O engenheiro ambiental e aluno do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP Clauber Barão Leite, em uma parceria com o IPT dentro do Programa Novos Talentos, está trabalhando em um projeto de avaliação comparativa de duas tecnologias de tratamento (digestão anaeróbia e incineração) de resíduos sólidos com aproveitamento energético. A escolha do pesquisador pelo tema para a sua dissertação de mestrado foi motivada por duas questões socioeconômicas que estão na ordem do dia – a crescente demanda pela geração de energia elétrica e o aumento da quantidade de resíduos sólidos – e a intenção de buscar uma solução conjunta.
Uma das disposições da Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pelo Governo Federal em 2010, é a observação da seguinte ordem de prioridade na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos: não geração; redução; reutilização; reciclagem; tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, aqui definidos como todos os resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as chances de tratamento e de recuperação por processos tecnológicos economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade além da destinação final.
“Os resíduos sólidos têm uma componente energética importante: no meu estudo, a intenção é avaliar o seu aproveitamento, levantando informações sobre o potencial de geração de energia, e as tecnologias existentes”, explica Leite. Analisando a composição dos resíduos no Brasil, continua ele, a média é de 50% de material orgânico, 25% a 30% de resíduos passíveis de reciclagem e o restante (20% a 25%) do rejeito propriamente dito: “Somente os rejeitos deveriam ser destinados aos aterros; tudo o que é passível de aproveitamento, tanto orgânicos como recicláveis, deveria passar por um tratamento antes da destinação final, mas isso ainda não acontece”.
A digestão anaeróbia e a incineração são os processos mais utilizados para o tratamento dos resíduos sólidos na Europa e nos Estados Unidos e foram as escolhidas pelo pesquisador para o estudo. “Meu trabalho segue uma linha de comparação, mas de adaptar o cenário para a realidade brasileira porque existem diferenças – não basta transferir uma tecnologia bem-sucedida no exterior para o Brasil, pois existem diferenças nos tipos de resíduos e nos hábitos da população, e tudo isso provoca impactos na operação e nos custos”, ressalta ele. Embora ainda não estejam presentes no Brasil em larga escala, o pesquisador optou pelas duas tecnologias por conta da rentabilidade econômica, enfatizando que processos como o plasma térmico e a gaseificação estão ainda em um patamar científico ou não têm viabilidade comercial.
DELIMITANDO O ESPAÇO – Mais de 41% das 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados no país em 2014 tiveram como destino lixões e aterros controlados, segundo estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). A metodologia da pesquisa da entidade envolveu 400 municípios, o equivalente a 91,7 milhões de pessoas, e apontou que o brasileiro gera, em média, 1,062 kg de lixo por dia. Os dados coletados na pesquisa apontaram ainda que 52,5% dos resíduos eram provenientes da Região Sudeste.
Leite havia pensado inicialmente em estudar o cenário de cinco regiões administrativas do estado de São Paulo – São Paulo, Campinas, Santos, São José dos Campos e Sorocaba – que representam cerca de 70% dos resíduos gerados no estado, mas decidiu delimitar a área de estudo para a região metropolitana da capital paulista pelo maior número de equipamentos instalados. Existem biodigestores nas cidades vizinhas a São Paulo e projetos de instalação de incineradores em Barueri e em São Bernardo do Campo, por exemplo.
Os levantamentos de dados econômicos e da legislação referente aos resíduos sólidos feitos pelo pesquisador têm a orientação da professora Virginia Parente do IEE-USP, que atua na instituição no Programa de Pós-Graduação em Energia, enquanto as questões tecnológicas são discutidas com o pesquisador Ademar Hakuo Ushima, do Laboratório de Energia Térmica do IPT. "Esse trabalho tem total sinergia com o projeto RSU Energia, em andamento no IPT, com o qual tem havido trocas de informações valiosas", ressalta Ushima.
