Em busca do conhecimento

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O contato com outras realidades, culturas e metodologias constitui uma experiência profissional e pessoal que repercute na carreira de um pesquisador. As novas referências, reflexões e ideias adquiridas e geradas a partir da vivência em outro país estimulam a atualização e o aprimoramento de sua instituição de origem. Para estímulo e capacitação de seu corpo técnico o IPT lançou, em 2008, o Programa de Desenvolvimento e Capacitação no Exterior (PDCE). Financiado pela Fundação de Apoio ao IPT (FIPT), o PDCE tem por objetivo enviar pesquisadores para aprimoramento, por um período de quatro a oito meses, nas áreas de atuação e de interesse do Instituto.

Caroline (à dir.) esteve na Indonésia durante cinco meses para estudar emissões, estoques de carbono e manejo sustentável de florestas
Caroline (à dir.) esteve na Indonésia durante cinco meses para estudar emissões, estoques de carbono e manejo sustentável de florestas
Até dezembro de 2011, um total de 30 pesquisadores participou do PDCE em 26 organizações – entre elas, institutos de pesquisa, universidades e empresas – em dez países, trazendo para o IPT os mais avançados conhecimentos tecnológicos do mundo. Foram cumpridos programas nos mais diversos campos da tecnologia, em países como Japão (Railway Technical Research Institute, Yokohama National University), Alemanha (Fraunhofer, Werth), Espanha (Centro de Investigaciones Biológicas), Inglaterra (Imperial College London, University of East Anglia) e EUA (University of Colorado, NIST), entre outros.

A FIPT fornece ajuda de custo aos treinamentos, cursos e estágios, baseada nas referências do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Também custeia despesas de viagem para o pesquisador e seus dependentes, auxílio-estadia, seguro-saúde e auxílio instalação – proporcionando mais equilíbrio, qualidade de vida e segurança ao pesquisador, que pode concentrar-se em suas atividades.

O vínculo empregatício do pesquisador é mantido, garantindo seu salário mensal e outras vantagens estabelecidas em lei. "O PDCE foi uma injeção de estímulo para meu trabalho. Para ser competitivo, o pesquisador precisa continuar estudando e, sem o IPT, eu não teria uma oportunidade como essa", afirma Sandra Lúcia de Moraes, pesquisadora do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas, que atuou como visiting research scholar na Michigan Technological University, dos Estados Unidos, e trouxe conhecimentos avançados na área de tratamento de resíduos sólidos.

Experiências como a de Sandra vêm contribuindo para ampliar a rede de contatos e parceiros do Instituto e apoiar a transferência de conhecimento e tecnologia com instituições de ponta em áreas estratégicas do conhecimento. O participante do PDCE contribui ainda para aprimorar as competências instaladas e aplicadas no IPT, com melhora contínua da qualidade dos processos, produtos e projetos.

A pesquisadora Bruna Beatriz Petreca participou do PDCE para que o Laboratório de Têxteis e Confecções pudesse capacitar recursos humanos na área de conforto dos têxteis, simultaneamente ao investimento em equipamentos pelo projeto de modernização do IPT. Petreca fez estágio de seis meses como pesquisadora visitante do projeto “Digital Sensoria: design through digital perceptual experiences”, conduzido pela Brunel University em parceria com quatro outras instituições britânicas (University of the Arts London, Heriot-Watt University, University College London e Imperial College London).

O projeto busca estabelecer uma linguagem pela qual os consumidores possam comunicar suas percepções sensoriais digitalmente em relação a produtos têxteis no ambiente de e-commerce: uma transposição da experiência de um produto da forma analógica para a virtual. “Interessa a possibilidade de integrar o conhecimento adquirido no PDCE às atividades do laboratório, buscando relacionar os aprendizados e a experiência àqueles em desenvolvimento na área de conforto.”

PRINCIPAIS DESTINOS – O principal anfitrião dos participantes do PDCE, por ora, é a Alemanha. Fraunhofer, o maior instituto europeu de pesquisas, recebeu quatro participantes até 2011. “Em meu estágio no Fraunhofer IZFP-D, em Dresden, tive contato com aplicações relacionadas a geradores eólicos e aviões que são realidade em grande escala na Europa, por exemplo, e estão emergindo no Brasil”, observa o físico João Carlos Sávio Cordeiro, do Laboratório de Equipamentos Mecânicos e Estruturas.

