Homenagem póstuma

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Mara Lucia Siqueira Dantas completaria 35 anos de entrada no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em 2019 – uma parte considerável deles dedicada à pesquisa e à prestação de serviços na área de embalagens.
Rogério Parra (à esquerda), pesquisador do IPT e também marido e colega de trabalho de Mara, recebe homenagem póstuma a pesquisadora
Rogério Parra (à esquerda), pesquisador do IPT e também marido e colega de trabalho de Mara, recebe homenagem póstuma a pesquisadora
Pela contribuição científica ao setor, que incluiu o aprimoramento de normas técnicas e de processos e produtos de empresas, além do desenvolvimento de projetos de pesquisa, sobretudo ligados a resíduos, Mara, que faleceu em janeiro deste ano, foi homenageada com uma placa na cerimônia da 28ª Edição do Prêmio Embanews.

Quem recebeu a homenagem foi Rogério Parra que, além de pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), também era marido e colega de trabalho de Mara. É ele quem conta um pouco sobre a trajetória profissional da esposa. “A Mara chegou aqui no IPT em 1984, já com alguma experiência no setor de embalagens. Trabalhou por um tempo no então Laboratório de Plásticos, e teve a oportunidade de avaliar embalagens plásticas de açúcar, que são usadas até hoje e viriam a substituir as de papel empregadas na época”, conta. “Foi assim que ela chegou ao Laboratório de Embalagens, e passou de técnica a pesquisadora em 1989”.

Já no Laboratório de Embalagens, Mara iniciou o mestrado sob orientação do engenheiro químico José Mangolini, cujo tema girou em torno da degradação de embalagens laminadas de papel, alumínio e plástico – conhecidas popularmente como ‘caixinhas longa vida’ – em condições de lixões e aterros sanitários. “A Mara estudou a degradação das embalagens de duas empresas, através da criação de uma metodologia para simular as condições do ambiente nesses locais. Era um trabalho em duas frentes, pois havia outro pesquisador com o mesmo orientador estudando como fazer a reciclagem das embalagens”, explica Parra. “Enquanto ele estudava como reciclar, ela se concentrava no que aconteceria caso não fossem recicladas”.

Mara desenvolveu um método para o estudo de degradação de qualquer tipo de embalagem, correlacionando situações reais de campo e condições controladas de laboratório. Ele entrou no portfólio de projetos que levaram o IPT a vencer o Prêmio de Inovação FINEP em 2002. No futuro, o método seria aplicado no estudo da degradação de sacolinhas plásticas e suas versões biodegradáveis que surgiram ao longo dos anos. “Ela era convidada para assembleias legislativas e câmara de vereadores, a fim de subsidiar a decisão dos legisladores sobre a proibição do uso das sacolinhas ou de determinados aditivos nos produtos, com base em sua competência técnica”, diz o pesquisador.

Outro ponto alto da carreira de Mara, segundo o marido, foi um projeto desenvolvido com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que buscava opções de reciclagem para latas de aço. “Ocorreu no início dos anos 2000. As latas de alumínio eram muito valorizadas para a reciclagem, mas as de aço, não, embora elas possam ser derretidas e transformadas em novos produtos.
Mara completaria 35 anos de entrada no IPT em 2019 – uma parte considerável deles dedicada à pesquisa e à prestação de serviços na área de embalagens
Mara completaria 35 anos de entrada no IPT em 2019 – uma parte considerável deles dedicada à pesquisa e à prestação de serviços na área de embalagens
A Mara era também professora do Centro Universitário Belas Artes, e propôs aos alunos um prêmio para quem oferecesse as melhores soluções semi-industriais de reciclagem do produto”, conta.

Segundo Parra, a característica semi-industrial fazia toda a diferença, pois uma solução artesanal não seria vantajosa a ponto de os catadores recolherem as latas – já que não haveria produção contínua nas cooperativas – enquanto uma em larga escala não teria uma demanda possível de ser atendida. O IPT apoiou os alunos a desenvolverem seus projetos, orientando individualmente e provendo ferramentas e técnicas para produção de protótipos.

Um júri independente escolheu as melhores ideias, os alunos autores intelectuais foram premiados e os produtos foram patenteados pelo IPT e CSN. Os protótipos dos alunos viraram exposições no Instituto, Centro Universitário Belas Artes, Sesc Interlagos, Universidade Presbiteriana Mackenzie e na Oca do Parque Ibirapuera. O IPT ainda repassou a tecnologia a duas cooperativas para colocá-las em prática. “O resultado foi realmente de valor social: ela conseguiu integrar conhecimento acadêmico, indústria e sociedade. Poucos projetos fazem isso”, afirma Parra.

Mara ainda participou de comitês de normas que mudaram as exigências de produtos no País, como sacos de lixo, contentores flexíveis, embalagens para o transporte de produtos perigosos, garrafas termosanitárias contentores para uso em plataformas off-shore, e caixas para coleta de perfurocortantes de resíduos de serviços de saúde.

Ela ainda prestou serviços a grandes empresas, como a Natura, ajudando a definir o protocolo de testes para desenvolvimento de embalagens, e os Correios, com a especificação de materiais e uma série de palestras em rede nacional, principalmente voltadas ao meio ambiente, para a escolha de embalagens que pudessem ser recicladas. Também foi ela quem definiu o atual projeto da caixa da urna eleitoral eletrônica para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Estávamos escrevendo um projeto juntos para embalagens hortícolas, que estava dentro de um edital de projetos de combate à fome. Ela já havia iniciado reuniões com a Ceagesp [Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo] e com a Abre [Associação Brasileira de Empresas Fabricantes de Embalagens]. Daríamos um salto de qualidade muito grande. Infelizmente, não deu tempo. Mas sei que ela teria tocado isso com muita qualidade”, termina Parra.

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