Apesar da cobertura total pela coleta seletiva de resíduos porta a porta no bairro Centro de Bertioga, 51,1% dos moradores desconhecem o serviço oferecido pela prefeitura – por outro lado, 52,3% deles colaboram para a destinação correta do lixo de alguma forma, como o envio de material reciclável aos postos de entrega voluntária que estão espalhados pela cidade: esta é uma das primeiras conclusões do IPT na nova fase do projeto de pesquisa RSU Energia, que avalia alternativas de separação e tratamento de resíduos sólidos urbanos e teve início no final do mês de maio. Os dados coletados servirão como base para o detalhamento de ações futuras visando avaliar alternativas que aumentem a quantidade de resíduos destinados à coleta seletiva.
Maior região administrativa da cidade, o bairro Centro produz em sua totalidade cerca de 2.120 quilos de resíduos sólidos urbanos diariamente e foi o selecionado para a coleta de dados por meio de entrevistas pessoais em um período de três dias. As condicionantes para a escolha do bairro foram o atendimento pela coleta seletiva (não são todas as áreas do município que são cobertas pelo programa municipal de coleta seletiva porta a porta), a presença de veranistas e a existência de uma área comercial, para que fosse possível compor um retrato do município. Cerca de 90 entrevistas foram feitas por meio de uma escolha aleatória de residências no bairro, utilizando um método estatístico para a definição do tamanho da amostra.
As primeiras atividades no bairro haviam sido dedicadas à caracterização e à quantificação dos resíduos gerados pela população, destinados tanto à coleta regular quanto à seletiva. A equipe de pesquisadores realizou um levantamento para saber a composição física e gravimétrica dos resíduos no bairro. Esse procedimento é usado para conhecer o percentual de cada componente presente em uma massa de resíduo e avaliar o potencial de reciclagem. Os dados da coleta regular apontaram a predominância de materiais orgânicos e contaminantes biológicos (59,6%), vindo a seguir papel/papelão (16,1%) e materiais poliméricos (15,8%); no caso da coleta seletiva, o papel/papelão respondeu por pouco mais da metade do material separado (55,2%) e, em seguida, os materiais poliméricos (13,8%).
“Queremos entender o que esta população está gerando e também o grau de importância que ela dá ao problema, a fim de levantar as dificuldades e obter subsídios que ajudem a elaborar um plano de intervenção e, no futuro, melhorar a adesão à coleta seletiva e, consequentemente, a limpeza urbana”, explica a pesquisadora do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas do IPT, Claudia Echevenguá Teixeira, que é também coordenadora do projeto. A participação da população em atividades que melhorem a gestão de resíduos pode ser prejudicada, segundo ela, pela ineficiência dos coletores, infraestrutura insuficiente, falta de informações sobre os sistemas de coleta e separação, mau planejamento das rotas de coleta e insuficiência no número de caminhões para garantir um atendimento adequado à demanda.
Posteriormente foi realizada então a avaliação de percepção dos cidadãos por meio da aplicação do questionário, com perguntas destinadas a identificar fatores associados à geração, à forma de manejo dos resíduos e à importância dada pela população ao tema.
QUESTIONÁRIO E RESULTADOS – O questionário de 57 perguntas foi elaborado pela equipe do projeto em parceria com uma mestranda em Gestão Ambiental e Sustentabilidade da Universidade Nove de Julho que participa do Projeto Novos Talentos do IPT, Natalia de Araújo. “As perguntas foram organizadas de maneira a dar a possibilidade de inter-relacionar informações, a fim de entender como o perfil do respondente – grau de escolaridade, faixa social e sexo, por exemplo – afeta as respostas, assim como saber como é a geração de resíduos (os cidadãos cozinham em casa ou não, por exemplo), o manuseio dos resíduos (fazem a separação ou não; participam da coleta seletiva) e o grau de preocupação com a questão dos resíduos”, explica Claudia.
“Fizemos as entrevistas em um final de semana prolongado, no feriado de 26 de maio (Corpus Christi), porque era necessário coletar informações tanto de moradores quanto de veranistas”, completa a pesquisadora Letícia dos Santos Macedo, também do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas.