Para ampliar a capacitação do Laboratório de Materiais de Construção Civil com técnicas mais modernas de quantificação por difração de raios-X e de análises térmicas, o pesquisador Mario Sergio Guilge embarcou para a cidade alemã de Halle. Na Universidade Martin-Luther, ele estudou a tecnologia para a melhoria do desempenho de cimentos tradicionais e dos cimentos especiais produzidos a partir de reciclagem de resíduos de construção. Paralelamente, desenvolveu uma dissertação de mestrado com orientação do Prof. Dr. Herbert Pöllmann, que também foi seu avaliador e esteve no IPT em setembro deste ano. “Sua vinda ao Brasil se desdobrou em uma parceria com o Instituto e em um workshop voltado para discussões sobre sustentabilidade na cadeia produtiva de materiais de construção e para o uso de novas técnicas analíticas nos estudos destes materiais”.

O PDCE também envia pesquisadores a empresas. Foi o caso de Douglas Mamoru Yamanaka e Diogo César Borges Silva, do Laboratório de Metrologia Mecânica, com estágios na empresa alemã Werth, uma das maiores em tecnologia de medição dimensional. Iniciou-se então uma parceria entre IPT e Werth, que doou ao Instituto duas máquinas de medição por coordenadas e de sensores de medição em troca de suporte ao desenvolvimento de técnicas de medição que envolvam esses equipamentos. Com a parceria, “o IPT passa a ser peça fundamental no processo de desenvolvimento de técnicas de medição que representam o que há de mais moderno neste setor”, ressalta Diogo.

O segundo destino mais procurado pelos participantes do PDCE desde 2008 é Portugal. Centro de excelência e referência para a comunidade europeia e África em construção civil, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa, já recebeu quatro pesquisadores do IPT pelo Programa. Foi o caso de Priscila Menezes, do Laboratório de Materiais de Construção Civil. “Em meu estágio avaliamos as características microestruturais de agregados portugueses e angolanos e analisamos fortificações e edificações antigas desde o século I ao XVII. O conhecimento obtido auxiliará na conscientização da necessidade de estudos de preservação do patrimônio construído, uma vez que no Brasil estes estudos ainda são escassos”, relata a pesquisadora.

O terceiro destino mais procurado são os Estados Unidos. Olga Satomi Yoshida, da Seção Macro e Micro Medição de Utilidades do IPT, desenvolveu projeto de pós-doutorado na Faculdade de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade do Colorado, em Boulder. “A possibilidade de realizar um treinamento no exterior foi um grande estímulo do IPT. Além do crescimento profissional, a experiência de vida em outra cultura e num país desenvolvido é ímpar”, disse a pesquisadora, que estudou por oito meses um modelo bayesiano para quantificar os riscos de não-potabilidade da água distribuída para consumo humano na região metropolitana de São Paulo. Em 2012, pelo menos mais um pesquisador do IPT participará do PDCE na Universidade do Colorado.

Alessandra Corsi, pesquisadora do Laboratório de Riscos Ambientais, viajou para os Estados Unidos em janeiro de 2010 para um treinamento no U.S. Geological Survey (USGS). Participou durante seis meses do grupo Western Geographic Science Center no projeto ARkStorm, que elabora cenário para evento de chuva extrema com inundações. O projeto envolveu a participação do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), Scripps Institute of Oceanography, California Geological Survey, Universidade do Colorado, National Center for Atmospheric Research (NCAR) e outras organizações. “Foi interessante conhecer a metodologia de organização de trabalho do grupo e ter contato com a dinâmica de desenvolvimento dos diversos estudos e a transferência de dados, além das discussões sobre a coerência dos cenários sugeridos e os impactos resultantes.”

Thiago Cobu, pesquisador do Laboratório de Vazão, realizou em 2010 um treinamento com duração de seis meses no National Institute of Standards and Technology (NIST), em Maryland, nos EUA. Durante o período, Cobu participou de uma pesquisa em conjunto com pesquisadores do NIST sobre a modelagem de vazão de gás em medidores do tipo laminar utilizando gases de processo e operou um padrão de vazão de gás tipo PVTt (pressão, volume, temperatura e tempo) para a montagem e operação de um sistema similar no IPT. A pesquisa resultou em um artigo que foi apresentado no mais importante evento na área de medição de vazão, o 15th International Flow Measurement Conference – Flomeko 2010, realizado em Taipei (Taiwan), e foi o melhor avaliado pelos participantes da conferência. A premiação foi a publicação do artigo no Journal of Flow Measurement Instrumentation.