PRIMEIROS RESULTADOS – Para a comparação entre as duas tecnologias, o pesquisador considerou um desempenho econômico-financeiro necessário ao atendimento de uma oferta de mil toneladas diárias de resíduos sólidos, para cada uma das alternativas propostas. Foram obtidas preliminarmente informações de duas instalações, o que se pretende aprofundar ainda no estudo com a coleta de mais dados, e os primeiros resultados apontaram a necessidade de um investimento de R$ 160 milhões para a instalação de um incinerador, a um custo operacional de R$ 44,6 milhões/ano, enquanto o biodigestor demandaria tanto menor capital (R$ 140 milhões) quanto desembolso anual para seu funcionamento (R$ 25 milhões).
A análise preliminar de Fluxo de Caixa Descontado da alternativa do biodigestor revelou uma viabilidade econômico-financeira significativa no cenário macroeconômico atual do País, produzindo uma taxa interna de retorno (TIR) de 13,9% – no caso da alternativa da incineração, a mesma análise revelou um prejuízo acumulado de R$ 292 milhões.
A tecnologia de biodigestão está se mostrando até agora mais viável em comparação à incineração, mas o pesquisador alerta que algumas premissas precisam ser respeitadas: a primeira é a coleta diferenciada, que ainda não acontece em todas as cidades brasileiras e demandaria, nas palavras do pesquisador, um choque de gestão, pela necessidade de um controle rígido do material que seria usado no equipamento, a fim de propiciar um composto de melhor qualidade. O outro princípio é a de reciclagem de todos os resíduos passíveis de reaproveitamento, o que tampouco acontece hoje: “Somente é reciclado o que tem valor econômico, como as garrafas PET e as latinhas de alumínio de alimentos e bebidas. O isopor, por exemplo, pode ser reciclado, mas o material tem baixo valor e acaba sendo destinado aos aterros, assim como o vidro”, afirma ele.
Os gastos para a instalação das plantas e da operação das duas tecnologias não encontram viabilidade, no entanto, quando são comparados aos valores de deposição dos resíduos em aterros que são pagos pelas administrações municipais (de R$ 50 a R$ 60) atualmente aos prestadores de serviços de transporte do lixo. “Para dar viabilidade à instalação de um biodigestor, o valor por tonelada ficaria em torno de R$ 80, e para a instalação de um incinerador o valor por tonelada chegaria a cerca de R$ 160, ou seja, os custos são mais altos do que a simples disposição em aterros. Isso mostra que será necessária uma nova maneira para tratar os passivos ambientais para que sejam cumpridos os objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em algum momento, não será mais possível aceitar resíduos sólidos em aterros, mas somente rejeitos”.
Uma das disposições da Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pelo Governo Federal em 2010, é a observação da seguinte ordem de prioridade na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos: não geração; redução; reutilização; reciclagem; tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, aqui definidos como todos os resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as chances de tratamento e de recuperação por processos tecnológicos economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade além da destinação final.
“Os resíduos sólidos têm uma componente energética importante: no meu estudo, a intenção é avaliar o seu aproveitamento, levantando informações sobre o potencial de geração de energia, e as tecnologias existentes”, explica Leite. Analisando a composição dos resíduos no Brasil, continua ele, a média é de 50% de material orgânico, 25% a 30% de resíduos passíveis de reciclagem e o restante (20% a 25%) do rejeito propriamente dito: “Somente os rejeitos deveriam ser destinados aos aterros; tudo o que é passível de aproveitamento, tanto orgânicos como recicláveis, deveria passar por um tratamento antes da destinação final, mas isso ainda não acontece”.
A digestão anaeróbia e a incineração são os processos mais utilizados para o tratamento dos resíduos sólidos na Europa e nos Estados Unidos e foram as escolhidas pelo pesquisador para o estudo. “Meu trabalho segue uma linha de comparação, mas de adaptar o cenário para a realidade brasileira porque existem diferenças – não basta transferir uma tecnologia bem-sucedida no exterior para o Brasil, pois existem diferenças nos tipos de resíduos e nos hábitos da população, e tudo isso provoca impactos na operação e nos custos”, ressalta ele. Embora ainda não estejam presentes no Brasil em larga escala, o pesquisador optou pelas duas tecnologias por conta da rentabilidade econômica, enfatizando que processos como o plasma térmico e a gaseificação estão ainda em um patamar científico ou não têm viabilidade comercial.
