Inovação, alma do negócio

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A propaganda foi por muito tempo exaltada como a alma do negócio, e continua sendo importante. Porém, com o advento da chamada sociedade do conhecimento, essa máxima ganhou novas feições. Agregar valor hoje a determinado produto significa agregar conhecimento que, sob a demanda do mercado, pode configurar uma inovação em um viés específico de um conceito bem mais amplo. Para discutir e avançar neste tema realizou-se no IPT em quatro de dezembro o workshop Embrapii-IPT ‘Tecnologias de Materiais e Oportunidades para Inovação Tecnológica’. Pesquisadores, gestores e representantes de empresas reuniram-se em torno do elemento que os une, a inovação. Representantes de três parceiros que participam do projeto-piloto IPT/Embrapii relataram a parceria com o Instituto na busca por inovação em seus negócios.

“Grande diferencial do IPT é disponibilidade de laboratórios e equipamentos, além da elevada expertise técnica, facilitação de reuniões entre os envolvidos e a organização e revisão de propostas durante o processo.” afirma Sarabanda
“Grande diferencial do IPT é disponibilidade de laboratórios e equipamentos, além da elevada expertise técnica, facilitação de reuniões entre os envolvidos e a organização e revisão de propostas durante o processo.” afirma Sarabanda
O presidente da Angelus Indústria de Produtos Odontológicos, Roberto Alcântara, destacou a importância do trabalho, que consiste na nanoparticulação de cimentos dentários para facilitar o preenchimento dos chamados ‘túbulos dentinários’. Alcântara exaltou o comprometimento do Instituto e apoio da equipe liderada pela pesquisadora Cátia Fredericci, do Laboratório de Processos Metalúrgicos. A Angelus teve este ano faturamento de R$ 20 milhões, boa parte graças ao trabalho com inovação que nos últimos cinco anos representa 30% de seus lançamentos. Hoje 40% da produção – que engloba de itens lúdicos e químicos a brocas odontológicas – é exportada.

A expertise em ciência de materiais foi um dos motivos que motivou a InterCement Brasil, um dos principais players da cadeia produtiva do cimento no Brasil, para um contrato de R$ 14 milhões com IPT/Embrapii. “Encontramos no Instituto os pontos positivos que procurávamos: uma instituição com boa reputação e o DNA da pesquisa em seu trabalho”, relatou Adriano Nunes, diretor de Inovação e Sustentabilidade da empresa. Segundo Nunes, a InterCement não cultivava a cultura da inovação, “muito em função de nossos produtos serem commoditizados”, mas nos últimos anos passou a apostar em P&D&I. Da parceria com o IPT já obteve resultados relevantes, como o depósito de duas patentes que poderão gerar novos negócios.

O gerente de Desenvolvimento de Produto da Mahle Metal Leve, fabricante de componentes automobilísticos, José Valentim Sarabanda, destacou que o IPT proporcionou uma interação muito positiva. “Um grande diferencial do instituto é a disponibilidade de laboratórios e equipamentos para o nosso trabalho, além da elevada expertise técnica relacionada à nossa demanda, a facilitação de reuniões entre os envolvidos e a organização e a revisão de propostas durante todo o processo.” A Mahle tem cinco centros de tecnologia no mundo, um deles no Brasil, com 4,8 mil profissionais dedicados ao desenvolvimento de produtos e processos.

Flávia Gutierrez Motta, gerente da Coordenadoria de Planejamento e Negócios do IPT, detalhou os procedimentos envolvidos na contratação de projetos na unidade Embrapii-IPT. O processo é desburocratizado, mas respeita às regras da associação, afirmou ela. Em média, são consumidos 170 dias entre as primeiras negociações até a assinatura do contrato.

INSTITUTO E EMPRESAS – A constituição da unidade Embrapii do IPT, com foco no desenvolvimento de materiais, é uma das contribuições possíveis com as empresas na direção de se fazer inovação, conforme avalia o diretor-presidente Fernando Landgraf. “O IPT é um instituto de pesquisas com 115 anos e nasceu do Laboratório de Resistência dos Materiais da Escola Politécnica da USP, ou seja, a história da instituição foi marcada desde o início pelo trabalho com materiais.”

