Gestão ambiental em Jundiaí

Compartilhe:
Um estudo abordando bases técnicas para a melhoria da qualidade ambiental de dois bairros na cidade de Jundiaí acaba de ser concluído por uma equipe multidisciplinar do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). A pesquisa traçou um diagnóstico dos bairros Caxambu e Colônia, conhecidos pela colonização italiana e pela grande concentração de restaurantes e vinícolas, e propõe diretrizes para a gestão ambiental incluindo desde a requalificação paisagística até o controle dos processos de inundação.

O estudo foi financiado com recursos provenientes do Programa de Apoio Tecnológico aos Municípios (Patem), coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. A ideia inicial era a avaliação das condições ambientais apenas do bairro do Caxambu, mas as visitas à cidade mostraram a viabilidade de expandir o estudo ao bairro Colônia pela proximidade geográfica e similaridade de atributos, explica Vilma Campanha, coordenadora do projeto e pesquisadora do Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental do IPT.

Necessidade de requalificação paisagística na Avenida Comendador Antonio Borin: ausência de guias, sarjetas e calçadas, defeitos no pavimento e drenagem sem captação
Necessidade de requalificação paisagística na Avenida Comendador Antonio Borin: ausência de guias, sarjetas e calçadas, defeitos no pavimento e drenagem sem captação
“A intenção da prefeitura era a elaboração de um estudo para estabelecer parâmetros de desenvolvimento econômico da região, mencionando como exemplo o projeto de remodelação do bairro Santa Felicidade, na cidade de Curitiba”, afirma ela. “Os administradores municipais buscavam bases técnicas para a melhoria da qualidade ambiental principalmente do complexo gastronômico e vinícola localizado nos bairros porque, apesar da precariedade de acesso, é uma área que recebe um grande número de moradores da região e turistas”.

Para a elaboração dos diagnósticos e de planos de ação contendo diretrizes propositivas, as equipes do IPT definiram em reuniões com a prefeitura do município os escopos do projeto: um deles seria a requalificação paisagística dos dois bairros ao longo dos eixos viários onde estão os restaurantes e adegas, incluindo aspectos referentes às condições das vias, ao uso e ocupação do solo e à arborização urbana; o outro, o controle dos processos de inundação em função da dinâmica do Rio Jundiaí-Mirim.

Inicialmente, um resgate técnico da influência italiana na região foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica e reconhecimento em campo e, a partir das entrevistas e sistematização dos dados coletados, foram programadas as atividades necessárias para a definição das diretrizes propostas.

REQUALIFICAÇÃO PAISAGÍSTICA – Uma equipe do IPT realizou uma série de avaliações nas avenidas de interesse do projeto de reestruturação dos bairros a fim de verificar tanto a existência de problemas nos pavimentos e sistemas de drenagem quanto das condições do trânsito de veículos e pedestres. “Levantamos informações como as dificuldades de acesso aos bairros em razão das condições das vias, como ausência de calçadas e predominância de ruas estreitas, o que acarreta problemas de tráfego na região principalmente nos finais de semana pelo alto fluxo de visitantes”, explica o pesquisador Rubens Vieira, da Seção de Geotecnia do IPT.

As deficiências de maior intensidade no pavimento foram encontradas em duas das principais vias que cortam os bairros, as Avenidas Humberto Cerezer e Comendador Antonio Borin, e têm como causa o tráfego intenso de veículos pesados, principalmente caminhões. O levantamento apontou que defeitos como remendos e trincas isoladas podem ser atribuídos a falhas do revestimento asfáltico do pavimento, enquanto as trincas associadas a afundamentos são resultado de problemas estruturais do pavimento.

Os principais problemas de drenagem constatados em diversas vias foram descontinuidade do sistema e falta de manutenção e de dispositivos em alguns pontos – “a ausência de um sistema adequado de drenagem provoca efeitos danosos nos pavimentos e um projeto de reforma deverá incluir estudos das condições existentes e de readequação para a concepção do novo sistema”, completa o pesquisador.

Ainda dentro das propostas para a requalificação paisagística da região, os pesquisadores refinaram as informações contidas no zoneamento ambiental existente a fim de propor diretrizes para uso e ocupação do solo. Grande parte dos dois bairros está localizada na macrozona urbana e em duas pequenas áreas na macrozona rural, e o fato de a Zona de Conservação de Manancial ter a abrangência mais significativa demanda atenção para não comprometer os mananciais existentes. Também é necessária uma fiscalização efetiva quanto à presença de fossas negras, embora a cidade tenha um alto índice de atendimento de esgoto sanitário (95,9%) segundo dados de 2010 da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, a Seade.