DELIMITANDO O ESPAÇO – Mais de 41% das 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados no país em 2014 tiveram como destino lixões e aterros controlados, segundo estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). A metodologia da pesquisa da entidade envolveu 400 municípios, o equivalente a 91,7 milhões de pessoas, e apontou que o brasileiro gera, em média, 1,062 kg de lixo por dia. Os dados coletados na pesquisa apontaram ainda que 52,5% dos resíduos eram provenientes da Região Sudeste.
Leite havia pensado inicialmente em estudar o cenário de cinco regiões administrativas do estado de São Paulo – São Paulo, Campinas, Santos, São José dos Campos e Sorocaba – que representam cerca de 70% dos resíduos gerados no estado, mas decidiu delimitar a área de estudo para a região metropolitana da capital paulista pelo maior número de equipamentos instalados. Existem biodigestores nas cidades vizinhas a São Paulo e projetos de instalação de incineradores em Barueri e em São Bernardo do Campo, por exemplo.
Os levantamentos de dados econômicos e da legislação referente aos resíduos sólidos feitos pelo pesquisador têm a orientação da professora Virginia Parente do IEE-USP, que atua na instituição no Programa de Pós-Graduação em Energia, enquanto as questões tecnológicas são discutidas com o pesquisador Ademar Hakuo Ushima, do Laboratório de Energia Térmica do IPT. "Esse trabalho tem total sinergia com o projeto RSU Energia, em andamento no IPT, com o qual tem havido trocas de informações valiosas", ressalta Ushima.
PRIMEIROS RESULTADOS – Para a comparação entre as duas tecnologias, o pesquisador considerou um desempenho econômico-financeiro necessário ao atendimento de uma oferta de mil toneladas diárias de resíduos sólidos, para cada uma das alternativas propostas. Foram obtidas preliminarmente informações de duas instalações, o que se pretende aprofundar ainda no estudo com a coleta de mais dados, e os primeiros resultados apontaram a necessidade de um investimento de R$ 160 milhões para a instalação de um incinerador, a um custo operacional de R$ 44,6 milhões/ano, enquanto o biodigestor demandaria tanto menor capital (R$ 140 milhões) quanto desembolso anual para seu funcionamento (R$ 25 milhões).
A análise preliminar de Fluxo de Caixa Descontado da alternativa do biodigestor revelou uma viabilidade econômico-financeira significativa no cenário macroeconômico atual do País, produzindo uma taxa interna de retorno (TIR) de 13,9% – no caso da alternativa da incineração, a mesma análise revelou um prejuízo acumulado de R$ 292 milhões.
A tecnologia de biodigestão está se mostrando até agora mais viável em comparação à incineração, mas o pesquisador alerta que algumas premissas precisam ser respeitadas: a primeira é a coleta diferenciada, que ainda não acontece em todas as cidades brasileiras e demandaria, nas palavras do pesquisador, um choque de gestão, pela necessidade de um controle rígido do material que seria usado no equipamento, a fim de propiciar um composto de melhor qualidade. O outro princípio é a de reciclagem de todos os resíduos passíveis de reaproveitamento, o que tampouco acontece hoje: “Somente é reciclado o que tem valor econômico, como as garrafas PET e as latinhas de alumínio de alimentos e bebidas. O isopor, por exemplo, pode ser reciclado, mas o material tem baixo valor e acaba sendo destinado aos aterros, assim como o vidro”, afirma ele.
Os gastos para a instalação das plantas e da operação das duas tecnologias não encontram viabilidade, no entanto, quando são comparados aos valores de deposição dos resíduos em aterros que são pagos pelas administrações municipais (de R$ 50 a R$ 60) atualmente aos prestadores de serviços de transporte do lixo. “Para dar viabilidade à instalação de um biodigestor, o valor por tonelada ficaria em torno de R$ 80, e para a instalação de um incinerador o valor por tonelada chegaria a cerca de R$ 160, ou seja, os custos são mais altos do que a simples disposição em aterros. Isso mostra que será necessária uma nova maneira para tratar os passivos ambientais para que sejam cumpridos os objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em algum momento, não será mais possível aceitar resíduos sólidos em aterros, mas somente rejeitos”.