Os primeiros resultados computados pelos pesquisadores mostram que existe um potencial de alcançar um índice de 38,4% do total de resíduos sólidos gerados no bairro para a coleta seletiva (materiais recicláveis e rejeitos), mas somente 2,5% dele tem hoje esta destinação. “No entanto, um fato positivo já chamou a atenção: o nível de contaminação do material separado e recolhido é pequeno”, afirma Claudia. “Isso demonstra que, apesar da mobilização não ser tão alta, as pessoas fazem corretamente a separação dos materiais e não misturam material orgânico, por exemplo, com garrafas plásticas e vidro”.
Claudia lembra que o resíduo é uma matéria-prima secundária e, para que qualquer tecnologia tenha êxito e gere algum benefício, como energia, é necessária a disponibilidade de matéria-prima – e isso depende da separação, uma atividade em que a população desempenha um papel fundamental. “A operação torna-se mais complicada quando a separação não ocorre na origem. Mesmo com a existência de uma operação mecanizada, é difícil melhorar o desempenho de um sistema de aproveitamento sem a participação dos cidadãos”, completa ela. “Queremos medir tecnicamente a capacidade de estimular a população com uma série de ações educacionais, além da ampliação de postos de entrega voluntária (PEVs) e da coleta porta a porta, por exemplo”.
Um dos principais desafios do projeto no município (talvez o maior) será como tratar a questão da sazonalidade, com populações flutuantes e comportamentos diferentes: os resíduos gerados pelos veranistas, explica Letícia, são bem típicos: eles geralmente não cozinham em casa e seus resíduos são menos misturados. “Será preciso encontrar o ponto ótimo, para que o equipamento a ser construído ou instalado não fique ocioso, nem tampouco deficiente na operação”, explica Claudia. “Para manter um sistema funcionando, será necessária a entrada de matéria-prima ao longo do tempo e uma avaliação de quem irá ‘sustentar’ o sistema, ou seja, a população de moradores com ou sem a participação dos veranistas. A solução a ser adotada deve ser aquela que atenda melhor às pessoas, mas que seja a mais viável economicamente”.
Após a análise e a interpretação dos resultados, os pesquisadores do IPT irão se reunir com equipes da Secretaria de Meio Ambiente da prefeitura, da Cooperativa de Sucata União de Bertioga (Coopersubert) e da empresa responsável pelo serviço de coleta de resíduos para a identificação de oportunidades e definição de estratégias. Um programa de intervenção para a população, com a definição de metas e a elaboração de estratégia de sensibilização, virá em seguida.
Maior região administrativa da cidade, o bairro Centro produz em sua totalidade cerca de 2.120 quilos de resíduos sólidos urbanos diariamente e foi o selecionado para a coleta de dados por meio de entrevistas pessoais em um período de três dias. As condicionantes para a escolha do bairro foram o atendimento pela coleta seletiva (não são todas as áreas do município que são cobertas pelo programa municipal de coleta seletiva porta a porta), a presença de veranistas e a existência de uma área comercial, para que fosse possível compor um retrato do município. Cerca de 90 entrevistas foram feitas por meio de uma escolha aleatória de residências no bairro, utilizando um método estatístico para a definição do tamanho da amostra.
As primeiras atividades no bairro haviam sido dedicadas à caracterização e à quantificação dos resíduos gerados pela população, destinados tanto à coleta regular quanto à seletiva. A equipe de pesquisadores realizou um levantamento para saber a composição física e gravimétrica dos resíduos no bairro. Esse procedimento é usado para conhecer o percentual de cada componente presente em uma massa de resíduo e avaliar o potencial de reciclagem. Os dados da coleta regular apontaram a predominância de materiais orgânicos e contaminantes biológicos (59,6%), vindo a seguir papel/papelão (16,1%) e materiais poliméricos (15,8%); no caso da coleta seletiva, o papel/papelão respondeu por pouco mais da metade do material separado (55,2%) e, em seguida, os materiais poliméricos (13,8%).
