O consumo de papéis para fins sanitários (papéis tissue) está aumentando em todo o mundo em razão da elevação dos padrões de vida e de higiene: no Brasil, por exemplo, o consumo aparente saltou de 634 mil toneladas em 2003 para 962 mil toneladas em 2011, e o consumo per capita teve um crescimento de 3,6 kg/ano para 5,0 kg/ano no período. O consumo de tissue no País está concentrado principalmente no uso de papéis higiênicos (74%), seguido por toalhas de papel (22%) e guardanapos (4%), segundo dados levantados em 2010 pela consultoria Risi.
Para atender à demanda do mercado brasileiro, muitas empresas utilizam celulose virgem em seus processos fabris e outras lançam mão de aparas de papel-jornal ou de papel de revistas. Pensando nesse nicho de mercado e dando continuidade à pesquisa realizada em 2012 de reciclagem do papel usado na produção de livros didáticos, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) realizou um estudo para mostrar o comportamento dos dois tipos de aparas durante o processo de reciclagem, ao serem usados dois tipos de surfactantes para auxiliar a remoção das tintas de impressão.
A escolha do papel-jornal e do papel de revistas foi motivada pelo fato de os dois serem as matérias-primas mais recicladas para a produção de tissue, mas a sua utilização obedece, entre outras variáveis, ao comportamento do mercado no preço de celulose virgem: “Quando o preço cai, as indústrias optam pela matéria-prima virgem; se o preço sobe, as indústrias recorrem ao mercado de aparas”, explica Patrícia Kaji Yasumura Sasaki, pesquisadora do Laboratório de Papel e Celulose e coordenadora do projeto. Outra variável importante é o rendimento: os papéis para imprimir e escrever têm um percentual de carga mineral, isto é, carbonato de cálcio, que é usado para tornar o papel opaco: “Esta carga mineral precisa ser removida na reciclagem; ela é geralmente destinada para deposição em aterros sanitários ou como matéria-prima para olarias, o que significa um custo a mais para quem recicla”, afirma ela.
A ideia do projeto era conhecer as diferenças de comportamento dos dois tipos de papéis durante a reciclagem, pois o primeiro tem uma carga mineral menor do que o segundo; no entanto, a diminuição do mercado de papel jornal traz uma preocupação de disponibilidade para as empresas – de janeiro a agosto de 2015, a produção nacional foi 8,2% menor em relação ao mesmo período de 2014, e as importações caíram 27% na comparação do mesmo período, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
PASSO A PASSO – Nos mesmos moldes do projeto de reciclagem do papel de livros didáticos, o laboratório se baseou nas normas previstas pela Ingede, a associação alemã de indústrias de destintamento (International Association of the Deinking Industry), para executar os ensaios. “Eles recomendam uma série de procedimentos de como fazer a reciclagem em projeto piloto ou bancada e avaliar a reciclabilidade do papel, ou seja, o quanto o papel é bom para ser reciclado”, explica ela.
A equipe de pesquisadores do IPT recorreu a dois surfactantes para auxiliar na remoção das tintas: o primeiro deles foi o ácido oleico, que é sugerido pela Ingede para executar os ensaios, mas o segundo foi um detergente líquido comercial, uma opção tomada pela equipe do laboratório. Para a realização dos ensaios, a equipe primeiramente fez a picagem dos papéis, misturando em seguida o material com água, e então partiu para a desagregação no chamado hidrapulper, parecido com um liquidificador, até obter uma pasta cinza. Nada foi acrescentado à primeira amostra obtida, para que ela servisse como padrão; para a segunda, adicionou-se o ácido oleico, e, para a terceira, o detergente – as duas últimas passaram por um processo de flotação para a remoção da tinta, e todas as amostras foram submetidas a ensaios físicos e ópticos, totalizando três de papel de revista e três de papel jornal, em folhas formadas a partir das pastas.
“Nosso foco foi estudar as propriedades que interessam a qualquer tipo de papel: foram determinadas as médias de resistências ao rasgo, à tração e ao arrebentamento, permeância ao ar, de concentração efetiva de tinta residual (ERIC) e de cor dos papéis formados”, afirma a pesquisadora.
Os resultados mostraram que os surfactantes possuem ações diferentes sobre as aparas de papel jornal e papel revista, sendo que, nas condições utilizadas neste estudo, o detergente líquido comercial obteve uma melhor eficiência na remoção de tinta para as aparas de revista (67 %) que para o jornal (49 %), mas com rendimento inferior, ou seja, a massa recuperada foi em menor quantidade, por conta da maior quantidade de tinta, de fibras e de carga mineral removida na revista. Por outro lado, com o ácido oleico, a remoção de tinta foi melhor para o jornal (69 %) que para a revista (56 %), e com rendimento maior.
O estudo deu origem a um artigo que foi apresentado no 48º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), realizado de 6 a 8 de outubro em São Paulo, e está em continuidade: a ex-estagiária do laboratório e participante do projeto, Samelyn da Costa Martins Silva, que estuda Química na Universidade Federal de São Carlos, recebeu uma bolsa do Programa FIPT de Iniciação Tecnológica e está pesquisando o uso de tensoativos não iônicos na etapa de destintamento da reciclagem de papel.
Outro resultado do projeto foi a capacitação do laboratório para a avaliação de índice de reciclabilidade, que indica se um material é mais reciclável do que outro e realiza uma classificação em categorias como ‘Ótimo’, ‘Bom’, ‘Ruim’ e ‘Não Adequado para Destintamento’. “Como a quantidade de carga mineral é muito maior para o papel usado em revistas, foi necessário avaliar o impacto do destintamento na qualidade da fibra reciclada obtida e caracterizar o resíduo obtido”, explica Patrícia. “Conseguimos com este projeto estar habilitados para, no caso de um cliente buscar o IPT para saber o índice de um determinado material, fazer a sua classificação, incluindo os dados sobre os surfactantes usados”.
