Água para todos

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IPT participa de projeto internacional que busca soluções para reduzir vulnerabilidade no abastecimento urbano e rural

Entre 2013 e 2017, longos períodos de estiagem criaram uma crise no abastecimento de água para 48% dos municípios brasileiros, causando graves problemas para a saúde pública, economia e ambiente. Soluções tradicionais, baseadas em sistemas centralizados de fonte única de abastecimento de água, têm-se mostrado ineficazes no Brasil e em países em desenvolvimento.

Um projeto de pesquisa, com a participação de instituições brasileiras e do exterior, busca agora mudar esta abordagem: o objetivo central do Projeto SACRE  – Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes, é o de criar soluções ‘híbridas hidroeconômicas’, ou seja, que reduzam a vulnerabilidade no abastecimento urbano e rural a partir de mudanças na gestão dos recursos hídricos e na utilização integrada de métodos inovadores de engenharia e de soluções baseadas na natureza (NE&MS, de Nature, Engineering and Management based Solutions) para a remediação de águas contaminadas.

Além dos dois aquíferos Guarani e Bauru, localizados na faixa ocidental do território paulista, a área de estudo engloba as porções altas das bacias dos rios Batalha e Bauru, compreendendo parte dos municípios de Bauru, Piratininga e Agudos. Esta região, localizada no centro do estado de São Paulo, também engloba as unidades de gerenciamento dos recursos hídricos do Tietê-Batalha e Tietê-Jacaré. O principal núcleo urbano e alvo da pesquisa é Bauru, um destacado polo econômico regional, com uma população de 380 mil habitantes, e um PIB de R$ 15 bilhões/ano; outro centro é Piratininga, com uma população de 12 mil habitantes e um PIB de R$ 260 milhões/ano.

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) está participando do projeto, que está estruturado em cinco Work Packages (WPs), que se relacionam organicamente e aperfeiçoam a aquisição de dados, recursos humanos, aprendizagem mútua e mobilização de conhecimento.

AQUISIÇÃO DE DADOS – O WP1-GUN e o WP3-SIS avaliam a contaminação por nitrato e contaminantes emergentes em áreas urbanas e rurais; o WP4-UCO compreende o ciclo das águas superficiais e subterrâneas e sua mudança antrópica; o WP3-SIS apresentará soluções de engenharia para tratamento de água, juntamente com o WP2-SEC, que vai testar o uso de Soluções Baseadas na Natureza. “Tudo isso apoiará as estratégias de integração e soluções econômicas mais factíveis (WP5-SOE) para tratar aquíferos contaminados de largamente pontos dispersos e não pontuais origens. O WP5-SOE também compreende o desenvolvimento de um Sistema de Suporte à Decisão (SSD) para a gestão dos recursos hídricos, atividade que vem sendo estruturada dentro do IPT com o apoio de diferentes áreas”, afirma a pesquisadora Priscila Ikematsu, responsável pela Seção de Planejamento Territorial, Recursos Hídricos, Saneamento e Florestas do IPT.

Mais de 15 pesquisadores e técnicos das Unidades da CIMA – Cidades, Infraestrutura e Meio Ambiente e da TD – Tecnologias Digitais têm atuado no WP1 (coordenado pelo Instituto de Pesquisas Ambientais – IPA, da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo), no WP2 (coordenado pela pesquisadora Priscila Ikematsu do IPT, com participação da Universidade de Hiroshima – Japão) e no WP5 (coordenado pelo pesquisador Carlos Gamba, com participação da Universidade de Waterloo – Canadá).

Além do corpo técnico, o IPT tem provido instalações e infraestrutura para o desenvolvimento das atividades, que incluem equipamentos para levantamento fitossociológico e amostragem de água subterrânea, análise laboratorial de solos, veículos aéreos não tripulados (drones) e softwares de processamento de dados para obtenção de imagens aéreas de alta resolução e Sistemas de Informação Geográfica.

Toda a experiência científica interdisciplinar do IPT nas áreas de hidrogeologia, planejamento e gerenciamento integrado de recursos hídricos superficiais e subterrâneos, além de soluções baseadas na natureza, socioeconomia e governança hídrica, será empregada na criação de uma plataforma digital hidroeconômica de múltiplas soluções (HYMP, de HYdroeconomic, Multiple solutions Platform) que auxiliará na gestão dos recursos hídricos adequada às condições biofísicas e socioeconômicas do Estado de São Paulo.

DUAS LINHAS DE ATUAÇÃO – O SACRE foi concebido em duas linhas de atuação que se integram e que incluem o desenvolvimento de (i) ciência e tecnologia, (ii) políticas públicas e (iii) formação de recursos humanos de alto nível. “Assim, os indicadores de produção e avanço do projeto devem se pautar não somente em publicações formais, mas também em outros indicadores envolvendo stakeholders, como organizações da sociedade civil e instituições públicas que atuam no gerenciamento ambiental e dos recursos hídricos”, afirma Gamba.

No primeiro ano (2022) foi dada ênfase na estruturação operativa do projeto, criação de rede institucional e estabelecimento de uma base de dados socio-hidrogeológico, climático e de planejamento e ocupação territorial.

No ano passado (2023) houve uma aproximação e inserção junto à comunidade e sociedade civil, publicação de artigos de divulgação científica, promoção de eventos, instalação de poços de monitoramento multiníveis na área urbana de Bauru, amostragens e análises laboratoriais, caracterização dos eventos de crise hídrica que afetam a cidade, construção de um modelo numérico preliminar, concepção e desenho de um Sistema de Suporte à Decisão (SSD).

“As atividades para o desenvolvimento de métodos de remediação de aquíferos contaminados por fontes multipontuais e dispersas, com base em métodos clássicos e inovadores de engenharia, gestão e técnicas baseadas na natureza (Nature, Engineering and Management based Solutions, ou NE&MS), irão proporcionar avanços científicos inéditos ao país e poderão gerar tecnologias patenteáveis”, ressalta Ricardo Hirata, coordenador do projeto, e professor do Instituto de Geociências da USP.

O SACRE conta com o financiamento da Fapesp pelo Projeto Temático de Jovem Pesquisador; do CNPq pelo Projeto Universal e de bolsas de estudos da FAPESP, CAPES, CNPq e da própria USP, superando o montante de 11 milhões de reais, e contando com 78 profissionais e estudantes de pós-graduação e graduação.

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