Tecnologia 118.0

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A celebração dos 118 anos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) é momento de reflexão. Desde sua fundação, em 1899, o Instituto tem pautado suas ações em busca de soluções tecnológicas para o setor produtivo e as políticas públicas nacionais. Afinal, nos intervalos de bonança, a tecnologia integra o rol dos investimentos; nas crises, torna-se parte das soluções.

Atento aos desafios tecnológicos que hoje se colocam para o setor produtivo brasileiro, e a sociedade em geral, o diretor-presidente do IPT, Fernando Landgraf, respondeu a algumas perguntas que dão conta de possíveis intervenções da instituição na busca de soluções. Não se pretende dar conta de tudo, mas apontar caminhos e possibilidades. Afinal, o IPT acumulou competências e expandiu multidisciplinaridade, fruto do trabalho de gerações de pesquisadores.

Por ocasião do aniversário do IPT, em vez de contar um pouco de história, Landgraf percorre nossos desafios tecnológicos rumo ao futuro, vislumbrando sempre pelo retrovisor o acervo de conhecimentos acumulados nestas décadas.
Fernando Landgraf: fortalecer a cultura de inovação é o desafio do IPT
Fernando Landgraf: fortalecer a cultura de inovação é o desafio do IPT
O resultado é o artigo a seguir. “Temos que caprichar, mas só o futuro dirá se acertamos ou não”, comenta Landgraf diante do mar de incertezas do porvir.

Reflexões nos 118 anos do IPT

Desafios tecnológicos – “A cada aniversário do IPT tentamos imaginar os melhores caminhos a tomar para aproveitar as oportunidades que nossas equipes identificam em suas prospecções. Uma oportunidade que nos parece preciosa é a que nasce associada à ideia de que estamos à beira de uma revolução industrial. Tal percepção sugere que estamos próximos a grandes mudanças no jeito de fazer as coisas que fazemos, e mudanças no tipo de demanda que receberemos.

Como o nosso negócio é o uso da tecnologia para aumentar a competitividade das empresas e a qualidade de vida dos brasileiros, a transformação digital ou ‘digitização’ deverá mudar a demanda que receberemos dos clientes, sejam eles industriais, órgãos ou empresas governamentais. Temos que correr para atender a essas demandas. Nossa reputação está baseada na confiabilidade dos resultados de nossos ensaios, análises, calibrações, assessorias, softwares, consultorias ou projetos de pesquisa.

Já estamos tendo demandas desse mundo digital, a exemplo da calibração de sensores virtuais, transposição automática de resultados de análise para relatórios digitais, monitoramento online de obras civis, acompanhamento da sanidade de árvores e áreas de risco, entre inúmeros casos. Foi possível executar a maioria desses trabalhos sem grande esforço. Entretanto, outras solicitações poderão ser muito mais desafiadoras. Há décadas os pesquisadores do IPT têm feito modelamentos numéricos de esforços, de vazão e de processos, mas alguns clientes sinalizam que esperam do Instituto resultados mais sofisticados.”

Indústria 4.0 – “Diferentes grupos do IPT trabalham há anos com impressão 3D, drones, escaneamento a laser e sensoriamentos especiais. A demanda parece estar se acelerando e a competição aumentando. Algumas empresas já oferecem esses tipos de serviço. Como colocar-se à frente? Um dos grandes desafios é a simulação de processos em tempo real, usando modelos matemáticos fenomenológicos. Os especialistas com quem temos conversado indicam que, hoje, ainda não existe poder computacional suficiente para realizar essa tarefa. Um deles afirmou que ‘a computação quântica poderá ser uma solução…se e quando vier, talvez daqui a dez anos’.

Enquanto isso, para otimizar os processos, usaremos modelos bem simplificados ou redes neurais. As redes neurais supõem uma caixa preta, em que prescindimos da suposição de que fenômenos estejam acontecendo, bastando-nos um algoritmo para correlacionar entradas e saídas. Estaremos diante de uma mudança radical no campo da ciência aplicada? Ou será possível juntar aquelas duas abordagens? É possível que, em breve, parte importante de nossas equipes venha a lidar com esse tipo de solução.

Vamos nos preparar para isto capacitando-nos, trazendo bolsistas que nos ajudem a vencer os desafios. Para isso estamos articulando propostas de projetos com a Fapesp e a Finep. Serão investimentos da ordem de R$ 50 milhões. Temos várias equipes trabalhando nessas propostas. Há riscos quanto às escolhas tecnológicas e até de não conseguirmos os recursos necessários, mas o futuro é feito de incertezas e apostas.”

O papel das patentes – “O número de patentes depositadas pelo IPT no INPI é uma pequena parte do que é lá depositado anualmente. Do ponto de vista numérico e imediato, nossa contribuição é pequena. Porém, nossa insistência no desafio de aumentar o número de patentes está ligada à ênfase dada por nós à cultura da inovação. Criar é importante, garantir nossa propriedade intelectual mais ainda. Só temos certeza de que criamos algo novo quando essa criação é reconhecida na forma de uma patente.

Escrever uma patente é algo completamente diferente de escrever um relatório, ou mesmo um artigo. É uma arte que temos que aprender a realizar e compartilhar. Não se pode esperar uma repercussão significativa no orçamento do IPT, quanto mais no PIB brasileiro. Mas temos que aprender a fazer isso, se quisermos de fato trabalhar com inovação, que é o caminho para a competitividade e a consolidação da indústria nacional no ambiente global. Conceber um plano de trabalho tendo em vista a possibilidade de resultar em patente é completamente diferente de preparar um plano de trabalho para um contrato com um cliente – ou mesmo para um projeto de capacitação, que é como costumamos fazer. O objetivo é fortalecer a cultura de inovação. Este é o nosso desafio”.

A força das parcerias – “A Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) está provocando uma transformação profunda no processo brasileiro de desenvolvimento tecnológico baseado na parceria ICT-Empresa. Essa transformação havia começado com o programa Funtec, do BNDES, e o programa Pite, da Fapesp. A Embrapii avançou em muitos aspectos. O que há em comum nos três modelos é a disposição do governo, seja ele estadual ou federal, em compartilhar o custo do risco de determinado desenvolvimento e pagar parte dos custos.

Também é comum aos três a exigência de desembolso financeiro, e não mais a prática anterior de aceitar uma contrapartida ‘econômica’. Ou seja, colocar no rol dos investimentos custos dos engenheiros, insumos, amostras ou algo similar. Ao exigir desembolso de dinheiro, e atribuir esse dinheiro à instituição de pesquisa, os três programas obrigaram as empresas a valorizar os projetos, a avaliar se eram de fato bons investimentos e a acompanhar os resultados.

A diferença fundamental introduzida pela Embrapii foi a rapidez na decisão. Projetos demoravam mais de 12 meses para sair, o que torna-se absurdo diante do objetivo de inovar, e pressupõe chegar na frente dos concorrentes.

As áreas que cuidam dos processos contratuais no IPT – Diretoria de Inovação e Negócios e Coordenadoria de Planejamento e Negócios – já desenvolveram tão bem os procedimentos legais que, dificilmente, alguém poderá dizer que o Instituto causou atraso numa negociação. Com isto, muitas empresas acabam optando pelo uso de recursos Embrapii, mesmo que o seu desembolso seja maior do que se fosse pela Fapesp ou BNDES. É claro que a crise político-econômica dos últimos dois anos atrasou o crescimento dos negócios nessa direção, mas esta situação deverá passar e retomaremos o caminho do sucesso.

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