O químico João Paulo Amorim de Lacerda, do Laboratório de Análises Químicas do IPT, participou entre os meses de fevereiro e setembro de 2015 do Programa de Desenvolvimento e Capacitação no Exterior (PDCE) do Instituto, com o objetivo de se capacitar para a realização de análises quantitativas e qualitativas de dioxinas tanto em amostras ambientais (solo e água) quanto de alimentos. O estágio de oito meses foi realizado no Fera Science Ltd., na cidade de York (Reino Unido), com financiamento da Fundação de Apoio ao IPT (Fipt).
Anteriormente denominado The Food and Environment Research Agency, o Fera é desde abril de 2015 uma joint venture administrada por uma empresa privada, a Capita (75%), e com 25% das ações do Ministério do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra) do Reino Unido. As atividades desenvolvidas nos nove meses do estágio foram voltadas à capacitação para uso de um novo cromatógrafo gasoso acoplado a um detector de massas de alta resolução, que é destinado a análises que requerem alta sensibilidade. “O equipamento foi comprado com o objetivo de fazer análise de dioxinas porque no Brasil existem poucos laboratórios que realizam estas avaliações e, ainda assim, muitas vezes o serviço é contratado aqui, mas o estudo é feito nas matrizes no exterior”, explica o pesquisador. “A execução das análises é complicada pelo fato de as dioxinas estarem espalhadas no ambiente e em níveis de detecção muito baixos. O processo analítico deve ser cuidadoso, com a separação do material destinado a outras avaliações, para evitar a contaminação cruzada”.
As dioxinas são compostos organoclorados que não são produzidos intencionalmente, mas formados como derivados de processos químicos que ocorrem espontaneamente como incêndios florestais e processos industriais. Elas são classificadas como poluentes orgânicos persistentes (POPs) por conta da resistência à degradação físico-química e biológica e, como podem se acumular nos tecidos gordurosos de animais, são distribuídas através das cadeias alimentares.
“As dioxinas terminam, em última instância, nos alimentos e este é o principal meio de contaminação para o ser humano – já foi comprovado que a dioxina não entra no organismo humano pela pele, e a absorção por via respiratória é também rara. A contaminação acontece principalmente por meio de alimentos gordurosos porque as dioxinas têm características lipofílicas, ou seja, são solúveis em gorduras e se acumulam nos tecidos adiposos dos animais que serão ingeridos pelas pessoas”, afirma Lacerda.
O dia a dia do pesquisador foi semelhante ao da equipe de técnicos que trabalham na instituição; por conta da divisão de atividades, um amplo conhecimento da rotina laboratorial foi adquirido em períodos de aprendizado nas áreas de recepção de amostras, extração, análise e elaboração/emissão dos relatórios, principalmente de materiais enviados por instituições governamentais para projetos de pesquisa.
O principal estudo do qual o pesquisador participou envolve o uso cada vez mais comum de resíduos reciclados, como flocos moídos de garrafas PET, para a forragem animal em estábulos, principalmente em meses de baixas temperaturas. “Como os animais acabam ingerindo parte do material, uma equipe da instituição decidiu estudar os efeitos da ingestão de contaminantes e avaliar a quantidade de dioxinas transferida aos alimentos pelo uso dos novos materiais”, explica ele.
Outros projetos que contaram com a participação de Lacerda foram o de análise de tecido adiposo humano, no qual amostras de material retirado em cirurgias bariátricas foram estudadas para a detecção de dioxinas em pessoas obesas, e o desenvolvimento de uma metodologia para analisar novos POPs como os compostos polibromados, que eram usados em equipamentos elétricos e eletrônicos como retardantes de chamas e tiveram seu uso banido em diversos países por serem bioacumulativos e tóxicos aos seres humanos e ao meio ambiente – no entanto, por conta da grande quantidade de lixo eletrônico, os resíduos acabaram ‘migrando’ para a água e o solo.
