Arqueometalurgia brasileira

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Na tarde do dia 12 de novembro, realizou-se no anfiteatro do Departamento de Metalurgia e Materiais da Escola Politécnica da USP a cerimônia de doação de oito livros raros suecos sobre tecnologia siderúrgica. Esses títulos faziam parte de uma biblioteca trazida para o Brasil em 1810 pelo empresário Carl Gustav Hedberg, dentro do plano do governo D. João VI de construir três siderúrgicas no Brasil – duas em Minas Gerais, Morro do Pilar e Congonhas do Campo – e a Fábrica de Ferro de Ipanema, que se localizava no Morro de Araçoiaba, região de Sorocaba, onde até hoje suas ruínas podem ser visitadas.

Os livros foram encaminhados ao presidente do IPT, Fernando Landgraf, pelo engenheiro sueco Sven Gunnar Sporback, zelador das ruínas do Alto Forno de Hagelsrum, Suécia, empreendimento dirigido por Hedberg entre 1790 e 1809. O evento contou com a presença do Magnus Robach, embaixador da Suécia no Brasil.

Cerimônia de doação de livros contou com a presença de diversas autoridades: da esq. para a dir, Lourenço, Robach, Cardoso, Landgraf e Tschiptschin
Cerimônia de doação de livros contou com a presença de diversas autoridades: da esq. para a dir, Lourenço, Robach, Cardoso, Landgraf e Tschiptschin
A cerimônia foi presidida pelo diretor da Escola Politécnica, professor José Roberto Cardoso. Completaram a mesa Fernando Landgraf; Magnus Robach; Paulo Lopes Lourenço, cônsul geral de Portugal e o professor André P. Tschiptschin, do Departamento de Metalurgia e Materiais da Poli. Para o professor Cardoso, o acervo agrega conhecimento como fator de mudança na história da siderurgia nacional: “Denota que a cooperação com a indústria está no nosso DNA desde a fundação da Poli na iniciativa de Francisco de Paula Souza”.

Na opinião do embaixador Robach, a doação reforça a parceria em prol da inovação que marca as relações entre Brasil e Suécia. “Nossos países assinaram um acordo de cooperação no início dos anos 2000, mas vê-se que tal parceria é bem mais antiga do que isso. Temos uma base histórica, a redescoberta desses livros aponta para a construção de um futuro conjunto.”

O cônsul Paulo Lourenço também enfatizou o aspecto histórico relevante que este acervo revela. “É importante compreender a história da metalurgia brasileira, um ramo industrial em que o País é reconhecido mundialmente.” Também participaram do evento representantes da Fapesp, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração e de diversas unidades da própria USP. 

APRESENTAÇÃO – Ao final da cerimônia de doação do acervo, que ficará sob a tutela da Biblioteca de Livros Raros da Escola Politécnica USP, Landgraf proferiu palestra sobre o estudo intitulado “A Biblioteca Sueca da Fábrica de Ferro de Ipanema”, que contou com a colaboração dos pesquisadores Paulo E. Martins Araújo, da Unicamp, e de Sporback.

Com riqueza em detalhes históricos, Landgraf brindou o público com informações sobre disputas entre Hedberg e Varnhagen em torno da implementação da tecnologia de altos-fornos em Ipanema, do papel do assistente Lars Hultgren para que o projeto fosse adiante e dos registros pictóricos da fábrica feitos por grandes gravuristas da época, como Lemaitre, Edmnund Pink e Debret. “Numa abordagem da ‘arqueometalurgia’, constatamos em Ipanema a introdução inovadora da tecnologia de altos-fornos, além de conferir a crítica de José Bonifácio baseada na mecânica, quando fala do modelo de operação de carga no alto-forno, certamente um marco da tecnologia nascente no País.”

Leia abaixo na íntegra a apresentação feita por Fernando Landgraf.

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