Uma equipe formada por professores e alunos da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) recebeu no sábado, 24 de outubro, a visita de um grupo de três pesquisadores italianos do Departamento de Arquitetura da Universidade de Ferrara para dar início a um projeto de escaneamento a laser dos remanescentes dos altos fornos construídos em 1818 por Ludwig Friedrich Varnhagen para a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, que foi uma empresa montada com investimentos do Rei João VI e de empresários paulistas, cariocas e baianos.
A equipe italiana composta pelos pesquisadores italianos Marcello Balzani, Luca Rossato e Daniele Felice Sasso usou um scanner a laser Leica P20 com estação total Leica TS11, que é projetado para aumentar a produtividade e a precisão em mapeamentos, tanto na rotina de campo como em grandes e complexos projetos, para a obtenção das imagens da primeira fábrica brasileira em que foram instalados altos fornos para produzir ferro e aço no País – ao longo das décadas entre 1780 e 1810, a Coroa portuguesa financiou a elaboração de um plano siderúrgico e encaminhou as diretivas para a implantação da siderurgia moderna nos domínios peninsular e ultramarino. A Fábrica de Ferro Ipanema, ao pé do Morro de Araçoiaba, a 17 quilômetros de Sorocaba (SP), foi um dos empreendimentos resultantes da iniciativa.
A equipe brasileira que recepcionou a comitiva italiana foi composta de três professores da USP, dois da Escola Politécnica (Augusto Camara Neiva e Fernando Landgraf, também diretor-presidente do IPT) e um da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Antonio Carlos Barossi. Faziam parte também do grupo o coordenador do Centro de Memória da Fábrica de Ferro de Ipanema, Luciano Regalado, dois alunos da Politécnica (Elmer Mamani e Erika Sequeda) e um doutorando da Unicamp, Paulo E.M. Araújo.
Landgraf explica que esse projeto é importante por uma série de razões: em uma vertente muito específica, a varredura a laser do interior dos altos fornos permitirá registrar a última versão da arquitetura interna do forno Sul, cuja data de última operação é desconhecida – alguns estudiosos afirmam que o ano foi 1895, outros em 1925. “Esse forno (Sul) é remanescente do projeto original de Varnhagen. O forno Norte foi alterado significativamente durante a Primeira Guerra Mundial, e operou provavelmente até 1925”, afirma ele. “A arquitetura interior dos fornos afeta a sua produtividade, ou seja, a quantidade de toneladas de ferro produzida por dia e o volume de carvão usado para a produção de uma tonelada de ferro. Esse é o caminho que adotamos para estabelecer um diálogo com os engenheiros metalúrgicos que operaram os fornos ao longo de cem anos. É impressionante a profundidade do conhecimento técnico expresso nas sucessivas concepções ali construídas”.
Pela vertente acadêmica, as informações coletadas com o escaneamento irão auxiliar um projeto em curso, financiado pelo CNPq e sob a coordenação de Landgraf, dedicado ao estudo da microestrutura de objetos que foram entregues, em 1886, pelo então diretor da fábrica ao Imperador Pedro II. Em outra vertente mais abrangente, a base de dados gerada com a varredura deverá permitir a construção de maquetes dos fornos da fábrica em diferentes fases, nos mesmos moldes do Museu do Ferro de Blaenavon, no País de Gales.
“Esses modelos irão ajudar os visitantes da Floresta Nacional de Ipanema, que é uma unidade de conservação federal criada em 1992 e na qual estão os remanescentes dos altos fornos, a entenderem como um grupo formado por brasileiros, alemães e africanos produziu milhares de toneladas de ferro no local, ao longo do século XIX, trabalhando dia e noite sem parar, em um ambiente de temperaturas altíssimas”, completa Landgraf. Os altos fornos têm operação contínua e não se deve interromper a produção porque existe o risco de solidificação do ferro no seu interior, o que pode provocar um entupimento sem chance de conserto ou reinício.
Além disso, completa Landgraf, o levantamento fornecerá os dados para quantificar os riscos de instabilidade da estrutura: “Espero que o IPT, em parceria com os italianos, possa contribuir na indicação dos procedimentos mais adequados para reestabilização de maneira reversível. Assim, as tecnologias de preservação futuramente desenvolvidas poderão ser usadas nos fornos com um mínimo de intervenção”.
O grupo de pesquisas espera recolocar as atividades industriais brasileiras do século XIX no eixo principal da narrativa da história do Brasil e coloca em xeque a visão generalizada segundo a qual Ipanema teria sido um fracasso por conta de o minério local ser um material problemático. “O grupo não considera um fracasso a experiência de Ipanema; pelo contrário, ela é da maior relevância para a metalurgia brasileira, tanto na produção de ferro forjado quanto fundido, pois atendeu às necessidades do mercado nacional à época. Impossível foi concorrer com os preços ingleses e norte-americanos”, completa Landgraf.
