Desastres naturais em cifras

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Como calcular os prejuízos econômicos, sociais e ambientes decorrentes de uma inundação, um terremoto e até mesmo um tsunami? Para entender como chegar a valores mais próximos dos números reais, a geóloga do Laboratório de Riscos Ambientais do IPT, Alessandra Cristina Corsi, está coordenando um projeto interno para aplicação da metodologia desenvolvida pelo Banco Mundial de valoração dos danos causados por desastres naturais. O objeto do estudo multidisciplinar da pesquisadora é a cidade paulista de São Luiz do Paraitinga, que foi afetada por uma enchente em primeiro de janeiro de 2010.

Para conhecer a metodologia inédita no Brasil, Alessandra participou no último mês de fevereiro da primeira edição no Brasil do Treinamento de Avaliação de Perdas e Danos por Desastres – Metodologia DaLa, que foi ministrado na cidades de Recife (PE) e Florianópolis (SC). A ação foi promovida pela Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), em parceria com o Banco Mundial e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), para capacitar quem atua na recuperação de desastres, como profissionais dos setores de planejamento, infraestrutura e Defesa Civil, e contribuir com estratégias na elaboração de planos de reconstrução.

Equipes do IPT realizaram após o desastre de 2010 estudos sobre a estrutura de imóveis tombados pelo patrimônio histórico e da ponte que cruza o Rio Paraitinga, entre outros trabalhos
Equipes do IPT realizaram após o desastre de 2010 estudos sobre a estrutura de imóveis tombados pelo patrimônio histórico e da ponte que cruza o Rio Paraitinga, entre outros trabalhos
A metodologia desenvolvida na década de 1990 apresenta um conjunto de ferramentas de diagnóstico para medir a natureza e o montante das perdas causadas por diferentes tipos de desastres. Para a sua aplicação, os dados são colhidos de setores tão diversos como agricultura, indústria, educação e comércio, de acordo com a abrangência pretendida do estudo. “É possível coletar as informações de órgãos municipais, estaduais ou federais, como a Secretaria da Educação, que informa o número de escolas na área afetada e dos alunos que não tiveram aulas durante o período de paralisação, assim como a perda de equipamentos e de gêneros alimentícios”, explica a pesquisadora, cujo laboratório está ligado ao Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas do IPT.

Outro exemplo é o comércio, que demanda a execução de entrevistas com os proprietários dos estabelecimentos para coleta de informações como perdas de estoques causadas pelos desastres e prejuízos financeiros nos dias em que as lojas ficaram fechadas. “O grau de aprofundamento dentro da metodologia irá depender das informações disponíveis e da disponibilidade dos agentes envolvidos no trabalho para levantar outros dados”, afirma Alessandra. Para o treinamento em Santa Catarina, do qual Alessandra participou, os participantes foram divididos em dois grupos para a aplicação da metodologia em dois estudos de casos, um para o desastre ocorrido em 2008 no estado de Santa Catarina e outro das inundações no estado de Minas Gerais em 2011.

PARAITINGA – A escolha de São Luiz do Paraitinga para aplicação da metodologia foi motivada em função de o IPT ter realizado vários estudos na localidade antes e após a inundação. Em uma primeira fase, a pesquisadora trabalhou na delimitação da área afetada na cidade, e agora os trabalhos estão concentrados na coleta de dados. A prefeitura forneceu informações como os custos para a reforma do centro histórico e o número de moradias afetadas pela enchente, que serão empregados para determinar um valor médio das perdas e proceder à extrapolação para outras áreas; para a área comercial, foi feita uma listagem de todos os estabelecimentos localizados na área afetada, para seleção e aplicação dos questionários relativos a perdas, e outros dados estavam disponíveis no próprio IPT. “Após recolher todas as informações, vamos fazer uma compilação dentro das tabelas da metodologia para chegar a um valor do dano”, completa ela.

Para auxiliar no tratamento das informações, a pesquisadora está contando com a colaboração do químico Osório Thomaz, do geólogo Marcelo Fischer Gramani, do engenheiro civil Marcos Jorgino Blanco e do tecnólogo em Engenharia Civil Luiz Antonio Gomes, todos do Laboratório de Riscos Ambientais, e do economista Paulo Brito Moreira de Azevedo, da Coordenadoria de Planejamento e Negócios do IPT.

Concluído o projeto, o objetivo será proceder a uma análise de mercado para saber onde a ferramenta pode ser empregada para fazer a quantificação em cenários de risco. Conhecer uma nova metodologia irá agregar um valor grande aos serviços prestados pelo IPT, acredita Alessandra, e poderá abrir um leque de aplicação tanto antes quanto após os desastres: “Poderemos elaborar cenários de riscos para um determinado evento com estimativas dos valores caso o evento ocorra, e permitir a tomada de medidas preventivas para evitar esses gastos. Quando sabemos o montante que seria dispendido no caso de um desastre, é possível partir para a linha de atuação na prevenção”, completa ela.

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