A gerente da Coordenadoria de Desenvolvimento de Negócios do IPT, Flavia Gutierrez Motta, participou do Programa de Desenvolvimento e Capacitação no Exterior (PDCE) do Instituto com o objetivo de estudar os processos de transferência tecnológica no ecossistema de inovação na Suécia. O treinamento foi realizado na Divisão de Projeto, Inovações e Empreendedorismo da Universidade de Linköping, localizada na cidade de mesmo nome, entre os meses de outubro de 2017 e fevereiro de 2018.
Parte do treinamento foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), parte pela Fundação de Apoio ao IPT (Fipt) e parte pelo próprio IPT. O fomento da Fapesp foi obtido dentro do Programa de Apoio à Propriedade Intelectual (PAPI Capacitação), gerenciado pelo Núcleo de Patenteamento e Transferência de Tecnologia (Nuplitec), que tem o objetivo de orientar e auxiliar pesquisadores na defesa da propriedade intelectual de inventos resultantes de pesquisas financiadas pela fundação.
Graduada em Engenharia de Produção Agroindustrial pela Universidade Federal de São Carlos e com mestrado e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (USP), Flavia teve como base no período de treinamento a Universidade de Linköping e visitou 16 instituições com dois objetivos principais: entender como os núcleos de inovação tecnológica (NITs) – ou agências de inovação, como são denominadas na Suécia – das universidades suecas funcionam, e como os projetos de pesquisa de longo prazo entre universidades e empresas são estruturados para a realização de transferência de tecnologia.
As primeiras atividades realizadas pela gerente do IPT aconteceram na semana de 23 a 27 de outubro, quando uma comitiva brasileira reunindo profissionais e pesquisadores, ligados a empresas, órgãos do governo e institutos de pesquisa científica e tecnológica, participou do Programa de Imersão em Ecossistema de Inovação na Suécia – Flavia foi a representante do IPT nesta ação. A iniciativa promovida pelo Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (Cisb), com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), tem o objetivo de ampliar o conhecimento dos profissionais brasileiros que trabalham com inovação em relação a um sistema de suporte e estimulo à pesquisa que apresenta características distintas do operado no Brasil.
A primeira questão a chamar a atenção para Flavia foi o tratamento dado à propriedade intelectual na Suécia, que é bastante diferente do que determina a legislação brasileira: “Os direitos relativos às pesquisas pertencem à instituição aqui, como acontece no IPT. Quando um pesquisador faz um desenvolvimento, os resultados do projeto são de domínio da instituição em que ele trabalha, e não dele”, afirma Flavia. “Na Suécia, a legislação é diferente: o dono da propriedade intelectual é o docente da universidade. Por conta disso, os núcleos de inovação tecnológica funcionam de modo distinto nos dois países”.
CULTURA DO EMPREENDEDORISMO – Enquanto os NITs no Brasil dedicam parte relevante de seu tempo em identificar matérias que sejam patenteáveis e buscar parcerias para o licenciamento das patentes, as estruturas das universidades na Suécia que trabalham com comercialização e inovação fazem a conexão com o mercado estimulando o surgimento de startups – afinal, a propriedade intelectual não é um ativo da instituição, e a responsabilidade de patentear ou licenciar está nas mãos dos pesquisadores.
A disseminação da prática de estimular startups tomou força em 2007 quando a Vinnova, a principal agência sueca de fomento à inovação, iniciou um programa para financiar essas atividades nas universidades. As primeiras oito instituições a criarem agências de inovação o fizeram em 2008, tendo o orçamento proveniente em parte da própria universidade e parte da Vinnova. “As agências de inovação passaram a atuar com programas de sensibilização de empreendedorismo e de pré-incubação de ideias, a fim de permitir que professores e estudantes crescessem nesta trajetória de criar empresas de base tecnológica”, explica ela.
