De geração para geração

Compartilhe:
Trocar e compartilhar são gestos muitas vezes associados ao universo feminino. No Centro Tecnológico do Ambiente Construído do IPT, essa máxima parece prevalecer. Ali três mulheres de três gerações vêm garantindo a transmissão do conhecimento produzido ao longo de décadas pelo Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade dos Edifícios, sem que se perca aquilo que é mais precioso a um instituto de pesquisa: a experiência de seus recursos humanos. Escolher contar essa história no dia 08 de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, é homenagear profissionais que se dedicam ao trabalho e à ciência no país, transformando o seu ambiente e exercendo aquilo que lhes parece mais intrínseco: o ato de se doar.
Maria Akutsu, Adriana Camargo de Brito e Elisa Morandé Sales, da esq. para dir, pesquisadoras do Centro Tecnológico do Ambiente Construído
Maria Akutsu, Adriana Camargo de Brito e Elisa Morandé Sales, da esq. para dir, pesquisadoras do Centro Tecnológico do Ambiente Construído


A física e pesquisadora Maria Akutsu, de 62 anos, participou em 2015 do Programa de Mentoring do IPT, que busca a integração de gerações e a preservação da memória organizacional do Instituto a partir da transmissão do conhecimento. Na casa desde 1975, quando entrou como estagiária, ela foi orientadora no 4º ciclo do programa, com a missão de disseminar na área sua vasta experiência em conforto ambiental e desempenho térmico e acústico de edifícios.

Com mestrado em Engenharia Civil e doutorado em Arquitetura e Urbanismo, ambos pela Universidade de São Paulo, além de coordenar e dar aulas no Mestrado Profissional em Habitação do IPT, Maria tem, de fato, muito que transmitir. Ela afirma, no entanto, que o programa é apenas uma formalização do que já acontece no centro. "Fazemos um mentoring em cadeia o tempo todo. Não se trata só do treinamento técnico, mas de transferir conhecimentos de como lidar com o cliente e com a equipe, como gerenciar conflitos".

A vontade de compartilhar de Maria é tão grande quanto seu apetite pela pesquisa. Em meio a múltiplas atividades no IPT, ela nunca deixou de lado a busca pelo conhecimento. "Meu desafio no Instituto era inventar pesquisa nova. Sempre tive projeto interno de pesquisa e sempre tive estagiários trabalhando comigo". Mesmo em épocas em que a necessidade de buscar clientes e outras condições dificultavam a prática, ela não abriu mão da pesquisa automotivada, fazendo pesquisa por conta própria, ainda que não houvesse projeto formal.

Este trabalho trouxe frutos positivos. Hoje o centro tem uma base laboratorial, na qual são ensaiadas as propriedades térmicas, acústicas e lumínicas dos materiais, mas também uma área forte de modelagem matemática e simulações computacionais para responder ao cliente, indicando o comportamento do edifício e como resolver os problemas que aparecem. Exemplo maior dessa conexão é a tese de doutorado de Maria, na qual desenvolveu um método de avaliação de desempenho térmico por simulação que hoje está na Norma NBR 15575 – Edificações Habitacionais: Desempenho.
Adriana, Maria e Elisa: competência técnica, e não gênero, fala mais alto no IPT
Adriana, Maria e Elisa: competência técnica, e não gênero, fala mais alto no IPT


Maria declara que adora pesquisar porque é uma forma de fazer descobertas, seu interesse primeiro quando optou pela Física. E é assim que ela considera a arquiteta Adriana Camargo de Brito. Uma descoberta. A arquiteta, hoje doutora em Engenharia Mecânica, apresentava seu mestrado em Engenharia Civil quando conheceu Maria, presente em sua banca. "A Adriana acha que ela veio parar aqui. Nós é que fizemos de tudo para que ela viesse parar no IPT", brinca Maria.

Além de ter encontrado espaço para uma formação mais técnica em sua própria área, hoje, aos 37 anos, Adriana trabalha com as simulações correspondentes à norma que a tese de doutorado de Maria gerou há mais de 30 anos. Outro legado adquirido no Instituto foram algumas aulas do Mestrado Profissional em Habitação, pelas quais a arquiteta já se tornou responsável. Por isso, para as pesquisadoras, a construção e a transferência do conhecimento são sempre fundamentais. "A pesquisa do passado é que gerou o trabalho do nosso presente. Buscamos mais tempo para fazer pesquisa agora, para que isso resulte em serviços no futuro também", defende Adriana.

O mentoring, algo já natural no centro, continua funcionando. De Maria para Adriana, e de Adriana para Elisa Morandé Sales, física de 28 anos que participará do 5º ciclo do programa no IPT. Formada em 2009 e com mestrado e doutorado em andamento na bagagem, Elisa conta que chegou ao Instituto buscando uma aplicação mais prática de seus conhecimentos, algo que não encontrou na vida acadêmica. "Quando o concurso no IPT foi aberto, procurei conhecer a área de conforto ambiental do Instituto e me encantei".

O que mais agrada Elisa é a variedade de conhecimentos do Instituto, que vão desde a área de pesquisa até a aplicação prática e a possibilidade de compartilhar a experiência com profissionais com mais tempo de casa. Sua dedicação à vida acadêmica trouxe frutos ao IPT, com a aplicação de competências em áreas multidisciplinares do centro e inclusive a contribuição a um projeto interno do Laboratório de Conforto Ambiental, gerenciado pela Adriana, envolvendo análise de materiais de mudança de fase – PCM. "Aqui, aprendemos um com o outro, e temos a possibilidade de trabalhar tanto a aplicação técnica quanto a pesquisa básica. Essa interdisciplinaridade é fantástica", explica Elisa.

Ela não deixa de oferecer os devidos créditos, frisando que é muito graças à Maria: "Se não fosse a forma como ela trata a gente, acho que não teríamos esse resultado. É um perfil que contagia." Já Maria considera essa transmissão da experiência muito bem sucedida: "Com a Adriana e a Elisa, hoje eu posso sair daqui super tranquila".

Tanto Maria, quanto Adriana e Elisa declaram que, no IPT, não é o gênero que conta, mas a competência técnica das pessoas, tirando qualquer peso de transitar em um universo antes considerado majoritariamente masculino. Elas valorizam, no entanto, as conquistas obtidas ao longo dos anos de convivência no Instituto, como o aumento do tempo de permanência das crianças na creche, o que, segundo Adriana, deu mais tranquilidade às mulheres para que se mantivessem em seu universo de trabalho. E voltando-se à sociedade, quem pondera é Elisa. "Será que sem todas as lutas das mulheres nos últimos tempos, nós teríamos a possibilidade de estar aqui hoje, trabalhando e provando nossa competência?".

INSCREVA-se em nossa newsletter

Receba nossas novidades em seu e-mail.

SUBSCRIBE to our newsletter

Receive our news in your email.

Pular para o conteúdo