Pesquisador conta sua trajetória no setor mineral

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RedeAPLmineral:
Conta-nos um pouco de sua trajetória no setor mineral?

Marsis Cabral: Formei-me em geologia em 1980. Tenho mestrado em geociências e doutorado em economia mineral pela Unicamp. Entrei para o IPT em 1981 e desde então trabalhei em cerca de 70 projetos diferentes na área mineral, especialmente com a prospecção, pesquisa, caracterização de jazidas, etc de minerais não-metálicos.

RedeAPLmineral: Como você começou a trabalhar com APLs de base mineral?

Marsis Cabral: Bom, desde a década de 1990 vínhamos trabalhando com os modelos de ‘clusters’ europeus e norte-americanos. O conceito de APL começou a surgir com mais força a partir de 2000, quando diversos estudos e projetos começaram a se estruturar. Nesta época, aqui no IPT fizemos os estudos iniciais para os APLs de cerâmica vermelha do estado de São Paulo, incluindo, Santa Gertrudes, Rio Claro, Tambáu, etc. Essa caracterização dos APLs no estado de SP ajudou a definir a importância econômica de cada agrupamento produtivo e a região onde se localiza . Criamos modelos de identificação e adquirimos uma tipologia para o setor minero-cerâmico da região.

RedeAPLmineral: Como os ceramistas do estado de SP se beneficiaram desses estudos?

Marsis Cabral: Estes estudos nos ajudaram na prospecção de novas áreas de explotação para os ceramistas que foram atingidos pela construção da Hidrelétrica Sérgio Mota, no vale do Rio Paraná. Cerca de 236 cerâmicas foram atingidas e estavam trabalhando com insumos de um estoque edificado da Companhia Energética de São Paulo (Cesp). O estudo do IPT, financiado pela Secretaria de Desenvolvimento do Estado, resultou na descoberta da quarta maior reserva de argila do Brasil, calculada em torno de 135 milhões de toneladas. A descoberta beneficia cerca de 95 empresas que produzem blocos e telhas e que empregam em torno de 1500 pessoas. O volume de matéria prima consumida por essas empresas é de cerca de 1,5 milhão de toneladas/ ano, ou seja, há reserva para a produção do APL por mais 85 anos.

RedeAPLmineral: Você pode destacar outra ação do IPT com os APLs minerais?

Marsis Cabral: Estamos finalizando o projeto da Central de Massa para os ceramistas no estado. Este projeto visa cuidar melhor da matéria prima, homogeneizando as misturas para cada tipo de produto: telha, bloco, etc. Assim o ceramista vai receber a mistura correta, pronta, dispensando até o pátio de mistura. Levantamos que este era um dos maiores gargalos de toda a cadeia produtiva da cerâmica no estado, já que muitas empresas utilizam processos produtivos avançados, mas muitas vezes recebem material bruto de baixa qualidade. O próximo passo para fechar o projeto é a criação de modelo de negócio apropriado e, também, um plano de qualificação da mão de obra dos mineradores/ fornecedores.

RedeAPLmineral: A questão tecnológica é a mais sensível para os APLs na sua opinião?

Marsis Cabral: As soluções técnicas podem até ter uma relativa complexidade, mas basicamente os desafios tecnológicos já foram superados e as soluções já foram encontradas. O que os APLs brasileiros precisam, tecnicamente, são pequenas adaptações do que já é conhecido no setor. São raros os casos em que se tem de desenvolver novos métodos, equipamentos, etc. As tecnologias são conhecidas, estão aí apenas para serem adaptadas caso a caso. Eu acredito que o maior problema não esteja aí, mas sim na implementação de governanças fortes. Os nossos APLs precisam de ações que possam aumentar as interações entre os agentes locais do setor empresarial e público. Acredito que essa seja o maior desafio para o desenvolvimento dos APLs minerais.

RedeAPLmineral: A atuação do IPT é apenas em São Paulo?