Lacerda também teve a oportunidade de participar de um curso sobre dieta total na Finlândia de cinco dias no Finnish Food Safety Authority Evira, voltado à avaliação de ingestão de elementos tóxicos e essenciais e destinado a fornecer uma base científica da exposição da população aos nutrientes e aos contaminantes, assim como o impacto potencial na saúde pública. A seleção de alimentos é baseada em dados de consumo nacional, e eles são preparados em laboratório da mesma forma como são consumidos: “São analisados vários componentes químicos nos alimentos: por exemplo, o arroz é feito com os temperos normalmente usados para a sua cocção; em seguida, a amostra é analisada para diversos tipos de contaminantes para saber o nível de exposição de diversos elementos em um determinado alimento”, explica ele.
“Procurei estudar tanto a área ambiental, que está mais presente no Brasil, como a avaliação de alimentos, que é forte no Brasil pelo fato de o País ser um dos principais exportadores de carne do mundo”, afirma o pesquisador, lembrando a forte presença da pecuária na balança comercial brasileira. Ele retornou ao Brasil durante o estágio para apresentar um pôster com uma estimativa aproximada da exposição humana às dioxinas e às bifelinas policloradas (PCBs) por alimentos no País no 35º Simpósio Internacional de Poluentes Orgânicos Persistentes e Halogenados, o Dioxin 2015, que foi promovido pela Faculdade de Saúde Pública da USP, entre os dias 23 e 28 de agosto.
“Fiz um levantamento de tudo o que existe no Brasil e já foi publicado sobre contaminação de alimentos, e cheguei à conclusão de que existe pouca informação disponível. Não dá para concluir com os dados disponíveis atualmente se a população brasileira está do lado seguro ou do lado de risco da balança”, afirma ele. “Existe um limite diário de ingestão de dioxinas estabelecido pela Organização Mundial da Saúde e todos os países da Comunidade Europeia e os Estados Unidos têm um trabalho de monitoramento para controlar a exposição da população”. Especialistas internacionais estabeleceram de maneira provisória uma ingestão humana mensal tolerável de 70 picogramas/kg ao mês, mas no Brasil não existe um limite e são poucos os estudos feitos com alimentos comprados em supermercados, por exemplo, que é a exposição mais comum no dia a dia das pessoas.
Atualmente, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) dispõe de um laboratório para execução de análises no estado, mas dedicado à avaliações ambientais e, em 2009, o Ministério do Meio Ambiente do Governo Federal inaugurou uma unidade para fazer análises de dioxinas, em parceria com a Cetesb. “Quanto mais instituições estiverem envolvidas neste segmento, melhor, porque existe uma grande carência de dados”, completa o pesquisador.
Anteriormente denominado The Food and Environment Research Agency, o Fera é desde abril de 2015 uma joint venture administrada por uma empresa privada, a Capita (75%), e com 25% das ações do Ministério do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra) do Reino Unido. As atividades desenvolvidas nos nove meses do estágio foram voltadas à capacitação para uso de um novo cromatógrafo gasoso acoplado a um detector de massas de alta resolução, que é destinado a análises que requerem alta sensibilidade. “O equipamento foi comprado com o objetivo de fazer análise de dioxinas porque no Brasil existem poucos laboratórios que realizam estas avaliações e, ainda assim, muitas vezes o serviço é contratado aqui, mas o estudo é feito nas matrizes no exterior”, explica o pesquisador. “A execução das análises é complicada pelo fato de as dioxinas estarem espalhadas no ambiente e em níveis de detecção muito baixos. O processo analítico deve ser cuidadoso, com a separação do material destinado a outras avaliações, para evitar a contaminação cruzada”.
As dioxinas são compostos organoclorados que não são produzidos intencionalmente, mas formados como derivados de processos químicos que ocorrem espontaneamente como incêndios florestais e processos industriais. Elas são classificadas como poluentes orgânicos persistentes (POPs) por conta da resistência à degradação físico-química e biológica e, como podem se acumular nos tecidos gordurosos de animais, são distribuídas através das cadeias alimentares.
“As dioxinas terminam, em última instância, nos alimentos e este é o principal meio de contaminação para o ser humano – já foi comprovado que a dioxina não entra no organismo humano pela pele, e a absorção por via respiratória é também rara. A contaminação acontece principalmente por meio de alimentos gordurosos porque as dioxinas têm características lipofílicas, ou seja, são solúveis em gorduras e se acumulam nos tecidos adiposos dos animais que serão ingeridos pelas pessoas”, afirma Lacerda.
