Um dos principais fatores que influenciam o desempenho de um ciclista é a resistência do ar. Quanto menos resistência o atleta oferecer ao ar, mais eficiente será sua pedalada e menos energia ele gastará – em uma competição de triathlon, esse é um detalhe crucial porque o esporte inclui provas de natação, ciclismo e corrida. O triatleta Igor Amorelli, recordista sul-americano na modalidade Ironman e o único brasileiro a vencer uma etapa da competição no Brasil, foi o primeiro atleta a realizar testes de aerodinâmica em um túnel de vento no País, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
O objetivo dos ensaios no túnel de vento foi o levantamento de dados para subsidiar estudos de postura que deverão diminuir a área frontal de Amorelli, como as posições de ombros, cabeça e braços em cima da bicicleta, melhorando sua aerodinâmica e reduzindo, assim, o arrasto (resistência) causado pelo ar. A partir das informações coletadas, o ciclista e sua equipe poderão avaliar também a necessidade de reconfigurar a bicicleta, sem esquecer a questão do conforto necessário para enfrentar os 180 km de bicicleta, 3,8 km de natação e 42,195 km de corrida da categoria Ironman.
Os ensaios no IPT serão uma parte importante do treinamento para que o brasileiro melhore os seus resultados: “Em uma prova grande como o Ironman, qualquer detalhe faz a diferença, especialmente na bike. A resistência do vento é o nosso maior inimigo no ciclismo. Estou aqui para ajustar a posição do corpo, do capacete e até mesmo das garrafinhas de água, pois a simples mudança no formato de um squeeze pode ajudar a economizar energia. Uma boa aerodinâmica me ajudará não apenas a me tornar mais veloz, mas também a economizar mais energia para a última prova do triathlon, que é a corrida”, explica Amorelli, que é o único sul-americano a completar o percurso do ciclismo no Ironman Triathlon em menos de oito horas.
Os testes feitos no túnel de vento contaram com a presença de um fisioterapeuta e profissional de bike fit, Fernando Rianho, que simulou situações em que o atleta se encontra na competição e coletou dados durante os ensaios levando em conta características da anatomia e da biomecânica. No Ironman, o triatleta deve pedalar sozinho e não pode se aproveitar do vácuo de outros competidores à sua frente, o que torna a posição em cima da bicicleta fundamental para o bom desempenho.
“Diferentes posições foram ensaiadas para encontrar as mais eficientes. Lá fora, existem instituições que fazem testes em túnel de vento, e alguns atletas já tinham me dado feedback comentando que pequenas mudanças, como abaixar o cotovelo ou levantar a posição do tronco, trouxeram benefícios”, afirma Amorelli. Uma das próximas competições do atleta deve ser a prova do Campeonato Mundial em Kona, no Hawaii, que é realizada em um dos locais em que mais venta no mundo: “Os ciclistas sofrem muito na etapa final dessa prova, com rajadas de vento em todas as direções, em um momento em que estamos mais desgastados. Assim é preciso estar preparado para enfrentar este desafio”.
PROJETO MULTIDISCIPLINAR – O ensaio foi realizado na velocidade do vento em 50 km/h para medição do arrasto em várias posições. Um fator importante a ser considerado nesse tipo de ensaio é a área projetada do ciclista, que tem influência direta em sua resistência ao avanço. “A bicicleta tem uma área projetada pequena em comparação à do atleta, e a principal alteração que deverá ser feita será no posicionamento do ciclista, ou seja, o quanto ele conseguirá reduzir da área do seu corpo que fica exposta ao vento”, afirma o pesquisador Gabriel Borelli, do Laboratório de Vazão do IPT.
Em razão de Amorelli ser um triatleta e não existir a exigência dos mesmos índices de velocidade para as provas curtas, Borelli ressalta que será preciso existir um balanço entre o conforto e uma posição aerodinamicamente de menor arrasto: “Não seria possível colocar simplesmente o atleta na melhor posição aerodinâmica porque ele não teria condições de gerar força. É preciso encontrar uma posição para ele desenvolver o máximo de potência e gastar menos energia – em outras palavras, a intenção é que o ciclista conheça uma, duas ou três posições que sejam eficientes para adotar durante a realização da prova”.
Segundo o pesquisador, a infraestrutura necessária para a execução dos ensaios combinou as competências do Laboratório de Vazão com a instalação no túnel de vento para a fixação da bicicleta de um trilho, uma célula de carga de tração e um suporte comumente empregado no carro dinanométrico instalado no tanque de provas de reboque, todos do Laboratório de Engenharia Naval e Oceânica do IPT. A partir da execução dos primeiros ensaios, a intenção do laboratório é oferecer os serviços até então inéditos no Brasil tanto para ciclistas profissionais quanto amadores.