Para atender à demanda do mercado brasileiro, muitas empresas utilizam celulose virgem em seus processos fabris e outras lançam mão de aparas de papel-jornal ou de papel de revistas. Pensando nesse nicho de mercado e dando continuidade à pesquisa realizada em 2012 de reciclagem do papel usado na produção de livros didáticos, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) realizou um estudo para mostrar o comportamento dos dois tipos de aparas durante o processo de reciclagem, ao serem usados dois tipos de surfactantes para auxiliar a remoção das tintas de impressão.
A escolha do papel-jornal e do papel de revistas foi motivada pelo fato de os dois serem as matérias-primas mais recicladas para a produção de tissue, mas a sua utilização obedece, entre outras variáveis, ao comportamento do mercado no preço de celulose virgem: “Quando o preço cai, as indústrias optam pela matéria-prima virgem; se o preço sobe, as indústrias recorrem ao mercado de aparas”, explica Patrícia Kaji Yasumura Sasaki, pesquisadora do Laboratório de Papel e Celulose e coordenadora do projeto. Outra variável importante é o rendimento: os papéis para imprimir e escrever têm um percentual de carga mineral, isto é, carbonato de cálcio, que é usado para tornar o papel opaco: “Esta carga mineral precisa ser removida na reciclagem; ela é geralmente destinada para deposição em aterros sanitários ou como matéria-prima para olarias, o que significa um custo a mais para quem recicla”, afirma ela.
A ideia do projeto era conhecer as diferenças de comportamento dos dois tipos de papéis durante a reciclagem, pois o primeiro tem uma carga mineral menor do que o segundo; no entanto, a diminuição do mercado de papel jornal traz uma preocupação de disponibilidade para as empresas – de janeiro a agosto de 2015, a produção nacional foi 8,2% menor em relação ao mesmo período de 2014, e as importações caíram 27% na comparação do mesmo período, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
PASSO A PASSO – Nos mesmos moldes do projeto de reciclagem do papel de livros didáticos, o laboratório se baseou nas normas previstas pela Ingede, a associação alemã de indústrias de destintamento (International Association of the Deinking Industry), para executar os ensaios. “Eles recomendam uma série de procedimentos de como fazer a reciclagem em projeto piloto ou bancada e avaliar a reciclabilidade do papel, ou seja, o quanto o papel é bom para ser reciclado”, explica ela.
A equipe de pesquisadores do IPT recorreu a dois surfactantes para auxiliar na remoção das tintas: o primeiro deles foi o ácido oleico, que é sugerido pela Ingede para executar os ensaios, mas o segundo foi um detergente líquido comercial, uma opção tomada pela equipe do laboratório. Para a realização dos ensaios, a equipe primeiramente fez a picagem dos papéis, misturando em seguida o material com água, e então partiu para a desagregação no chamado hidrapulper, parecido com um liquidificador, até obter uma pasta cinza. Nada foi acrescentado à primeira amostra obtida, para que ela servisse como padrão; para a segunda, adicionou-se o ácido oleico, e, para a terceira, o detergente – as duas últimas passaram por um processo de flotação para a remoção da tinta, e todas as amostras foram submetidas a ensaios físicos e ópticos, totalizando três de papel de revista e três de papel jornal, em folhas formadas a partir das pastas.
“Nosso foco foi estudar as propriedades que interessam a qualquer tipo de papel: foram determinadas as médias de resistências ao rasgo, à tração e ao arrebentamento, permeância ao ar, de concentração efetiva de tinta residual (ERIC) e de cor dos papéis formados”, afirma a pesquisadora.
Os resultados mostraram que os surfactantes possuem ações diferentes sobre as aparas de papel jornal e papel revista, sendo que, nas condições utilizadas neste estudo, o detergente líquido comercial obteve uma melhor eficiência na remoção de tinta para as aparas de revista (67 %) que para o jornal (49 %), mas com rendimento inferior, ou seja, a massa recuperada foi em menor quantidade, por conta da maior quantidade de tinta, de fibras e de carga mineral removida na revista. Por outro lado, com o ácido oleico, a remoção de tinta foi melhor para o jornal (69 %) que para a revista (56 %), e com rendimento maior.
O estudo deu origem a um artigo que foi apresentado no 48º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), realizado de 6 a 8 de outubro em São Paulo, e está em continuidade: a ex-estagiária do laboratório e participante do projeto, Samelyn da Costa Martins Silva, que estuda Química na Universidade Federal de São Carlos, recebeu uma bolsa do Programa FIPT de Iniciação Tecnológica e está pesquisando o uso de tensoativos não iônicos na etapa de destintamento da reciclagem de papel.
Outro resultado do projeto foi a capacitação do laboratório para a avaliação de índice de reciclabilidade, que indica se um material é mais reciclável do que outro e realiza uma classificação em categorias como ‘Ótimo’, ‘Bom’, ‘Ruim’ e ‘Não Adequado para Destintamento’. “Como a quantidade de carga mineral é muito maior para o papel usado em revistas, foi necessário avaliar o impacto do destintamento na qualidade da fibra reciclada obtida e caracterizar o resíduo obtido”, explica Patrícia. “Conseguimos com este projeto estar habilitados para, no caso de um cliente buscar o IPT para saber o índice de um determinado material, fazer a sua classificação, incluindo os dados sobre os surfactantes usados”.