O dia a dia do pesquisador foi semelhante ao da equipe de técnicos que trabalham na instituição; por conta da divisão de atividades, um amplo conhecimento da rotina laboratorial foi adquirido em períodos de aprendizado nas áreas de recepção de amostras, extração, análise e elaboração/emissão dos relatórios, principalmente de materiais enviados por instituições governamentais para projetos de pesquisa.
O principal estudo do qual o pesquisador participou envolve o uso cada vez mais comum de resíduos reciclados, como flocos moídos de garrafas PET, para a forragem animal em estábulos, principalmente em meses de baixas temperaturas. “Como os animais acabam ingerindo parte do material, uma equipe da instituição decidiu estudar os efeitos da ingestão de contaminantes e avaliar a quantidade de dioxinas transferida aos alimentos pelo uso dos novos materiais”, explica ele.
Outros projetos que contaram com a participação de Lacerda foram o de análise de tecido adiposo humano, no qual amostras de material retirado em cirurgias bariátricas foram estudadas para a detecção de dioxinas em pessoas obesas, e o desenvolvimento de uma metodologia para analisar novos POPs como os compostos polibromados, que eram usados em equipamentos elétricos e eletrônicos como retardantes de chamas e tiveram seu uso banido em diversos países por serem bioacumulativos e tóxicos aos seres humanos e ao meio ambiente – no entanto, por conta da grande quantidade de lixo eletrônico, os resíduos acabaram ‘migrando’ para a água e o solo.
Lacerda também teve a oportunidade de participar de um curso sobre dieta total na Finlândia de cinco dias no Finnish Food Safety Authority Evira, voltado à avaliação de ingestão de elementos tóxicos e essenciais e destinado a fornecer uma base científica da exposição da população aos nutrientes e aos contaminantes, assim como o impacto potencial na saúde pública. A seleção de alimentos é baseada em dados de consumo nacional, e eles são preparados em laboratório da mesma forma como são consumidos: “São analisados vários componentes químicos nos alimentos: por exemplo, o arroz é feito com os temperos normalmente usados para a sua cocção; em seguida, a amostra é analisada para diversos tipos de contaminantes para saber o nível de exposição de diversos elementos em um determinado alimento”, explica ele.
“Procurei estudar tanto a área ambiental, que está mais presente no Brasil, como a avaliação de alimentos, que é forte no Brasil pelo fato de o País ser um dos principais exportadores de carne do mundo”, afirma o pesquisador, lembrando a forte presença da pecuária na balança comercial brasileira. Ele retornou ao Brasil durante o estágio para apresentar um pôster com uma estimativa aproximada da exposição humana às dioxinas e às bifelinas policloradas (PCBs) por alimentos no País no 35º Simpósio Internacional de Poluentes Orgânicos Persistentes e Halogenados, o Dioxin 2015, que foi promovido pela Faculdade de Saúde Pública da USP, entre os dias 23 e 28 de agosto.
“Fiz um levantamento de tudo o que existe no Brasil e já foi publicado sobre contaminação de alimentos, e cheguei à conclusão de que existe pouca informação disponível. Não dá para concluir com os dados disponíveis atualmente se a população brasileira está do lado seguro ou do lado de risco da balança”, afirma ele. “Existe um limite diário de ingestão de dioxinas estabelecido pela Organização Mundial da Saúde e todos os países da Comunidade Europeia e os Estados Unidos têm um trabalho de monitoramento para controlar a exposição da população”. Especialistas internacionais estabeleceram de maneira provisória uma ingestão humana mensal tolerável de 70 picogramas/kg ao mês, mas no Brasil não existe um limite e são poucos os estudos feitos com alimentos comprados em supermercados, por exemplo, que é a exposição mais comum no dia a dia das pessoas.
Atualmente, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) dispõe de um laboratório para execução de análises no estado, mas dedicado à avaliações ambientais e, em 2009, o Ministério do Meio Ambiente do Governo Federal inaugurou uma unidade para fazer análises de dioxinas, em parceria com a Cetesb. “Quanto mais instituições estiverem envolvidas neste segmento, melhor, porque existe uma grande carência de dados”, completa o pesquisador.