DO OUTRO LADO DO MUNDO – A fim de desenvolver uma pesquisa na área de avaliação da sustentabilidade de sistemas florestais produtivos, Caroline Almeida Souza, pesquisadora da Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais, participou do PDCE de novembro de 2010 a abril de 2011, como pesquisadora-visitante no World Agroforestry Centre (ICRAF), na Indonésia. O objetivo foi desenvolver a pesquisa “Sistemas florestais produtivos como opções para compor estratégias de REDD+” (sigla em inglês que significa: redução de emissões por desmatamento e degradação, incluindo o papel da conservação, do manejo sustentável das florestas e do aumento dos estoques de carbono das florestas em países em desenvolvimento). O tema foi introduzido em projeto da FAPESP-Vale sobre recuperação de áreas degradadas de mineração, associando técnicas de bioengenharia de solos com a geração e manutenção de serviços ambientais.

Mesmo com a diferença cultural, Caroline comenta que foi um privilégio participar do PDCE. Com mestrado em Economia Ecológica na University of Edinburgh (Reino Unido), a pesquisadora acredita que essa experiência no exterior a ajudará a desenvolver tema para seu doutorado. Caroline ainda participou de palestras e workshops e ministrou uma palestra sobre manejo florestal no Brasil, para que os indonésios e demais pesquisadores conhecessem a realidade brasileira.

Também do outro lado do mundo, Claudio Massumi Oda Nishimura, do Laboratório de Equipamentos Mecânicos e Estruturas realizou, no Japão, ensaios mecânicos e modelagem de trens de alta velocidade. Com isso o IPT se fortalece como um dos braços tecnológicos para a transferência de tecnologia no desenvolvimento e instalação desse tipo de transporte no Brasil. Também no Japão, Adriano Axel Pliopas, do Laboratório de Hidrodinâmica, capacitou-se pela Yokohama National University na análise de comportamento em ondas e obtenção de derivadas hidrodinâmicas de manobras de embarcações e de manobras com modelo livre, o que permitirá ao IPT a realização de trabalhos nestas áreas estratégicas da engenharia naval em meio fluvial, oceânico e offshore. Esta pesquisa de Pioplas continua, desde de dezembro de 2011, no renomado instituto de engenharia naval italiano INSEAN, em Roma, também com apoio do PDCE.

Assim como Pioplas, a pesquisadora Sofia Julia Alves Campos, do Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental, dividiu seus oito meses do PDCE entre dois países: em Portugal, no Instituto Superior Técnico de Lisboa, e em Postdam, Alemanha, no GeoForschungsZentrum – GFZ, nos quais desenvolveu modelagem matemática de águas superficiais para previsão de impactos ambientais associados a grandes obras de engenharia e mudanças climáticas.

EXPERIÊNCIA NÓRDICA – O norte da Europa concentra alguns dos países mais inovadores do mundo, além de instituições de pesquisa que são referências de vanguarda em suas áreas. O PDCE proporcionou a duas pesquisadoras do IPT que conhecessem de perto essa realidade, na Finlândia e na Noruega.

Rosa Mitiko Saito Matsubara, do Laboratório de Biotecnologia Industrial, esteve em 2011 por sete meses na Norwegian University of Science and Technology (NTNU), localizada em Trondheim, que é conhecida como a “Cidade do Conhecimento”. O objetivo era adquirir capacitação técnica na área de metabolômica de linhagens de interesse industrial. “Este treinamento tem sido um ponto chave para dar início à capacitação da equipe em uma tecnologia emergente e fundamental para o desenvolvimento acelerado das pesquisas de inovação biotecnológica no País e firmar projetos de cooperação entre o IPT e centros de excelência da Europa”, avalia Rosa.

De outubro de 2010 a março de 2011, Patrícia Kaji Yasumura Sasaki, do Laboratório de Papel e Celulose, esteve em Espoo, na Finlândia, para uma capacitação no VTT Technical Research Centre. Trata-se da maior organização multitecnológica de pesquisa aplicada do norte da Europa e uma das mais conceituadas instituições de pesquisa na área de celulose e papel. Patrícia participou de projeto de pesquisa voltado à obtenção de nova competência em absorção de líquidos, por meio do estudo de absorção em papéis, principalmente aqueles voltados à impressão inkjet. “O treinamento possibilitou a experiência de vivenciar o dia a dia de uma instituição europeia multidisciplinar, de estrutura e atuação semelhantes às do IPT, além de permitir ao nosso laboratório ampliar e sofisticar os serviços tecnológicos prestados em fabricação de papel e gráfica”, conclui Patrícia.

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