Raio-X da cana

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O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e a Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’, a Esalq, da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba, decidiram elaborar dois projetos para desvendar alguns segredos referentes à cana-de-açúcar. A ideia é conhecer a quantidade e a composição química das cinzas produzidas durante a queima da biomassa e, também como ambas são afetadas pelas características agrícolas como sazonalidade da cultura e contaminação da cana pelo contato direto com a terra, entre outros aspectos. Caberá à Esalq o estudo de fatores agrícolas e ao IPT entender o comportamento das cinzas. As propostas dos projetos, estimados em aproximadamente R$ 2 milhões, deverão ser submetidas até o final deste ano à análise da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).

Segundo o diretor-presidente do IPT, Fernando Landgraf, o teor de sílica das cinzas, por exemplo, eleva o seu ponto de fusão: “O processo de gaseificação de biomassa é como um maçarico queimando a biomassa. Ao final, cerca de 97% da cana vira gás carbônico e água e, os restantes 3%, cinzas; se elas forem sólidas, irão grudar até entupir as paredes do gaseificador”. Para evitar a paralisação da queima pelas cinzas é preciso garantir que elas sejam convertidas ao estado líquido. Desta forma elas escorrerão pelas paredes do equipamento, serão arrastadas junto com os gases e coletadas. “É necessário que o ponto de fusão das cinzas seja conhecido para, se for o caso, colocar aditivos que as liquefaçam”.

Assinatura do protocolo de intenções: da esq. para dir, Landgraf, Henrique Vianna Amorim (diretor-presidente do Arranjo Produtivo Local do Álcool, o Apla) e José Vicente Caixeta Filho (diretor da Esalq). Crédito foto: Gerhard Waller
Assinatura do protocolo de intenções: da esq. para dir, Landgraf, Henrique Vianna Amorim (diretor-presidente do Arranjo Produtivo Local do Álcool, o Apla) e José Vicente Caixeta Filho (diretor da Esalq). Crédito foto: Gerhard Waller
Atualmente, o bagaço da cana é queimado em baixas temperaturas e apenas 20% de sua energia é aproveitada para geração de vapor e eletricidade. Com a gaseificação de bagaço e palha, o rendimento energético saltará para 35% a 40%, produzindo biodiesel.

PLANTA-PILOTO – Há cerca de três anos o IPT negociava com a Esalq a construção e a operação de uma planta-piloto para gaseificação de biomassa em seu campus em Piracicaba. Era parte de um projeto da ordem de R$ 80 milhões visando ao desenvolvimento e a validação tecnológica do processo. Além das duas instituições de pesquisa, envolvia o BNDES, a Finep e empresas parceiras. No início de 2013, diante de uma conjuntura internacional desfavorável devido, entre outros fatores, aos preços do etanol e do petróleo e das perspectivas com o gás de xisto, o projeto da planta de gaseificação em Piracicaba foi interrompido, podendo ser retomado em outro momento.

Para Landgraf, embora haja riscos – como em todo processo de pesquisa, desenvolvimento e inovação – a tecnologia de gaseificação de biomassa é promissora. Inédita em escala comercial no mundo todo, ela certamente estará em pauta diante de uma nova conjuntura energética internacional que potencialize a bioenergia. “O IPT continua investindo nas pesquisas por conta própria. Agora, juntamente com a Esalq, apostamos na cana e investimos para aprimorar o conhecimento e subir de patamar quando retomarmos o ritmo nesta área. Afinal, o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e ainda não conhece o teor e a composição química das suas cinzas. Até agora, isto não era importante para o andamento dos projetos focados na queima do bagaço para gerar bioenergia elétrica. Estamos na fronteira tecnológica. De um lado existem riscos elevados, mas do outro há um imenso potencial, traduzido hoje em três projetos para produção de bioetanol de segunda geração pela rota bioquímica. A possível produção de biodiesel pela rota termoquímica não será conflitante, mas complementar. Ganhará o país como um todo.”

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