Ruídos em edifícios

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A física e pesquisadora Elaine Lemos Silva, do Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade dos Edifícios do Centro Tecnológico do Ambiente Construído (Cetac) do IPT, participou do Programa de Desenvolvimento e Capacitação no Exterior (PDCE) do Instituto com o objetivo de estudar a transmissão sonora pela estrutura de edifícios. O estágio foi feito em Lisboa (Portugal) no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o LNEC, e proporcionou à pesquisadora o aprofundamento de conceitos e o conhecimento de novos ensaios.

Elaine estudou entre os meses de maio e novembro de 2011 o ruído de impacto em pisos de edificações. “Dois exemplos clássicos do desconforto acústico em prédios são o barulho gerado pelo caminhar de uma mulher de salto alto ou por uma criança pulando e brincando de bola em um apartamento localizado no piso superior ao do usuário”, explica ela. Os estudos da pesquisadora em Portugal tiveram como foco o desempenho dos sistemas para redução sonora de ruídos, os chamados “pisos flutuantes”, que são formados pela interposição de um material resiliente entre a laje e o contrapiso – em Portugal, o mais comum é a cortiça, e no Brasil o polietileno expandido. Outros materiais utilizados neste tipo de sistema são as lãs minerais e a borracha reciclada de pneu.

Estes materiais têm uma característica denominada rigidez dinâmica, que é uma propriedade mecânica que indica como as forças de impacto serão efetivamente absorvidas ou transmitidas. Para saber como é o comportamento de cada um dos diversos materiais, a pesquisadora estudou os procedimentos dos ensaios de caracterização para, em seguida, executar a correlação de rigidez dinâmica com a redução sonora.

Em função de o LNEC não executar os ensaios de caracterização dos materiais, Elaine acompanhou parte dos ensaios em 12 amostras (seis brasileiras e seis portuguesas) no Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico em Ciências da Construção, o ITeCons. O centro de pesquisas da cidade de Coimbra é o único em Portugal capacitado para executar tais ensaios. Em seguida, as amostras retornaram ao laboratório de Lisboa para que fossem feitas as avaliações de ruído do impacto no piso em câmara reverberante.
Elaine executa ensaio de rigidez dinâmica no ITeCons, em Coimbra
Elaine executa ensaio de rigidez dinâmica no ITeCons, em Coimbra
Os resultados estão atualmente em estudo pela pesquisadora, e servirão para aumentar as competências do laboratório nos estudos para otimização do desempenho acústico de edificações.

TRANSMISSÃO MARGINAL – Outro tema estudado pela pesquisadora em Portugal foi a quantificação da chamada transmissão marginal em edifícios. Enquanto a transmissão direta ocorre em uma edificação pela estrutura que separa os ambientes, por meio de vibrações transmitidas de um ambiente para outro pelos próprios elementos de separação, a marginal acontece por meio de elementos que estabelecem indiretamente a ligação entre duas dependências.

“Quando um ensaio é realizado em laboratório, a laje padrão é desconectada mecanicamente o máximo possível de todo o resto da estrutura, ou seja, o resultado do ensaio é o nível de ruído de impacto transmitido diretamente pelo piso ensaiado”, explica a pesquisadora. Em um edifício, ao contrário, as lajes estão presas e há a conexão de toda a estrutura. “Neste caso, ao ruído transmitido diretamente pela vibração da laje, soma-se o ruído produzido pela transmissão dessa vibração para os outros elementos da estrutura. Para um elemento de separação apresentar o desempenho acústico esperado em situação real, a transmissão marginal deve ser avaliada na fase de projeto – pronta a construção, será mais difícil solucionar os problemas acústicos”.

O Brasil não conta com legislação para a regulamentação dos critérios de avaliação de isolamento acústico para ruído de impacto. Enquanto em Portugal os projetos de edificações precisam ser aprovados de acordo com a legislação que estabelece o limite do ruído de impacto, a questão voltou à discussão no Brasil. Uma das ações mais recentes no País foi a abertura em dezembro de 2011 de uma consulta pública nacional pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para seis emendas de projetos da NBR 15.575/2008 – Norma de Desempenho para Edifícios Habitacionais de até Cinco Pavimentos, entre as quais a de Sistemas de Pisos Internos (NBR 15.575-3). A consulta prevê uma nova extensão do prazo de exigibilidade das normas, que passaria de março de 2012 para março de 2013.

Um dos requisitos contemplados na nova norma é o nível máximo admissível de pressão sonora de impacto em pisos no Brasil, que deve ser menor de 80 dB, enquanto em Portugal é de 60 dB – quanto maior o valor do índice, explica a pesquisadora, pior é o ruído de impacto. Resultados dos testes feitos pelo IPT apontam com frequência valores superiores a 80 dB, em especial nos edifícios sem sistemas para redução dos ruídos, que é a situação mais comum no País.


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