Além do Visconde de Sabugosa

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O livro ‘Monteiro Lobato, Livro a Livro: Obra Adulta’, lançado em São Paulo no mês de abril, conta com 28 artigos, fruto de estudos de 26 pesquisadores, entre eles o diretor-presidente do IPT, Fernando Landgraf. A coletânea traz a história de todas as 25 obras que Lobato escreveu para adultos e no capítulo intitulado ‘Ferremos o Brasil!’ Landgraf apresenta um lado menos conhecido do escritor, o desejo de melhorar o País por meio de estradas e máquinas derivadas do ferro.

Landgraf inicia o artigo afirmando que “o livro Ferro (Lobato, 1933a) é um episódio menor do drama maior da história da siderurgia no Brasil. (…) O tema foi, entretanto, muito importante na vida de Monteiro Lobato, entre 1928 e 1935.” Ele analisa a situação do Brasil em 1920 e lança questões referentes ao que seria mais adequado ao País: “siderúrgicas cada vez maiores e altos-fornos mais altos, baseados na alta resistência mecânica do carvão mineral, ou um modelo alternativo, com muitas pequenas siderúrgicas a carvão mineral (Labouriau, 1924)?”.

Publicação conta com 28 artigos; segundo a organizadora da coletânea, Marisa Lajolo, "o livro pode abrir caminhos promissores para novas pesquisas e novos olhares não apenas sobre a produção lobatiana, mas talvez também para a produção cultural brasileira das primeiras décadas do século 20"
Publicação conta com 28 artigos; segundo a organizadora da coletânea, Marisa Lajolo, "o livro pode abrir caminhos promissores para novas pesquisas e novos olhares não apenas sobre a produção lobatiana, mas talvez também para a produção cultural brasileira das primeiras décadas do século 20"
É analisada outra ‘face’ de Lobato, como adido comercial do Consulado Brasileiro em Nova York, após a falência de sua editora por causa da seca em 1924. “O racionamento de energia só deixava suas prensas operarem um dia por semana”, relata Landgraf, mas o escritor mantinha uma visão progressista em relação ao Brasil. Em uma carta ao chefe da Casa Civil do presidente Washington Luis, Lobato já formulava uma hipótese: para que o país conseguisse ser rico, deveria investir em ferro e siderurgia, pois com eles seria possível construir estradas e máquinas.

O escritor se mostra maravilhado com o poderio econômico e, particularmente, a indústria automobilística dos Estados Unidos. Ele traduz dois livros de Henry Ford em 1924, fato que o leva a cair “nas boas graças da Ford”, como explica Landgraf. Lobato fica entusiasmado quando conhece Fortunato Bulcão, empresário que buscava parceiros para empreendimentos siderúrgicos no Brasil. Bulcão inicia negociações para viabilizar seu projeto, mas o crack da bolsa em 1929 atrapalha seus planos e Lobato perde parte de seu dinheiro.

Washington Luís é derrubado em 1930; Lobato perde seu posto de adido comercial no consulado de Nova York e volta para São Paulo em 1931. Toda sua experiência em Detroit trouxe como um dos resultados o livro ‘Ferro: a solução do problema siderúrgico do Brasil pelo processo Smith’. Landgraf cita que a biblioteca do IPT dispõe de um exemplar da primeira edição, lançada no fim de 1931. A obra foi doada pelo então vice-diretor Adriano Marchini, que hoje dá nome ao edifício sede do Instituto.

O núcleo do livro “é a reprodução, com o acréscimo de muitas notas de rodapé cheias de cifras e estatísticas, de uma série de seis artigos publicados entre 28 de maio e 4 de junho de 1931 no jornal O Estado de S. Paulo”, relata Landgraf. O primeiro artigo, ‘Consciência de algo errado’, recebe uma réplica de Mario Pinto Serva que não concorda com Lobato sobre o fato de tudo se resumir ao ferro. A resposta é então usada na edição de 1946 do livro de Monteiro Lobato, com o título “Uma caudinha final”.

Landgraf relata ainda a participação de Lobato em reuniões para criar a empresa Syndicato Nacional de Commercio e Indústria S/A, em sociedade com Fortunato Bulcão e Edmond de Raeffrey, para explorar o negócio siderúrgico. O artigo ainda mostra um Lobato empreendedor, que posta patentes e investe na produção de fornos para a produção de ferro, além de narrar as relações sociais do escritor.
Landgraf encerra o capítulo com uma curiosa questão: “Como a maior parte da saga do Sítio do Picapau Amarelo é posterior ao livro ‘Ferro’, cabe a pergunta aos especialistas: é neste livro que ele inicia o uso das explicações antropomórficas dos fenômenos naturais?”.

SERVIÇO – A obra é organizada pela professora da Unicamp e da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Marisa Lajolo, que em parceria com João Luís Ceccantini já havia organizado a obra ‘Monteiro Lobato, Livro a Livro: Obra infantil’, eleita pelo Prêmio Jabuti o melhor livro de 2009 na categoria não ficção. A nova obra tem 544 páginas, está disponível para compra no site da Editora Unesp por R$ 69,00 e foi alvo de reportagens nos jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo (leia abaixo).

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