A equipe italiana composta pelos pesquisadores italianos Marcello Balzani, Luca Rossato e Daniele Felice Sasso usou um scanner a laser Leica P20 com estação total Leica TS11, que é projetado para aumentar a produtividade e a precisão em mapeamentos, tanto na rotina de campo como em grandes e complexos projetos, para a obtenção das imagens da primeira fábrica brasileira em que foram instalados altos fornos para produzir ferro e aço no País – ao longo das décadas entre 1780 e 1810, a Coroa portuguesa financiou a elaboração de um plano siderúrgico e encaminhou as diretivas para a implantação da siderurgia moderna nos domínios peninsular e ultramarino. A Fábrica de Ferro Ipanema, ao pé do Morro de Araçoiaba, a 17 quilômetros de Sorocaba (SP), foi um dos empreendimentos resultantes da iniciativa.
A equipe brasileira que recepcionou a comitiva italiana foi composta de três professores da USP, dois da Escola Politécnica (Augusto Camara Neiva e Fernando Landgraf, também diretor-presidente do IPT) e um da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Antonio Carlos Barossi. Faziam parte também do grupo o coordenador do Centro de Memória da Fábrica de Ferro de Ipanema, Luciano Regalado, dois alunos da Politécnica (Elmer Mamani e Erika Sequeda) e um doutorando da Unicamp, Paulo E.M. Araújo.
Landgraf explica que esse projeto é importante por uma série de razões: em uma vertente muito específica, a varredura a laser do interior dos altos fornos permitirá registrar a última versão da arquitetura interna do forno Sul, cuja data de última operação é desconhecida – alguns estudiosos afirmam que o ano foi 1895, outros em 1925. “Esse forno (Sul) é remanescente do projeto original de Varnhagen. O forno Norte foi alterado significativamente durante a Primeira Guerra Mundial, e operou provavelmente até 1925”, afirma ele. “A arquitetura interior dos fornos afeta a sua produtividade, ou seja, a quantidade de toneladas de ferro produzida por dia e o volume de carvão usado para a produção de uma tonelada de ferro. Esse é o caminho que adotamos para estabelecer um diálogo com os engenheiros metalúrgicos que operaram os fornos ao longo de cem anos. É impressionante a profundidade do conhecimento técnico expresso nas sucessivas concepções ali construídas”.
Pela vertente acadêmica, as informações coletadas com o escaneamento irão auxiliar um projeto em curso, financiado pelo CNPq e sob a coordenação de Landgraf, dedicado ao estudo da microestrutura de objetos que foram entregues, em 1886, pelo então diretor da fábrica ao Imperador Pedro II. Em outra vertente mais abrangente, a base de dados gerada com a varredura deverá permitir a construção de maquetes dos fornos da fábrica em diferentes fases, nos mesmos moldes do Museu do Ferro de Blaenavon, no País de Gales.
“Esses modelos irão ajudar os visitantes da Floresta Nacional de Ipanema, que é uma unidade de conservação federal criada em 1992 e na qual estão os remanescentes dos altos fornos, a entenderem como um grupo formado por brasileiros, alemães e africanos produziu milhares de toneladas de ferro no local, ao longo do século XIX, trabalhando dia e noite sem parar, em um ambiente de temperaturas altíssimas”, completa Landgraf. Os altos fornos têm operação contínua e não se deve interromper a produção porque existe o risco de solidificação do ferro no seu interior, o que pode provocar um entupimento sem chance de conserto ou reinício.
Além disso, completa Landgraf, o levantamento fornecerá os dados para quantificar os riscos de instabilidade da estrutura: “Espero que o IPT, em parceria com os italianos, possa contribuir na indicação dos procedimentos mais adequados para reestabilização de maneira reversível. Assim, as tecnologias de preservação futuramente desenvolvidas poderão ser usadas nos fornos com um mínimo de intervenção”.
O grupo de pesquisas espera recolocar as atividades industriais brasileiras do século XIX no eixo principal da narrativa da história do Brasil e coloca em xeque a visão generalizada segundo a qual Ipanema teria sido um fracasso por conta de o minério local ser um material problemático. “O grupo não considera um fracasso a experiência de Ipanema; pelo contrário, ela é da maior relevância para a metalurgia brasileira, tanto na produção de ferro forjado quanto fundido, pois atendeu às necessidades do mercado nacional à época. Impossível foi concorrer com os preços ingleses e norte-americanos”, completa Landgraf.