Os resíduos de compósitos (materiais resultantes de dois ou mais materiais distintos combinados, mas que permanecem macroscopicamente distinguíveis na mistura) poderão encontrar novas alternativas de uso por meio de um projeto da Associação Brasileira de Materiais Compósitos (ABMACO) em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O desenvolvimento de ferramentas para reintegrar descartes industriais de compósitos tanto no próprio processo produtivo quanto em outras utilizações é o principal objetivo do Programa Nacional de Reciclagem de Compósitos. A ação coletiva, do tipo consórcio, já conta com a participação de 19 empresas investidoras.
“O projeto tem como base o processamento mecânico dos resíduos dos compósitos, ou seja, a moagem do material para a sua reintegração no próprio processo fabril das empresas”, explica Silas Derenzo, pesquisador do Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas e coordenador do projeto no IPT. “Estamos buscando uma solução que seja ecologicamente adequada e não demande grandes investimentos”. Segundo estimativas da associação, o setor brasileiro de compósitos gera 18 mil toneladas de resíduos por ano (o que corresponde a uma despesa de R$ 120 milhões com o descarte em aterros sanitários) após a fabricação de produtos tão diversos quanto cabines telefônicas, bancos de ônibus, pranchas de surf e caixas d’água.
Em razão de sua flexibilidade, os plásticos comuns podem ser facilmente moídos e reprocessados, sendo um dos exemplos mais claros a reciclagem de garrafas PET. Os compósitos, ao contrário, são rígidos em razão da maior complexidade em sua formação química, com ligações cruzadas que dificultam o seu processamento. Para uma efetiva reciclagem do material, os pesquisadores irão estudar o limite de reutilização sem a perda de resistência mecânica, fazer a caracterização das frações que formam os resíduos e discutir as alternativas de aproveitamento dos materiais. O projeto se concentrará no estudo dos descartes industriais de compósitos termofixos com fibra de vidro, que respondem por 75% do total processado atualmente no Brasil.
“É importante executar a caracterização dos sólidos para se conhecer suas propriedades e identificar o seu melhor uso. Quando lascas de madeira são combinadas com um plástico, por exemplo, elas precisam receber um tratamento de superfície para evitar o rompimento da peça na interface entre os dois materiais”, continua Derenzo, que trabalha no projeto com o pesquisador Kleber Guimarães e o assistente Renato Gavioli. Cada processo de fabricação de compósitos gera descartes de características diferentes. As operações por spray-up, por exemplo, produzem resíduos com alta quantidade de fibras e poderiam ter como alternativa uma trituração adequada à obtenção de partículas de diversos tamanhos.
Assim, as maiores seriam reutilizadas como reforço, melhorando as propriedades mecânicas, eletromagnéticas ou químicas do material compósito como um todo. Já as menores, na forma de pó, teriam destino como carga, isto é, matéria-prima secundária a ser adicionada ao material matriz, sem alterar as suas propriedades, para a fabricação de outros produtos.
Faz parte também do projeto a solução de problemas técnicos como a presença dos catalisadores e dos aceleradores utilizados na fase de polimerização da resina. Como estes materiais podem estar ativos mesmo após a moagem dos resíduos, os pesquisadores incluíram no plano de trabalho um estudo para encontrar formas de inertização das substâncias ou alternativas para o seu uso.
Além do Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas do IPT, o projeto envolverá a partir de 2011 o Laboratório de Materiais de Construção Civil, que já possui competências no reaproveitamento de resíduos de construção e demolição (RCD). Esta segunda fase contemplará as possíveis aplicações dos compósitos como matéria-prima em outros setores industriais, neste caso a construção civil. O programa tem previsão de conclusão no segundo semestre de 2011.