Poluição nas rodovias

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O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) iniciou no mês de junho um projeto de apoio tecnológico para a concepção e a instalação de sistema de controle de poluição por cargas difusas no Rodoanel Sul. A iniciativa inédita no País busca a proteção dos mananciais existentes ao longo do traçado da rodovia, especialmente os reservatórios Billings e Guarapiranga, em continuidade aos trabalhos de apoio tecnológico do IPT à Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S.A.

As cargas difusas compreendem os resíduos depositados sobre as superfícies e carregados para terrenos e corpos d’água, como óleos e graxas, restos de combustíveis lançados pelos escapamentos e partículas provenientes do desgaste dos veículos, pneus e do asfalto. A denominação “difusa” vem do fato de os resíduos terem diversos pontos de origem e se encontrarem espalhados em grandes áreas, o que traz dificuldades para o seu controle.

As atividades previstas pelo IPT para desenvolver o sistema de controle da poluição envolvem a estimativa de descargas, a definição de zonas sensíveis, a identificação e monitoramento de pontos críticos, a revisão de estruturas de controle remanescentes da fase de construção e a concepção e implantação de dispositivos complementares. Estão fora do escopo do trabalho resíduos sólidos como sacos de lixo e garrafas plásticas, para os quais a concessionária responsável pela administração da rodovia opera programas específicos de limpeza.

Simulação da coleta de efluentes no sistema de drenagem da rodovia, feita pela equipe técnica do IPT
Simulação da coleta de efluentes no sistema de drenagem da rodovia, feita pela equipe técnica do IPT
ÁGUAS DAS CHUVAS – O Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental é o responsável pela coordenação dos trabalhos dentro do IPT. As outras três unidades do Instituto que participam do projeto são o Laboratório de Instalações Prediais e Saneamento, o Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas e a Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais. Uma cooperação foi também firmada entre o IPT e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa, pelo qual a pesquisadora Sofia Julia Alves M.Campos realizou uma visita para conhecer as experiências no controle de cargas difusas das rodovias portuguesas.

O escoamento das águas de chuva é o principal meio de transporte dos poluentes acumulados na rodovia, que são levados às drenagens e aos corpos d’água situados a jusante, e terminam por promover uma limpeza gradativa das pistas. A poluição gerada pode ser analisada de acordo com a intensidade e o tempo de duração das chuvas, mas uma especial atenção deve ser dada ao seu início.
“Os primeiros minutos de chuva geram o denominado first flush, ou seja, o primeiro fluxo de lavagem, que é muito importante para o conhecimento e o controle porque as maiores concentrações de poluentes são carregadas neste momento”, afirma Omar Yazbek Bitar, coordenador do projeto e pesquisador do Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas do IPT.

Estudos em outros países indicam que as maiores concentrações de poluentes são encontradas entre 15 e 20 metros da faixa de domínio, e que eles raramente se depositam além de 30 metros da estrada – no entanto, a chegada direta dos efluentes rodoviários nas águas dos rios e reservatórios pode levar os poluentes a distâncias maiores, inclusive via águas subterrâneas, daí a importância de instalar dispositivos que controlem esse aporte junto à faixa de domínio.

NOVOS ESTUDOS – O início das atividades no mês de junho ocorreu simultaneamente à finalização do projeto do IPT de acompanhamento do controle da produção de sedimentos na rodovia, cuja duração foi de quatro anos.
Escoamento das águas de chuva é o principal meio de transporte dos poluentes acumulados na rodovia
Escoamento das águas de chuva é o principal meio de transporte dos poluentes acumulados na rodovia
Foi durante esse trabalho do desenvolvimento de medidas para controle de erosão e assoreamento que se levantou a hipótese de reaproveitamento das estruturas instaladas – como faixas gramadas, bacias úmidas e bacias de detenção – após a conclusão da construção das pistas, mas com outra finalidade.

“A reutilização de estruturas remanescentes é um tema pouco estudado. O atual projeto do IPT irá verificar o seu desempenho para que seja possível afirmar ou não a possibilidade de sua dupla função, controlando os sedimentos durante a construção e os efluentes após a abertura do tráfego na rodovia”, afirma Bitar.

Paralelamente ao levantamento e à reavaliação dos dispositivos remanescentes da fase de construção da rodovia, os pesquisadores irão executar a caracterização das fontes e dos efluentes juntamente com as estimativas de descarga para compilar dados referentes aos principais poluentes atuantes nas áreas.

Segundo o pesquisador, existem dois principais conjuntos de materiais e substâncias na composição das cargas difusas: metais pesados como cobre, chumbo e zinco entram na categoria dos inorgânicos e trazem grande preocupação pelo risco de contaminação dos mananciais responsáveis pelo abastecimento de água; o outro grupo envolve substâncias como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos no chamado grupo dos poluentes orgânicos, com mais de 300 diferentes tipos.

“Categorias como poluentes orgânicos ou inorgânicos estão presentes em diversos estudos ambientais, mas precisamos analisar as cargas difusas do Rodoanel Sul para saber as suas composições específicas. E, como não existem trabalhos indicando a forma correta de coletar os materiais carregados pela chuva para a execução das análises químicas, as equipes irão desenvolver dispositivos, incluindo o uso de materiais inertes, e métodos para as atividades”, explica Bitar.

DOIS ANOS – Para obter um desenho do perfil das cargas difusas presentes no Rodoanel Sul, os pesquisadores irão recolher dados em um período de dois anos para uma cobertura mais ampla das diferenças temporais. A ideia é fazer coletas periódicas, comparando e ajustando as informações, pois a rodovia tem um comportamento de grande volume de cargas sazonais até o Porto de Santos.

Dentro da sistemática de concepção do modelo, a opção foi pela divisão dos 61 quilômetros da rodovia nos subtrechos Régis Bittencourt-Imigrantes, Imigrantes-Anchieta e Anchieta-Mauá. Para a definição das zonas hídricas sensíveis aos poluentes, os pesquisadores irão estudar as pressões exercidas pela rodovia ao entorno, os usos dos solos e a sensibilidade aos diferentes tipos de cargas difusas. Qualquer descarga que possa alcançar um reservatório é preocupante, exemplifica Bitar, enquanto áreas com condições para o tratamento dos efluentes podem ser menos sensíveis à presença dos poluentes.

Os pesquisadores farão o cruzamento das informações para chegar a uma hierarquização dos pontos de descarga e indicar a solução adequada. Para isso, uma matriz básica de análise será empregada com a finalidade de correlacionar pressão (descargas altas ou baixas) e recepção (maior ou menor sensibilidade aos poluentes) nas diversas zonas ao longo da rodovia.

Com a compilação das informações, a ideia é indicar as estruturas adequadas a cada ponto, podendo-se manter as remanescentes ou executar a implantação de novas. Em seguida, com base nos resultados do monitoramento, os dispositivos instalados serão avaliados em termos do desempenho principalmente na proteção dos recursos hídricos. “O projeto é pioneiro ao abordar um segmento rodoviário completo e poderá servir como referência a outras rodovias que atravessem regiões ambientalmente sensíveis e de grande extensão”, conclui Bitar.

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