Marsis Cabral: Neste momento estamos com uma proposta para o desenvolvimento do setor minero cerâmico do estado do Piauí, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento do Piauí (Idepi) e o Banco do Nordeste (BnB). Estamos, também, trabalhando com o setor cerâmico na Bahia – na região do recôncavo, e apoiamos ações de secretarias de estado no Amapá e Amazonas.

RedeAPLmineral: Qual a sua opinião sobre a atuação da RedeAPLmineral quanto a sistematização e disseminação de informação?

Marsis Cabral: A preocupação inicial dos agentes que constroem a RedeAPLmineral era de que ela tivesse amplitude nacional e que contemplasse os APLs de todos os segmentos e cadeias produtivas. Apesar de existirem diversos segmentos minerais, alguns aspectos são comuns a todos, como acesso à boa informação sobre: crédito e fomento, qualidade e produtividade, gestão, etc; Acredito que para a coleta e sistematização de informação para o desenvolvimento dos APLs os grupos de discussão temáticos podem surtir bom efeito. Já,em termos de organização da informação para subsidiar decisões de políticas publicas, talvez a organização dessa informação seja melhor aproveitada se for setorial, ou seja por cadeias e segmentos como uma micro política industrial.

RedeAPLmineral: A sustentabilidade da RedeAPLmineral é assunto da vez e a discussão estará presente inclusive no VI Seminário Nacional de APLs e também no 3° Encontro da RedeAPLmineral. Como você vê essa questão?
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Marsis Cabral: A RedeAPLmineral criou uma estrutura bastante interessante. Analiso o desenvolvimento da Rede em 3 fases. Na 1ª fase, a Rede deveria continuar evoluindo para uma forma de institucionalização/formalização dos agentes/entes colaboradores. O modelo é bem conhecido e utilizado em diversas redes. A princípio, a Rede poderia se apoiar nos entes/agentes que possam dar apoio especializado no setor mineral. Por exemplo institutos tecnológicos como IPT, Cetem, INT; agentes de financiamento Bndes, Finep, Banco do Brasil; agentes de fomento como Secretarias Estaduais de Desenvolvimento, Sebrae, sistema S, etc; Essas instituições juntas formariam uma rede mínima de apoio. Numa 2ª fase, as ações tomadas pela RedeAPLmineral precisariam ser efetivas e claras de forma que o setor produtivo reconhecesse o valor da Rede e paulatinamente assumisse o trabalho de produção e disseminação da informação nela contida. A 3ª fase seria de maior estruturação e desenvolvimento das atividades e a participação de 3° setor no processo.

RedeAPLmineral: Existe algum exemplo no setor mineral desse tipo de cooperação em rede?

Marsis Cabral: Um exemplo pode ser o da Espanha. A cidade de Castellon concentra um dos maiores APLs de cerâmica daquele país. O Instituto de Tecnologia de Cerâmica (ITC) tem uma relação com a Universidade local e com o setor empresarial no que evoluiu para a criação de um ‘observatório tecnológico’, que tem um papel parecido com o da RedeAPLmineral. No caso o ITC desempenha o papel de capitanear a produção das informações não só no quadro das situações atuais, como avaliando tendências, mercados, etc. Esse processo todo é pago por quem se beneficiou diretamente. Acredito que possa ser um bom modelo para a RedeAPLmineral.

RedeAPLmineral: A questão tecnológica é a mais sensível para os APLs na sua opinião?

Marsis Cabral: As soluções técnicas podem até ter uma relativa complexidade, mas basicamente os desafios tecnológicos já foram superados e as soluções já foram encontradas. O que os APLs brasileiros precisam, tecnicamente, são pequenas adaptações do que já é conhecido no setor. São raros os casos em que se tem de desenvolver novos métodos, equipamentos, etc. As tecnologias são conhecidas, estão aí apenas para serem adaptadas caso a caso. Eu acredito que o maior problema não esteja aí, mas sim na implementação de governanças fortes. Os nossos APLs precisam de ações que possam aumentar as interações entre os agentes locais do setor empresarial e público. Acredito que essa seja o maior desafio para o desenvolvimento dos APLs minerais.

por Claudio Almeida

Fonte: RedeAPLmineral

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