Desenvolvimento econômico

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O município de Ibirarema, localizado na região do Vale do Paranapanema, manteve por cerca de 30 anos sua economia baseada na usina de açúcar e álcool Pau D’Alho, que empregava cerca de 1.600 pessoas da cidade de sete mil habitantes. Em 2012, devido ao contexto econômico desfavorável para a produção de etanol e também por problemas na gestão, a fábrica foi fechada. Além desta, outra usina de menor porte havia encerrado suas atividades anteriormente.

O fato levou o prefeito a declarar calamidade pública devido aos elevados índices de desemprego e problemas sociais que surgiram, como o alcoolismo, além do fechamento de cerca de 20 dos 150 estabelecimentos do comércio local. Em busca de soluções, a prefeitura chegou até o Programa de Apoio Tecnológico aos Municípios (Patem) no final de 2013. Pesquisadores do IPT estudaram os problemas ao longo do segundo semestre de 2014 e formularam sugestões para melhorar a situação do município.

O trabalho foi desenvolvido em três focos de atuação, sempre com o alvo em geração de emprego e desenvolvimento regional. O primeiro passo foi pesquisar outros municípios de porte igual ou parecido a Ibirarema e que passaram por situações semelhantes. Para chegar a essas informações, os profissionais analisaram dados de IDH e PIB/per capita, chegando a uma lista de dez cidades.

Processamento de mandioca na planta industrial da empresa Rudolf-Sizing Amidos do Brasil
Processamento de mandioca na planta industrial da empresa Rudolf-Sizing Amidos do Brasil
Dentro destes parâmetros, o município de Jambeiro foi considerado um dos melhores para comparação. Localizado no Vale do Paraíba, Jambeiro encontra-se perto da planta da Embraer em São José dos Campos e viu uma oportunidade de criar um distrito industrial e atrair empresas que trabalham com aeropeças, que possuem alto valor agregado. O feito obteve sucesso e serviu para os pesquisadores do IPT mapearem políticas municipais interessantes.

A segunda fase do trabalho analisou a principal atividade industrial da região, a agroindústria. As informações econômicas relacionadas a esta atividade levaram à construção de uma matriz contendo informações sobre salários, pessoal ocupado e valor adicionado. Segundo o pesquisador Paulo Brito, da Coordenadoria de Planejamento e Negócios do IPT, o valor adicionado é um indicador econômico que mede a geração de riquezas e seus desdobramentos em uma cadeia de consequências importantes para a economia local, como pagamentos de salários, lucros para empreendedores e arrecadação tributária.

Com os resultados do segundo estudo foi possível detectar os segmentos mais interessantes para o desenvolvimento de Ibirarema e região. Foi traçado um perfil para a adequação do município, principalmente relacionado ao distrito industrial que atualmente está em fase de implantação. Por meio desse trabalho os pesquisadores conseguiram ter uma noção dos segmentos mais atraentes economicamente para fazerem parte do local.

A terceira parte envolveu a participação da comunidade de Ibirarema. A consultora econômica da F Negrão Planejamentos, Fernanda Negrão, especializada em desenvolvimento regional, visitou o munícipio com os pesquisadores do IPT para levantar ideias da comunidade local sobre o desenvolvimento da cidade e a geração de empregos. Divididos em três grupos – um da comunidade, outro dos empresários e um terceiro do poder público – os moradores citaram o que seria preciso melhorar em Ibirarema. A maioria sugeriu o aumento de cursos de capacitação profissional para mão-de-obra local, desenvolvimento consistente da agroindústria e estruturação adequada do Distrito Industrial.

RESULTADOS – O trabalho contou com a participação de seis profissionais do IPT, entre pesquisadores e estagiários. Com base nas informações, eles compilaram e tabularam o que a comunidade pensa sobre a questão do desenvolvimento local e geração de emprego. Após seis meses, os profissionais enviaram à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo e à prefeitura em dezembro de 2014 o relatório contendo as sugestões encontradas.

Dentre as sugestões feitas pelo IPT está a criação da cultura “Ibirarema, a Terra da Linguiça”, devido à tradição da venda do produto há mais de 50 anos. A iniciativa pode gerar novos empregos desde a criação de porcos até a produção e a comercialização da linguiça. Além disso, há a ideia de criar uma área na entrada da cidade com várias barracas, vendendo pratos preparados com linguiça e o próprio produto.

A mandioca é uma planta que possui excelente adaptação agronômica na região. Levada no começo do século passado por imigrantes italianos para alimentar os trabalhadores braçais, hoje é vista pelos pesquisadores como alternativa para melhorar o desenvolvimento econômico regional. A produtividade da região é de 30 toneladas/hectare, enquanto a média brasileira é de 14 toneladas/hectare. O maior produtor no mundo é a Nigéria, mas o Brasil possui a maior produtividade.

Os pesquisadores veem no produto várias oportunidades como o uso industrial para produção de farinha e de tapioca, enquanto no setor têxtil o amido da mandioca pode ser utilizado na engomação de tecidos (jeans) e no setor de papelão como cola. Na indústria alimentícia a fécula de mandioca é usada na produção de mortadela e salsicha, e na mineração o seu uso é ainda pouco difundido: “Quando se minera o ferro, se você não usar nada no processo como agregador, a perda é de 12% de ferro; usando o amido de mandioca, a perda cai para 1,5%”, declara Paulo.

A dificuldade de tornar a mandioca uma cultura extensiva como a soja ou milho ocorre porque a maioria do cultivo é de agricultura familiar e também não existe colheita mecânica eficiente; além disso, a mandioca é também um produto que apresenta alta oscilação nos preços. Segundo Brito, nos últimos dez anos, o valor do produto variou em cerca de 300%. Há menos de um ano, por exemplo, o preço chegava a R$ 600 a tonelada e hoje o valor está em R$ 230,00. Outra sugestão oferecida pelo IPT é o enfoque na produção de derivados da soja e milho como farelo e óleo vegetal, pois a região também dispõe de muitas plantações.

Atualmente, Ibirarema possui sete mil habitantes. A economia da cidade é movida pelos prestadores de serviços, que respondem por 57,6% no total do valor adicionado da economia (os dados são de 2011 da Fundação Seade). O setor de costura vislumbra ainda boas perspectivas, já que uma iniciativa da Prefeitura junto com o Senai oferece cursos de costura e os resultados se mostram positivos. Em relação à profissionalização, o município conta com as chamadas ‘oficinas avançadas’, cursos que o Senai disponibiliza como informática, costura e encanamento.

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