Diagnóstico ambiental

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O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) deve concluir em outubro um projeto que demandou mais de dois anos de trabalho dos pesquisadores do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas no pátio de trens da Lapa, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), sobre as condições ambientais do terreno, um dos mais antigos aparelhos ferroviários do País.

O projeto contratado pela CPTM junto ao IPT foi possível graças à estrutura implantada no Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas tanto pelo programa de modernização do Instituto propiciado pelo Governo do Estado de São Paulo (2008), como pelos investimentos feitos com o projeto de remediação de áreas contaminadas por organoclorados, realizado em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), entre 2009 e 2013.
Pesquisadores do IPT avaliam o solo do pátio da Lapa, da CPTM, há dois anos
Pesquisadores do IPT avaliam o solo do pátio da Lapa, da CPTM, há dois anos
A expertise adquirida e a repercussão positiva gerada motivaram a CPTM a contratar o IPT para realizar a avaliação ambiental do pátio, que hoje é vizinho de condomínios residenciais e uma zona urbana densamente populosa.

O pátio ferroviário da Lapa foi inaugurado no final do século 19 como um dos primeiros centros de manutenção de trens do Brasil. Com mais de 440 mil metros quadrados, está rodeado por um trecho da Marginal do Rio Tietê, pelos bairros adjacentes da Lapa e do Piqueri, na zona oeste de São Paulo. Originalmente construído para abrigar as composições, serviu como oficina de reparos de trens e de maquinário de manutenção de vias, depósito de materiais e produtos químicos e desmonte de vagões. Entre os anos 1960 e 1990, ainda foi utilizado para fabricação de trens, muitos dos quais seguem rodando até hoje.

O projeto – iniciado em julho de 2014 – tem como objetivo produzir um diagnóstico ambiental da área como um todo, tendo-se em vista que estudos anteriores já haviam sido feitos, porém de modo fragmentado, focando apenas locais específicos do pátio. Assim, a equipe do IPT organizou o projeto em etapas: o diagnóstico inicial, a avaliação preliminar, a investigação confirmatória, as medidas emergenciais, a investigação detalhada, a avaliação de risco à saúde humana e, enfim, o plano de intervenção. As etapas seguiram o procedimento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), considerado referência no assunto em toda a América Latina.

Segundo o pesquisador e gerente do projeto Leandro Gomes de Freitas, do Centro de Tecnologias Geoambientais do IPT, o trabalho pode ser considerado um sucesso por diversos fatores. Além da utilização de métodos e ferramentas inovadoras – o que possibilitará a entrega de um trabalho robusto à CPTM –, o projeto ainda possibilitou a aquisição de expertise pelos pesquisadores tanto na aplicação das técnicas como no manuseio dos equipamentos, muitos deles ainda pouco utilizados no Brasil. “Além de utilizarmos nossa experiência, ensaiamos novos procedimentos, aperfeiçoamos alguns métodos, treinamos técnicos e estagiários, e vamos publicar artigos com os dados gerados no projeto”, revela ele.

Para Freitas, porém, o grande trunfo do projeto foram as avaliações prévias da área que foram feitas antes das investigações com métodos tradicionais. Foram utilizadas, por exemplo, técnicas de varredura com equipamentos portáteis, que possibilitam medições de gases e análises de contaminantes no solo superficial. São técnicas já usadas no mercado, mas que foram adotadas nesse projeto por meio de um roteiro adaptado ao tamanho e à complexidade da área.

O método tradicional consiste em realizar sondagens para coletar amostras do solo e instalar poços de monitoramento de água subterrânea. Isso geralmente é feito com critérios simples e sem conhecimento adequado da área.
Equipe do IPT trabalha em um dos galpões do pátio da Lapa
Equipe do IPT trabalha em um dos galpões do pátio da Lapa
“O método que o IPT empregou possibilitou o estabelecimento de um modelo conceitual consistente, considerando toda a complexidade da área. Um trabalho com esse nível técnico não é comum no mercado. Pode-se dizer que o estudo é uma referência para a própria CPTM, pois não há um trabalho desse porte no tema”, completa o pesquisador.

Nesses dois anos foram executadas centenas de sondagens na área, instalados 128 poços de monitoramento e coletadas mais de 500 amostras de solo e água subterrânea, as quais foram analisadas para obter-se parâmetros químicos e físicos. Foi utilizado maquinário e infraestrutura laboratorial do próprio IPT, como também foram contratados prestadores de serviços externos para agilizar o processo.

Segundo Freitas, dois métodos podem ser destacados na investigação da área: um é a varredura de contaminantes no solo superficial por fluorescência de raios-X (XRF), realizada com um equipamento portátil, que possibilita uma análise rápida do teor de metais no solo. Com este dispositivo, 211 amostras foram analisadas, o que possibilitou a definição de um plano de amostragem para delimitação das plumas dos contaminantes.

O outro são as sondagens com a Membrane Interface Probe (MIP), uma ponteira instrumentada que, ao ser introduzida no terreno por uma perfuratriz, possibilita a detecção de contaminantes orgânicos em tempo real, na escala de centímetros. Com esse dispositivo, definiram-se as profundidades exatas para a coleta de amostras confirmatórias.

Neste momento, a equipe está concluindo a investigação detalhada, o que permitirá determinar o nível de risco existente aos usuários do local. O serviço será finalizado com a entrega de um relatório final sobre o diagnóstico do local, com as conclusões sobre a situação momentânea e as medidas necessárias para solucionar possíveis passivos ambientais do terreno.

 

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