos produtos que os pesquisadores irão desenvolver. As três empresas do projeto-piloto também tiveram um upgrade. Elas se comprometem com um plano e serão credenciadas caso o plano seja interessante. Depois elas terão que cumpri-lo, pois disso dependerá toda a avaliação e a continuidade dos trabalhos.”
PEQUENAS EMPRESAS – A Embrapii, segundo Oliveira, irá atender a qualquer tipo de empresa e chama a atenção para dois pontos importantes. “A CNI publicou um documento sobre inovação na cadeia. Quando uma empresa desenvolve inovação, ela movimenta toda a cadeia. Um produto novo envolve tecnologia nova, novos fornecimentos e capacitações dos pequenos e médios que são supridores da cadeia; mesmo que se faça inovação na grande empresa, ela irá impactar a pequena”.
Pequena empresa e inovação estão muito próximas na análise feita por Oliveira. “Ela só irá prosperar no mercado se tiver um diferencial na gestão, na estratégia, no preço ou no produto, entre outros. Mas se precisar de apoio de uma ICT e puder pagar um terço da conta, poderá usar a Embrapii. Hoje temos uma cobrança de execução financeira: as ICTs acabam procurando grandes clientes, pois uma única negociação envolve uma grande execução. É uma tendência inicial, mas, para efeito de comparação, os Institutos Fraunhofer da Alemanha estão sempre buscando grandes contratos. É mais racional gerenciar um ‘pacotão’ do que diversos ‘pacotinhos’ de projetos. De qualquer forma, temos o Sibratec (Sistema Brasileiro de Tecnologia) que é um programa federal e conta com uma rede de universidades, com fomento da Finep praticamente pré-definido, ficando sob a gestão da rede, para gerenciar projetos menores das pequenas e médias empresas. Uma possível diminuição da contrapartida para as pequenas empresas está sendo discutida e existem posições controvertidas, inclusive do ponto de vista legal quanto ao princípio da isonomia.”
PAPEL DO IPT – Segundo Flavia Motta, coordenadora de Planejamento e Negócios, esta reunião foi particularmente importante. “Pudemos mostrar à diretoria da Embrapii o desenvolvimento dos nossos trabalhos, a dinâmica das esquipes envolvidas, dos laboratórios e o desenvolvimento dos projetos na prática. Foi possível visualizar nas capacitações de diversos laboratórios, atuando em diferentes áreas, a multidisciplinaridade do IPT em ação. Os diretores viram tudo isso de perto.”
Os representantes da Embrapii e das demais ICTs visitaram e conheceram os laboratórios de metalurgia, construção civil, estruturas leves, biotecnologia, partículas e microtecnologia do IPT. “Todos eles – explicou Flavia – estão envolvidos nos projetos em andamento da fase piloto da Embrapii. Também fizemos um workshop sobre ‘valoração de tecnologia’ com os profissionais das ICTs, apresentando a metodologia utilizada pelo IPT nas negociações com seus clientes, envolvendo aspectos como o pagamento pelo licenciamento de tecnologia.”