Menos burocracia, mais inovação

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Incentivo à inovação, fomento à pesquisa nas empresas com recursos não reembolsáveis e compartilhamento do risco de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D&I): contar com estes benefícios de uma só vez parece algo quase impossível para as organizações, mas não é. Com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e suas unidades, as empresas passaram a vislumbrar um caminho e buscar parceiros para investir em projetos de inovação e ganhar espaço no mercado.

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) atua como unidade Embrapii nas áreas de Desenvolvimento de Tecnologias de Materiais e de Desenvolvimento e Escalonamento de Processos Biotecnológicos. Em entrevista para o Radar Inovação, publicação da Inventta que reúne notícias, artigos e estudos relacionados à inovação, Flavia Gutierrez Motta, gerente da Coordenadoria de Planejamento e Negócios do IPT, explica que são muitos os benefícios de uma empresa desenvolver projetos com a instituição, como o acesso aos laboratórios de pesquisa e à competência dos profissionais e do corpo técnico.

O tempo entre o primeiro contato da empresa até a assinatura do contrato e o início do projeto, a prestação de contas do projeto, o compartilhamento da propriedade intelectual, o número de projetos já financiados e o que falta para a ampla participação das empresas no IPT são alguns dos temas discutidos por Flavia.

Leia a entrevista completa abaixo ou diretamente no site da Inventta clicando aqui.

Qual o principal objetivo do IPT no mercado brasileiro?

Desenvolver soluções para aumentar a competitividade das empresas nacionais. O que realmente importa para a instituição é gerar inovação e conhecimento para as empresas parceiras no intuito de melhorar a sociedade como um todo.

O IPT foi uma das primeiras instituições junto ao Embrapii, importantes na validação de seu programa de inovação. Qual o fator essencial para o sucesso da iniciativa?

O programa é muito desburocratizado e diferente dos outros fomentos. Há dois fatores de sucesso. Primeiramente, a Embrapii faz uma seleção muito rígida do tema que a instituição poderá atuar e só escolhe aquelas que se destacam em uma área do conhecimento que já tem experiência no desenvolvimento de projetos com empresas. Este é o grande ganho: a Embrapii faz a seleção e identifica para as empresas quem tem as competências nas determinadas áreas. O outro fator de destaque é que para contratar o projeto, o processo é sem burocracias. Não depende de avaliação do projeto e de uma agência de fomento, que demora um tempo para responder e tem um prazo para avaliar o contrato. Atualmente, essa desburocratização é muito relevante. Estamos falando de inovação, que tem tempo e um mercado para atender.

Quais são as principais áreas em que o IPT, como Unidade Embrapii, desenvolve projetos?

O IPT atua como Unidade Embrapii em duas áreas: de Desenvolvimento de Tecnologias de Materiais e de Desenvolvimento e Escalonamento de Processos Biotecnológicos. Na área de materiais, fazemos o desenvolvimento de ligas metálicas e de materiais para melhorar a proteção contra a corrosão. Outro enfoque é o desenvolvimento de materiais cerâmicos, compósitos e de nanotecnologia. Na área de biotecnologia, a atuação está em operar de maneira escalonada, pensando em atender todo tipo de mercado.

Quais setores são atendidos pelo IPT?

Na cadeia da construção civil, o IPT trabalha muito com as indústrias produtoras de materiais. A indústria cimenteira, por exemplo, é um grande cliente. Na área de aeronaves, temos a Embraer, que tem sido um grande parceiro, porque nos materiais compósitos, essa é uma grande tendência, tanto no setor aeronáutico como no automobilístico. Nos setores siderúrgico e metalúrgico também atuamos bastante, assim como no de mineração. O IPT também trabalha com o segmento de higiene pessoal, farmacêutico, de petróleo e gás, pensando, principalmente, em corrosão e nanotecnologia. Já na parte de biotecnologia, a instituição atende a indústria de fertilizantes, que trabalha para a agricultura. Por fim, as startups de biotecnologia buscam muito o IPT para fazer projetos em parceria.

Qualquer empresa pode procurar o IPT?

Sim, qualquer empresa com CNPJ no Brasil, desde que desenvolva uma tecnologia para colocar no mercado. Essa é a nossa restrição. Se a empresa não coloca a tecnologia no mercado, perde a exclusividade. Com isso, a solução volta para o IPT. O governo estabeleceu essa restrição, porque o grande objetivo é financiar uma inovação que gere divisas para o Brasil, emprego e competitividade para as empresas brasileiras. O que não queremos é desenvolver uma tecnologia que a empresa engavete só para defender mercado. Essa estratégia não é aceitável. O objetivo é gerar desenvolvimento para o mercado como um todo.

Quanto tempo demora, em média, entre o primeiro contato da empresa com o IPT até a assinatura do contrato e início do projeto?