“Queremos entender o que esta população está gerando e também o grau de importância que ela dá ao problema, a fim de levantar as dificuldades e obter subsídios que ajudem a elaborar um plano de intervenção e, no futuro, melhorar a adesão à coleta seletiva e, consequentemente, a limpeza urbana”, explica a pesquisadora do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas do IPT, Claudia Echevenguá Teixeira, que é também coordenadora do projeto. A participação da população em atividades que melhorem a gestão de resíduos pode ser prejudicada, segundo ela, pela ineficiência dos coletores, infraestrutura insuficiente, falta de informações sobre os sistemas de coleta e separação, mau planejamento das rotas de coleta e insuficiência no número de caminhões para garantir um atendimento adequado à demanda.
Posteriormente foi realizada então a avaliação de percepção dos cidadãos por meio da aplicação do questionário, com perguntas destinadas a identificar fatores associados à geração, à forma de manejo dos resíduos e à importância dada pela população ao tema.
QUESTIONÁRIO E RESULTADOS – O questionário de 57 perguntas foi elaborado pela equipe do projeto em parceria com uma mestranda em Gestão Ambiental e Sustentabilidade da Universidade Nove de Julho que participa do Projeto Novos Talentos do IPT, Natalia de Araújo. “As perguntas foram organizadas de maneira a dar a possibilidade de inter-relacionar informações, a fim de entender como o perfil do respondente – grau de escolaridade, faixa social e sexo, por exemplo – afeta as respostas, assim como saber como é a geração de resíduos (os cidadãos cozinham em casa ou não, por exemplo), o manuseio dos resíduos (fazem a separação ou não; participam da coleta seletiva) e o grau de preocupação com a questão dos resíduos”, explica Claudia.
“Fizemos as entrevistas em um final de semana prolongado, no feriado de 26 de maio (Corpus Christi), porque era necessário coletar informações tanto de moradores quanto de veranistas”, completa a pesquisadora Letícia dos Santos Macedo, também do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas.
Os primeiros resultados computados pelos pesquisadores mostram que existe um potencial de alcançar um índice de 38,4% do total de resíduos sólidos gerados no bairro para a coleta seletiva (materiais recicláveis e rejeitos), mas somente 2,5% dele tem hoje esta destinação. “No entanto, um fato positivo já chamou a atenção: o nível de contaminação do material separado e recolhido é pequeno”, afirma Claudia. “Isso demonstra que, apesar da mobilização não ser tão alta, as pessoas fazem corretamente a separação dos materiais e não misturam material orgânico, por exemplo, com garrafas plásticas e vidro”.
Claudia lembra que o resíduo é uma matéria-prima secundária e, para que qualquer tecnologia tenha êxito e gere algum benefício, como energia, é necessária a disponibilidade de matéria-prima – e isso depende da separação, uma atividade em que a população desempenha um papel fundamental. “A operação torna-se mais complicada quando a separação não ocorre na origem. Mesmo com a existência de uma operação mecanizada, é difícil melhorar o desempenho de um sistema de aproveitamento sem a participação dos cidadãos”, completa ela. “Queremos medir tecnicamente a capacidade de estimular a população com uma série de ações educacionais, além da ampliação de postos de entrega voluntária (PEVs) e da coleta porta a porta, por exemplo”.
Um dos principais desafios do projeto no município (talvez o maior) será como tratar a questão da sazonalidade, com populações flutuantes e comportamentos diferentes: os resíduos gerados pelos veranistas, explica Letícia, são bem típicos: eles geralmente não cozinham em casa e seus resíduos são menos misturados. “Será preciso encontrar o ponto ótimo, para que o equipamento a ser construído ou instalado não fique ocioso, nem tampouco deficiente na operação”, explica Claudia. “Para manter um sistema funcionando, será necessária a entrada de matéria-prima ao longo do tempo e uma avaliação de quem irá ‘sustentar’ o sistema, ou seja, a população de moradores com ou sem a participação dos veranistas. A solução a ser adotada deve ser aquela que atenda melhor às pessoas, mas que seja a mais viável economicamente”.
Após a análise e a interpretação dos resultados, os pesquisadores do IPT irão se reunir com equipes da Secretaria de Meio Ambiente da prefeitura, da Cooperativa de Sucata União de Bertioga (Coopersubert) e da empresa responsável pelo serviço de coleta de resíduos para a identificação de oportunidades e definição de estratégias. Um programa de intervenção para a população, com a definição de metas e a elaboração de estratégia de sensibilização, virá em seguida.