Após mais de dez anos de existência das agências de inovação, o objetivo continua sendo de estimular que os estudantes e pesquisadores criem suas inovações tecnológicas nas universidades e transformem produtos e serviços em empresas. Quando esse ponto de inversão acontece e as empresas são formalizadas, muitas delas se instalam em incubadoras para amadurecem o modelo de negócio e buscarem consolidação no mercado. “As grandes universidades suecas possuem empresas privadas que têm, entre os seus negócios, incubadoras, além da oferta de consultoria para o mercado e de licenciamento de patentes”, completa Flavia.
Em termos de indicadores de desempenho, as agências de inovação mensuram apenas os resultados gerados de novas empresas, mas ainda não conseguem medir o quanto o trabalho de estímulo às startups gera de impacto na economia, explica ela: “Em todos os núcleos que visitei, eu perguntava sobre os desafios principais. A resposta mais comum era a montagem de uma metodologia para conseguir medir o impacto em termos econômicos, sociais e ambientais. Não há ainda um consenso sobre a questão”.
LONGO PRAZO – Outro foco do estudo foi compreender como os centros de excelência em pesquisa industrial, que apresentam características semelhantes àqueles fomentados pela Fapesp, são administrados. A Vinnova oferece editais para a criação de centros para pesquisas com financiamento de longo prazo e, em muitos casos, abordagens interdisciplinares, a fim de permitir o estudo de problemas complexos na fronteira do conhecimento. Flavia realizou um estudo de caso de uma experiência envolvendo academia e indústria que havia sido iniciada em 2007 e teve seu contrato renovado no ano passado até 2027, totalizando 20 anos de uma parceria entre a Universidade de Linköping e as empresas ABB Robotics, Scania e Saab para o desenvolvimento de tecnologia pré-competitiva de controle e de automação.
O investimento para a execução do projeto é proveniente da Vinnova, da universidade e das três empresas em um cenário diferente do modelo brasileiro: os recursos da ABB, da Scania e da SAAB não são somente financeiros, mas também econômicos – ou seja, as equipes técnicas das empresas dedicam parte de seu tempo para desenvolver o estudo com os pesquisadores da universidade. “Quando as indústrias no Brasil fazem uma parceria com universidades ou ICTs, elas colocam dinheiro e as instituições executam as pesquisas, como se fosse um outsourcing de desenvolvimento. A abordagem na Suécia é mais hands-on do que no Brasil: os dois lados botam a mão na massa e trabalham juntos”, diz Flavia.
Uma das vantagens do desenvolvimento compartilhado, segundo ela, está no fato de que o processo de transferência de tecnologia é facilitado: o pesquisador da empresa desenvolve com a universidade o projeto e está mais ligado aos resultados, ou seja, o entendimento e a forma de adaptar as tecnologias para a empresa são facilitados. “No entanto, os desenvolvimentos são de TRL (Technology Readiness Level, ou Nível de Prontidão da Tecnologia) baixo: a empresa absorve a tecnologia com mais facilidade e faz o trabalho de aplicação em seu desenvolvimento de produto para lançar no mercado”.
PÚBLICO E PRIVADO – A educação na Suécia é pública; até mesmo os alunos que estudam em universidades privadas não pagam pelo ensino, mas sim o governo. O tempo despendido pelos docentes nas universidades com educação é pago pelo governo, porém os recursos para dedicação às pesquisas dependem da aprovação dos projetos em editais.
“Um docente na universidade sueca tem um comportamento semelhante ao de um pesquisador do IPT: ele vai ao mercado vender seus projetos e deve competir por recursos de editais públicos ou privados, tanto de instituições suecas quanto da Comunidade Europeia, para desenvolver as pesquisas. É importante ressaltar, no entanto, que a maior parte do orçamento das universidades, incluindo as pesquisas, é de origem pública – apenas cerca de 10% dele é de fonte privada”, afirma Flavia.