Completando os subsídios nesta etapa de requalificação, uma equipe do Laboratório de Árvores, Madeiras e Móveis do IPT realizou um diagnóstico da arborização urbana e propôs no relatório uma série de diretrizes gerais a partir de premissas como promover e conservar a biodiversidade, melhorar a paisagem para o aumento das atividades comerciais e turísticas, aumentar o conforto térmico e a qualidade do ar, proteger as áreas de captação de água e promover o lazer e a recreação.

“É necessário criar um plano diretor de arborização urbana com base em um inventário para avaliação qualitativa e quantitativa das espécies existentes e incentivar a gestão participativa – no bairro Caxambu, por exemplo, as participações da Associação de Moradores do Bairro, da Cooperativa Agrícola dos Produtores de Vinho e da concessionária de energia elétrica são fundamentais para as atividades de planejamento e manutenção, com a promoção da educação ambiental e a valorização das áreas verdes”, explica o pesquisador Sérgio Brazolin.

A criação de corredores de árvores para promover uma conectividade com os maciços florestais foi um dos planos de ação incluídos no relatório; a partir de uma lista elaborada pelo laboratório das espécies adequadas ao clima da região, a ideia é promover uma remodelação principalmente das vias de acesso aos restaurantes e vinícolas que compõem o corredor enogastronômico. “Nosso levantamento apontou um índice de 68% de árvores exóticas no bairro Caxambu. Esta é uma área localizada dentro do bioma Mata Atlântica, e nossa proposta é incentivar o plantio de espécies nativas, com ênfase em árvores frutíferas, e não esquecer a fauna presente na região, buscando retomar a identidade ecológica da região”, completa ele.

PROCESSOS DE INUNDAÇÃO – A partir de um diagnóstico feito em campo dos problemas na sub-bacia do Rio Jundiaí-Mirim, principal produtora de água do município, uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Riscos Ambientais estabeleceu uma série de diretrizes para controle dos processos de inundação. O ponto de partida foi o conhecimento da região detido pelas equipes da prefeitura e do Departamento de Água e Esgoto (DAE) para o início do diagnóstico e, em seguida, a delimitação da bacia como área de estudo, a realização de entrevistas com a comunidade e as visitas às áreas sujeitas a inundações.



“Aproveitamos também dados contidos em um catálogo produzido pela prefeitura com fotografias retiradas por helicóptero da área de estudo durante um evento de chuva intensa, no mês de janeiro de 2011, que indicaram as áreas atingidas por inundações”, explica a pesquisadora assistente Aline Fernandes Heleno.
Após a etapa preliminar de identificação dos pontos, a equipe do IPT partiu para um estudo das possíveis causas de inundações nos locais e relacionou o estrangulamento de seções do rio, o assoreamento (presença de sedimentos na calha), a presença de lixo/entulho e a existência de barreiras ao fluxo das águas como as quatro principais. “O estrangulamento do fluxo de água nos canais e o assoreamento foram os diagnósticos predominantes nos 12 pontos de ocorrência de processos de inundação cadastrados”, completa o pesquisador assistente Samuel Barsanelli Costa.

Os dois pesquisadores afirmam ser ainda necessária uma série de estudos mais detalhados antes de definir as medidas para o controle dos eventos, como conhecer as características hidrológicas da bacia, para delimitar as áreas naturalmente suscetíveis a inundações, e realizar uma avaliação hidráulica das intervenções existentes no sistema hídrico, para adequações nas obras. Outras ações englobam tanto uma avaliação geológico-geotécnica dos taludes de margem dos canais de drenagem e reservatórios, a fim de verificar condições de estabilidade, quanto da produção de sedimentos na bacia para minimizar o assoreamento dos canais.

“Todas essas informações estão contidas em um relatório extenso de dois volumes e, além disso, foi elaborado um atlas com um diagnóstico sucinto da situação existente e um plano de ação com diretrizes propositivas. Estas medidas poderão melhorar a qualidade ambiental e a infraestrutura da região, incrementando o desenvolvimento econômico da cidade e alavancando os negócios”, conclui Vilma.

INSCREVA-se em nossa newsletter

Receba nossas novidades em seu e-mail.

SUBSCRIBE to our newsletter

Receive our news in your email.

Pular para o conteúdo