Inovação e governança

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2012 será um ano de desafios para a inovação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Além de promover a cultura da gestão de projetos por metas técnicas e maior aproximação entre empresas e universidades, reforçando seu papel de conector entre as demandas do mercado e o mundo das pesquisas, o Instituto pretende aperfeiçoar critérios para associar conceitos de inovação a políticas públicas. “Precisamos encontrar indicadores que possam medir a inovação nessas áreas”, afirma o diretor de inovação do IPT, Fernando Landgraf, destacando a importância dessa estratégia diante do fato de que 50% da receita do Instituto provêm do apoio ao setor público.

O trabalho que será feito com a iniciativa pública ampliará o alcance da gestão da inovação no Instituto, cuja diretoria específica para esse fim foi criada em agosto de 2009. Desde então, o trabalho com inovação vem se realizando em três frentes, que são dadas pelo projeto da planta de gaseificação de biomassa, que prevê o investimento de R$ 80 milhões na construção, em Piracicaba, de uma usina-piloto para viabilizar a produção de biocombustíveis a partir do bagaço de cana; pelo aumento da receita com projetos de P&D; e pela gestão por meio de quatro indicadores de inovação, criados para balizar as atuações do Instituto.

Landgraf: indicadores de inovação balizam as ações estratégicas de projetos do Instituto
Landgraf: indicadores de inovação balizam as ações estratégicas de projetos do Instituto
O projeto da planta de gaseificação é o foco principal do trabalho da diretoria de inovação, é o tema que tem consumido mais tempo da equipe. “Estamos trabalhando na articulação dessa proposta há 2,5 anos”, afirma Landgraf, lembrando que se trata de um dos maiores empreendimentos já concebidos dentro do IPT. Sua complexidade é dada não apenas pela necessidade de articulação entre parceiros, mas também pelas suas proporções. Caso seja bem-sucedido, esse projeto poderá dobrar o aproveitamento energético das áreas plantadas com cana-de-açúcar.

No momento, a diretoria de inovação do IPT está concluindo a documentação formal do projeto para encaminhá-lo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que deverá aprovar recursos para sua viabilização. Landgraf explica que o projeto envolve a negociação de governança, propriedade intelectual e o escopo técnico propriamente dito.

Paralelamente, há um projeto de apoio, iniciado em julho, para desenvolver o projeto conceitual da planta. Esse trabalho está envolvendo 22 pesquisadores do Instituto, que atuam distribuídos em 13 diferentes etapas do projeto, desde a concepção de engenharia civil (pré-projeto) do laboratório, que será construído em área da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), até a análise da viabilidade econômica da planta industrial, que deverá ficar pronta por volta de 2020.

O projeto conceitual considera todos os equipamentos e instalações que serão incluídos na planta, permitindo que seja feito um balanço de massas, um balanço energético e a avaliação dos riscos ambientais envolvidos.

As empresas hoje envolvidas no projeto são Oxiteno, Braskem, Raizen (joint venture de Cosan e Shell), Petrobras e VSE (Vale Soluções em Energia). Além da ESALQ, o projeto também contará com participação do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e Rede Nacional de Combustão.

O objetivo geral desse projeto é investigar uma das mais importantes rotas para o aproveitamento de biomassa gerado pelo agribusiness, focado no bagaço e na palha de cana, mas também abordando os resíduos da indústria madeireira. Diferentemente da rota bioquímica (de hidrólise enzimática), que é mais divulgada no Brasil, esse projeto investiga a rota termoquímica, que consiste na reação controlada com oxigênio, gerando uma mistura gasosa de monóxido de carbono e hidrogênio, o gás de síntese, que pode ser usado para gerar energia elétrica, biocombustíveis líquidos e biopolímeros.

