Que os minerais são recursos naturais finitos não é novidade, mas agora é ainda mais preocupante constatar que os teores dos minerais de interesse nas reservas estão cada vez mais baixos. Uma abordagem que tem sido difundida neste setor é o reconhecimento dos rejeitos da mineração como minérios de baixo teor.
No entanto, para beneficiar e ‘reconcentrar’ o mineral útil contido no rejeito, as técnicas atuais deverão ser modificadas para que seja possível trabalhar com partículas finas e ultrafinas, afirmou a pesquisadora Sandra Lucia de Moraes, diretora técnica da unidade de negócios Materiais Avançados do IPT, no workshop ‘Economia circular na mineração: soluções baseadas em modelos de negócio’, realizado no dia 6 de junho, em uma parceria entre o IPT e a Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM).
O workshop foi o pré-evento que abriu os trabalhos da ‘6ª ABM Week’, que se realiza de hoje, 7 de junho, até o dia 9 em São Paulo, e é considerado o maior encontro técnico-científico da América Latina nas áreas de metalurgia, materiais e mineração.
A pesquisadora do IPT lembrou em sua apresentação outro ponto fundamental para explorar o potencial ambiental e econômico dos rejeitos minerais, que é a redução do volume das barragens. O aproveitamento dos rejeitos como um minério de baixo teor, afirmou ela, reduziria a quantidade de rejeito alocado nas barragens, amenizando as dificuldades de manutenção e estabilidade:
“O reaproveitamento e a disposição de rejeitos minerais de modo eficiente, ambiental e socialmente responsáveis são, também, oportunidades para o desenvolvimento da competitividade industrial”.
Moraes acredita que o caminho para uma mineração sustentável ainda é longo, mas existem alguns atalhos. Muitas discussões têm acontecido no mundo, como foi destaque em 2015 no documento elaborado pelo Fórum Econômico Mundial com a colaboração do Boston Consulting Group.
Trata-se de um esboço de plano de ação para orientar e apoiar uma empresa, e o setor em que está inserida, em uma transição bem-sucedida para um mundo mais sustentável até 2050. O relatório tem como foco estratégias e ações empresariais, com o objetivo de possibilitar e contribuir para a discussão sobre o futuro sustentável do planeta.
O objetivo é que as empresas não apenas pensem sobre essas questões, mas também atuem sobre elas. “O documento também destaca as principais transições que irão moldar a cadeia de valor da mineração e metais neste novo mundo sustentável e fornecer uma estrutura para apoiar as ações necessárias, com forte apelo para a circularidade”, explicou a pesquisadora.
MINERAÇÃO E CIRCULARIDADE – Para Beatriz Luz, fundadora da Exchange 4 Change Brasil (E4CB) e também palestrante no evento, uma visão circular envolvendo colaboração pré-competitiva e integração dos diversos setores traz, para a indústria da mineração, “a possibilidade de transformar o desenvolvimento tecnológico da área em soluções de negócios circulares em escala”.
A adoção do conceito da economia circular deverá trazer um enorme avanço neste contexto, completou a pesquisadora do IPT. A mudança do atual modelo linear da economia não só traria benefícios no cenário econômico, como também reduziria significativamente o impacto negativo no meio ambiente: “A transição para a economia circular envolve quatro blocos de construção fundamentais: materiais e design de produtos, novos modelos de negócios, redes reversas globais e condições facilitadoras. A mudança de economia depende, por um lado, dos formuladores de políticas e de suas decisões e, por outro, das entidades de negócios”, afirmou Moraes.
POTENCIAL DOS RESÍDUOS – Hoje, o Brasil figura como uma das grandes potências minerais do mundo. A magnitude da dotação mineral brasileira é traduzida pela produção de mais de 50 substâncias minerais que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), atingiu o valor de 339 bilhões de reais em 2021.
A geração de rejeitos é inerente à atividade da mineração e está relacionada a três fatores principais: os dois primeiros diretamente vinculados à natureza da jazida, envolvendo a localização do corpo mineralizado em relação à superfície e a concentração do mineral de minério contido; o terceiro está relacionado ao processo de lavra e beneficiamento empregados.
Em 2017, o IPT estimou que no período de 2000 a 2014 foram acumulados cerca de 4,86 bilhões de toneladas de rejeitos, gerados por 15 substâncias minerais das cerca de 70 produzidas no Brasil. Outro levantamento, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2012, projetou que 14 das principais substâncias minerais produzidas no Brasil serão responsáveis por cerca de 11 bilhões de toneladas de rejeitos gerados no período entre 2010 e 2030.