Ética para a convivência

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As implicações da ética no cotidiano foi o tema que conduziu o encontro de Mario Sergio Cortella, filósofo, doutor em educação e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com cerca de 90 profissionais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), no dia 8 de julho.

Promovido pelo Comitê de Gestão Ética do Instituto, que está articulando ações para divulgar o texto do Código de Ética, consolidado em 2010, o encontro deu continuidade às reflexões realizadas um mês antes, quando Eugênio Bucci, jornalista, professor da USP, ESPM e especialista na área, esteve no IPT para falar sobre a importância da gestão ética.

Cortella: ‘Um homem só deve olhar o outro de cima para baixo quando for para ajudar alguém a se levantar’
Cortella: ‘Um homem só deve olhar o outro de cima para baixo quando for para ajudar alguém a se levantar’
Ao discursar aos profissionais, Cortella falou sobre a relevância de algumas qualidades individuais, como a humildade, para facilitar a convivência com o outro. “É importante que nos saibamos pequenos no campo da convivência”, afirmou, ao dar o exemplo do educador Paulo Freire, que ao longo de sua vida recebeu cerca de 40 títulos de doutor Honoris Causa sem jamais perder a noção de igualdade em relação aos seus semelhantes.

“Um homem só deve olhar o outro de cima para baixo quando for para ajudar alguém a se levantar”, afirmou Cortella. O professor e filósofo explicou também que ser humilde não significa subserviência: “Paulo Freire ficou 15 anos no exílio, durante a ditadura militar no País, porque não quis ser subserviente; ele era portador de uma ética da humildade”.

Com um discurso em tom bem humorado e com frases de efeito para ajudar a compreensão dos conceitos, Cortella citou o Primeiro Ministro da Rainha Vitória, Benjamin Disraeli (1804-1881), que disse: “A vida é muito curta para ser pequena”. Segundo Cortella, a arrogância e o cinismo são poderes tolos que “apequenam a existência”.

“Todo o poder que em vez de servir serve a si mesmo é um poder que não serve”, disse o professor aos profissionais. E também lembrou o filósofo Immanuel Kant (1724-1804): “Tudo o que não puder contar como fez, não faça”.

Essas frases têm em comum a ideia de que a consideração pelo outro na perspectiva da convivência permite que a ética possa ser exercida em seu espírito, que é o da liberdade de escolha. Mas esse exercício também requer responsabilidades. “É preciso assumir o ônus da escolha que se faz”, disse Cortella.

O professor afirmou que devemos considerar a ética como um conjunto de princípios e valores que espelhe a convivência humana. Destacou ainda que a palavra ‘ética’ vem de ‘ethos’, em grego, que significa “a morada do humano ou o lugar em que vivemos juntos”. Questões de caráter e identidade, por exemplo, passam assim pela ética, que na prática acaba norteando os comportamentos aceitos e não-aceitos. Outra distinção importante é que a ética atua no campo da autonomia do ser, e não de sua soberania.

Depois da palestra, os profissionais colocaram questões para aprofundar o entendimento. João Guilherme Rocha Poço, do Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas (LPP), do Centro de Tecnologia de Processos e Produtos (CTPP), por exemplo, perguntou sobre ‘moralismo’, que seria o outro extremo da questão. “O moralismo é uma obsessão moral, de maneira doentia, que eleva o padrão de convivência a um exagero. O moralista também tem a mente fechada, e sofre demais por isso”, disse Cortella.

Ficou assim claro que o bom senso é fundamental para observar os princípios e valores, seja para evitar o moralismo ou a ‘ética de conveniência’, que guia a percepção de pessoas que tendem a se colocar no centro do universo na hora de decisões.

Conheça alguns livros do professor Cortella:

Política para não ser idiota,
Mario Sergio Cortella e Renato Janine Ribeiro, editora Papirus 7 Mares, 2010, 112 págs.

Não espere pelo epitáfio,
Mario Sergio Cortella, editora Vozes, 2005, 160 págs.

Não nascemos prontos,
Mario Sergio Cortella, editora Vozes, 2009, 136 págs.

Nos labirintos da moral,
Mario Sergio Cortella e Yves De La Taille, editora Papirus 7 Mares, 2009, 112 págs.
 

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