Nesses dois anos de trabalho, uma das principais decisões do projeto foi a escolha do processo de gaseificação, já que existem pelo menos dez rotas possíveis. “Nós fizemos a escolha pelo fluxo de arraste em contraposição ao processo de leito fluidizado, usado por muitos institutos de pesquisa”, diz Landgraf. Essa tecnologia foi escolhida porque ela é aplicada nas instalações de maior escala no mundo, que adotam o carvão mineral como matéria prima. “O grande desafio para nós é que ainda não existe nenhuma instalação industrial de gaseificação de biomassa operando no mundo, apesar de existirem mais de 20 plantas-piloto, com outras variações de matérias primas”, afirma Landgraf.

INDICADORES – Além do projeto de gaseificação, a diretoria de inovação tem se concentrado em temas como o aumento da receita com inovação por meio de projetos de P&D e de novos ensaios e análises; disseminação da cultura de inovação, promovendo o ambiente inovador no instituto; e aumento da produção de conhecimento por meio da publicação de artigos e patentes.

A gestão desses processos é realizada por meio de indicadores de inovação. Esses dados são formados pela receita de projetos de P&D em relação à receita total do Instituto; número de patentes depositadas; novos ensaios no sistema de qualidade; e número de publicações. “Esse conjunto representa um passo importante do IPT para adotar critérios de avaliação que se somem ao critério tradicional, que é a relação entre receitas e despesas”, afirma Landgraf.

Quando esses indicadores foram elaborados houve a preocupação em não criar muitos critérios, evitando perder o foco das equipes quanto às metas de inovação. “Definimos então indicadores que pudessem ser bandeiras para uma transformação no IPT”, diz Landgraf.

O indicador que consolida o porcentual de receitas de projetos de P&D mostra, por exemplo, que o Instituto está engajado no esforço de aumentar a parceria com a indústria com foco na inovação. Esse indicador foi de 12,5% em 2010 e neste ano deve ficar em 13,5%. “Vamos bater essa meta”, avalia Landgraf.

O diretor de inovação explica também que o número de publicações é importante porque é uma marca da reflexão dos pesquisadores sobre o seu trabalho. “A publicação é uma divulgação do trabalho perante a comunidade brasileira já que a internacionalização do nosso trabalho ainda é um sonho”.

Os novos ensaios do sistema de qualidade, por sua vez, têm sido utilizados como medida da ampliação da oferta de serviços do IPT. “Pretendemos evoluir esse indicador para a receita obtida com ensaios registrados nos últimos três anos”, afirma Landgraf, destacando que essa iniciativa segue o modelo da indústria, que avalia sua capacidade inovadora medindo o porcentual de sua receita advinda de novos produtos.

METAS TÉCNICAS QUANTITATIVAS – As iniciativas de inovação no IPT também incluíram, neste ano, o desenvolvimento de projetos internos por meio de um edital de solicitação de propostas, publicado em março, que culminou na aprovação de 38 projetos com orçamento de R$ 6 milhões.

Segundo Landgraf, essa frente de trabalho “deve ter um impacto significativo na criação de conhecimento e tecnologia no IPT e na criação de um portfólio de novos produtos a serem ofertados no mercado, produtos que incluem serviços e projetos de pesquisas”.

Nesses projetos, está sendo feito um esforço de construção das metas técnicas quantitativas em cada caso específico. Isso está se mostrando um grande desafio, segundo Landgraf, porque envolve a capacidade de prever o futuro ou tendências, e atribuir números para essas previsões.

Landgraf dá como exemplo a avaliação de custo de desastres naturais, como os deslizamentos de terra, que são comuns no País em épocas de chuvas. “Quais as metas quantitativas em um projeto como esse”, questiona, destacando que essa busca está sendo feita em conjunto com a comunidade ipeteana. “O deslizamento tem vários aspectos, mas o desafio desse projeto interno é a metodologia para estimar o custo de cada deslizamento; isso é importante para orientar a futura estimativa do custo potencial de um desastre, o quanto deve ser investido na prevenção”, afirma.

Está sendo feito, assim, um esforço de construção de metas quantitativas em cada um dos projetos internos. “Sabemos que é difícil propor metas quantitativas, mas vamos ganhar muito se aprendermos a construí-las”, afirma Landgraf.

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