“CORPORATE VENTURING” – O dia a dia de contato com o funcionamento das universidades suecas apresentou para Flavia uma iniciativa ainda não aplicada no Brasil: todas elas possuem uma empresa de venture que tem como objetivo investir em tecnologias consideradas relevantes e de alto potencial de mercado. “As universidades têm participação acionária em empresas de base tecnológica, tanto daquelas que nasceram dentro delas, quanto de outras identificadas pela venture como interessantes”, explica Flavia. “Os suecos têm uma cultura muito forte de criar negócios e investem em ideias identificadas como promissoras, tornando-se coproprietários e sendo remunerados, caso ocorra lucro”.
No Brasil, continua ela, algumas incubadoras são vinculadas a universidades, mas a possibilidade de participação como acionista das empresas é algo novo no ambiente regulatório brasileiro.
As ideias coletadas durante o treinamento estão sendo empregadas na elaboração de uma proposta, a ser submetida a uma agência de fomento, para um modelo de parceria de cocriação de tecnologia com startups. A intenção é montar uma metodologia para atrair empresas que sejam interessantes para o IPT – a instituição não seria remunerada por este desenvolvimento a priori, mas sim no futuro caso a tecnologia fosse ao mercado.
Parte do treinamento foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), parte pela Fundação de Apoio ao IPT (Fipt) e parte pelo próprio IPT. O fomento da Fapesp foi obtido dentro do Programa de Apoio à Propriedade Intelectual (PAPI Capacitação), gerenciado pelo Núcleo de Patenteamento e Transferência de Tecnologia (Nuplitec), que tem o objetivo de orientar e auxiliar pesquisadores na defesa da propriedade intelectual de inventos resultantes de pesquisas financiadas pela fundação.
Graduada em Engenharia de Produção Agroindustrial pela Universidade Federal de São Carlos e com mestrado e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (USP), Flavia teve como base no período de treinamento a Universidade de Linköping e visitou 16 instituições com dois objetivos principais: entender como os núcleos de inovação tecnológica (NITs) – ou agências de inovação, como são denominadas na Suécia – das universidades suecas funcionam, e como os projetos de pesquisa de longo prazo entre universidades e empresas são estruturados para a realização de transferência de tecnologia.
As primeiras atividades realizadas pela gerente do IPT aconteceram na semana de 23 a 27 de outubro, quando uma comitiva brasileira reunindo profissionais e pesquisadores, ligados a empresas, órgãos do governo e institutos de pesquisa científica e tecnológica, participou do Programa de Imersão em Ecossistema de Inovação na Suécia – Flavia foi a representante do IPT nesta ação. A iniciativa promovida pelo Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (Cisb), com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), tem o objetivo de ampliar o conhecimento dos profissionais brasileiros que trabalham com inovação em relação a um sistema de suporte e estimulo à pesquisa que apresenta características distintas do operado no Brasil.
A primeira questão a chamar a atenção para Flavia foi o tratamento dado à propriedade intelectual na Suécia, que é bastante diferente do que determina a legislação brasileira: “Os direitos relativos às pesquisas pertencem à instituição aqui, como acontece no IPT. Quando um pesquisador faz um desenvolvimento, os resultados do projeto são de domínio da instituição em que ele trabalha, e não dele”, afirma Flavia. “Na Suécia, a legislação é diferente: o dono da propriedade intelectual é o docente da universidade. Por conta disso, os núcleos de inovação tecnológica funcionam de modo distinto nos dois países”.
CULTURA DO EMPREENDEDORISMO – Enquanto os NITs no Brasil dedicam parte relevante de seu tempo em identificar matérias que sejam patenteáveis e buscar parcerias para o licenciamento das patentes, as estruturas das universidades na Suécia que trabalham com comercialização e inovação fazem a conexão com o mercado estimulando o surgimento de startups – afinal, a propriedade intelectual não é um ativo da instituição, e a responsabilidade de patentear ou licenciar está nas mãos dos pesquisadores.