Segundo Landgraf, atualmente 65% da receita do IPT provêm de contratos com empresas e 35% de dotação orçamentária. “Essa é uma prova do relacionamento forte da instituição com o mercado. Ações como a Embrapii abrem uma perspectiva de trabalho com as empresas e uma nova fonte de financiamento”.

Para Landgraf, o crescimento das receitas da instituição em 2014, da ordem de 12%, em um momento de baixa na economia brasileira, aconteceu por conta do esforço dos pesquisadores e também como reflexo de as empresas brasileiras investirem em inovação como antídoto para a crise. “Vários de nossos laboratórios têm em sua história esta dinâmica anticíclica, isto é, a economia caminha para um lado e a pesquisa para outro. Isto reflete a aposta das empresas na inovação como forma de sobrevivência e explica tanto o aumento da demanda por nossos projetos de P&D&I quanto os serviços de ensaios, análises e calibrações”.

"Estamos trabalhando em áreas estratégicas definidas pela política do governo federal em que existem competências e empresas interessadas em comprar,” afirma Gomes de Oliveira
"Estamos trabalhando em áreas estratégicas definidas pela política do governo federal em que existem competências e empresas interessadas em comprar,” afirma Gomes de Oliveira

O faturamento do IPT deve fechar 2014 com o recorde de R$ 112 milhões, e a instituição classifica esta receita de diversas maneiras. Numa delas, 60% das vendas têm como cliente a iniciativa privada, sendo 70% empresas do setor de serviços e 30% indústrias, e 40% estatais. “Em 2014 houve um aumento das compras do setor industrial. É muito claro o papel da inovação e a presença da Embrapii, com as 20 empresas que investiram desde a nossa entrada no projeto-piloto em 2012. Hoje, 22% das nossas receitas são oriundas de atividades de inovação, entendida como aquilo de novo que acontece no mercado, e não somente uma invenção”. Este índice era de apenas 10% em 2009 e o objetivo do IPT é dobrar tal valor nos próximos quatro anos.
 
PAPEL DA EMBRAPII – Para o diretor-presidente da Embrapii, João Fernando Gomes de Oliveira, a criação de um sistema de laboratórios de pesquisas, como o da agência que dirige, tem o objetivo de inserir o planejamento neste espaço entre governo e instituições de pesquisas. “Estamos muito satisfeitos em fazer o lançamento definitivo do IPT como unidade Embrapii de materiais de alto desempenho, até então uma unidade-piloto.” As áreas de atuação do IPT estão espalhadas em diversos laboratórios e incluem estudos em ligas metálicas e materiais resistentes ao desgaste, materiais resistentes à corrosão, nanopartículas e materiais nanoestruturados, materiais compósitos e materiais cerâmicos.

Oliveira chamou a atenção para o foco da Embrapii em setores que têm demanda por inovação e potencial de impacto: “Não vamos começar uma organização deste tipo para resolver o atraso tecnológico do Brasil no segmento de semicondutores, por exemplo. Estamos trabalhando em áreas estratégicas definidas pela política do governo federal em que existem competências e empresas interessadas em comprar”. O sistema Embrapii conta atualmente com 13 unidades de pesquisas tecnológicas credenciadas, incluídas as três instituições integrantes do projeto-piloto: IPT, Senai/Cimatec e INT.

Na avaliação de Oliveira, existe uma série de ‘gargalos’ em instituições de ciência e tecnologia (ICTs), que atrapalham o relacionamento com empresas para atividades de P&D&I. Destacou as dificuldade de trabalho conjunto entre pesquisadores, a falta de planejamento institucional, a atuação com perfil de baixa especialização, a dificuldade em captar parceiros empresariais e a fraca atividade de prospecção. “Do outro lado, as empresas realizam baixos investimentos em atividade de P&D&I interna, não existe uma tradição de trabalhos cooperativos com ICTs, há uma aversão ao risco intrínseco a P&D&I e as competências dessas instituições são desconhecidas.”

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