O processo varia de dois meses a um ano. Há empresas que chegam ao IPT com a estratégia de inovação muito bem definida, o que contribui para o andamento rápido do processo. Uma empresa madura, que tem esse processo consolidado, sabe o que quer e o que priorizar, é muito fácil negociar. Já a companhia que está se estruturando, mas já está com foco mais claro, também pode avançar. No entanto, as organizações que estão começando a pensar em inovação e não tem uma política definida, não tem etapas e processos de inovação, é mais difícil. É uma constatação que já fizemos. Quando a empresa procurar o IPT para prospectar ideias, transformar em projetos e calcular o orçamento, o caminho fica mais longo.

Quais são os benefícios para a empresa em desenvolver um projeto em conjunto com o IPT?

Muitas vezes, as empresas sabem que precisam desenvolver um projeto que vai ser relevante para sustentabilidade e competitividade dos negócios, mas não tem fôlego para fazer isso. Não tem equipe com a competência necessária para tratar aquele assunto como prioritário, e não tem infraestrutura, como laboratório adequado para pesquisa. Com isso, há vários benefícios em desenvolver um projeto em conjunto com o IPT, como o acesso à estrutura, bem como à competência dos profissionais e do corpo técnico. Esses pesquisadores e técnicos vão focar somente naquele projeto durante o tempo de execução. Tudo isso é um grande pacote de vantagens. Além disso, tem a questão de que a empresa está investindo em inovação e está dividindo o risco com o governo e com o próprio IPT. Vale ressaltar que o IPT disponibiliza 20% do valor do projeto e quer fazer dar certo. A Embrapii entra com 33% e a empresa entra com uma contrapartida financeira de 47%, que é aportada ao longo da execução do projeto.

Como é feita a prestação de contas do projeto?

A empresa contrata o projeto, coloca o recurso, ganha todos os benefícios e faz a transferência de tecnologia. Toda a parte de prestação de contas fica a cargo do IPT e nada resvala na empresa. A companhia fica blindada. Tudo é feito com extremo cuidado e não temos problema com a prestação de contas.

Em termos de compartilhamento da propriedade intelectual, qual tem sido a política do IPT?

Há um compartilhamento da propriedade, sendo 50% da empresa e 50% do IPT. A empresa tem total exclusividade para explorar a tecnologia, desde que, constatada sua viabilidade, seja colocada no mercado, o que é uma obrigação. Não temos a mínima pretensão de ganhar sobre a empresa. A missão do instituto é desenvolver tecnologia para a sociedade. Os royalties são remunerações adicionais que usamos até como premiação para os pesquisadores.

É possível informar quantos projetos já foram financiados e qual o valor investido até o momento?

A Embrapii já financiou cerca de 200 projetos, com valor médio de R$ 1,5 milhão por iniciativa. Desse total, 31 projetos foram desenvolvidos pelo IPT desde que começou a atuar como Unidade Embrapii.

Pode citar algum projeto que tenha se destacado?

Muitas iniciativas se destacaram nos últimos anos, mas tivemos um projeto, em conjunto, que foi muito interessante. Quatro empresas concorrentes no mercado se juntaram para financiar uma tecnologia que é pré-competitiva. As empresas tinham o intuito de dominar a tecnologia. Conseguimos uma negociação entre as companhias para que fosse formatado o escopo técnico que atendesse a todas. O IPT fez o desenvolvimento do projeto, que teve uma parte compartilhada, em que todas absorveram conhecimento, e outra parte sigilosa, em que cada uma foi direcionada para um mercado específico. Nesse projeto, a contrapartida dos 47% foi dividida pelas quatro empresas, o que foi vantajoso para todas.

Apesar de o país viver hoje uma crise política e econômica, o que você percebe nas empresas em relação à inovação? Elas estão mais interessadas no assunto?

A inovação entrou na pauta das empresas de uma forma bastante forte, como já vivemos com a qualidade na década de 80. O país está em crise, muitas companhias com restrição orçamentária, isso é um fato, mas também é senso comum que a inovação é a saída da crise. Muitas empresas querem desenvolver um projeto, mas a negociação demora um pouco mais até ela conseguir um alinhamento interno de todas as áreas, para ter a certeza do tema do projeto. O problema, muitas vezes, é mais interno.

O que ainda falta para a ampla participação das empresas no IPT?

O modelo de negociação da Embrapii é algo novo. Embora o IPT já atue com a instituição desde 2013, ainda é uma coisa nova no mercado e nem todas as empresas conhecem. Com isso, ainda existe a desconfiança do novo. É preciso divulgar a Embrapii e permear o assunto para que o programa ganhe força e perpetue. Estamos trabalhando arduamente para isso, para que todos conheçam o programa, seus benefícios e resultados.

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