A disseminação da prática de estimular startups tomou força em 2007 quando a Vinnova, a principal agência sueca de fomento à inovação, iniciou um programa para financiar essas atividades nas universidades. As primeiras oito instituições a criarem agências de inovação o fizeram em 2008, tendo o orçamento proveniente em parte da própria universidade e parte da Vinnova. “As agências de inovação passaram a atuar com programas de sensibilização de empreendedorismo e de pré-incubação de ideias, a fim de permitir que professores e estudantes crescessem nesta trajetória de criar empresas de base tecnológica”, explica ela.
Após mais de dez anos de existência das agências de inovação, o objetivo continua sendo de estimular que os estudantes e pesquisadores criem suas inovações tecnológicas nas universidades e transformem produtos e serviços em empresas. Quando esse ponto de inversão acontece e as empresas são formalizadas, muitas delas se instalam em incubadoras para amadurecem o modelo de negócio e buscarem consolidação no mercado. “As grandes universidades suecas possuem empresas privadas que têm, entre os seus negócios, incubadoras, além da oferta de consultoria para o mercado e de licenciamento de patentes”, completa Flavia.
Em termos de indicadores de desempenho, as agências de inovação mensuram apenas os resultados gerados de novas empresas, mas ainda não conseguem medir o quanto o trabalho de estímulo às startups gera de impacto na economia, explica ela: “Em todos os núcleos que visitei, eu perguntava sobre os desafios principais. A resposta mais comum era a montagem de uma metodologia para conseguir medir o impacto em termos econômicos, sociais e ambientais. Não há ainda um consenso sobre a questão”.
LONGO PRAZO – Outro foco do estudo foi compreender como os centros de excelência em pesquisa industrial, que apresentam características semelhantes àqueles fomentados pela Fapesp, são administrados. A Vinnova oferece editais para a criação de centros para pesquisas com financiamento de longo prazo e, em muitos casos, abordagens interdisciplinares, a fim de permitir o estudo de problemas complexos na fronteira do conhecimento. Flavia realizou um estudo de caso de uma experiência envolvendo academia e indústria que havia sido iniciada em 2007 e teve seu contrato renovado no ano passado até 2027, totalizando 20 anos de uma parceria entre a Universidade de Linköping e as empresas ABB Robotics, Scania e Saab para o desenvolvimento de tecnologia pré-competitiva de controle e de automação.
O investimento para a execução do projeto é proveniente da Vinnova, da universidade e das três empresas em um cenário diferente do modelo brasileiro: os recursos da ABB, da Scania e da SAAB não são somente financeiros, mas também econômicos – ou seja, as equipes técnicas das empresas dedicam parte de seu tempo para desenvolver o estudo com os pesquisadores da universidade. “Quando as indústrias no Brasil fazem uma parceria com universidades ou ICTs, elas colocam dinheiro e as instituições executam as pesquisas, como se fosse um outsourcing de desenvolvimento. A abordagem na Suécia é mais hands-on do que no Brasil: os dois lados botam a mão na massa e trabalham juntos”, diz Flavia.
Uma das vantagens do desenvolvimento compartilhado, segundo ela, está no fato de que o processo de transferência de tecnologia é facilitado: o pesquisador da empresa desenvolve com a universidade o projeto e está mais ligado aos resultados, ou seja, o entendimento e a forma de adaptar as tecnologias para a empresa são facilitados. “No entanto, os desenvolvimentos são de TRL (Technology Readiness Level, ou Nível de Prontidão da Tecnologia) baixo: a empresa absorve a tecnologia com mais facilidade e faz o trabalho de aplicação em seu desenvolvimento de produto para lançar no mercado”.
PÚBLICO E PRIVADO – A educação na Suécia é pública; até mesmo os alunos que estudam em universidades privadas não pagam pelo ensino, mas sim o governo. O tempo despendido pelos docentes nas universidades com educação é pago pelo governo, porém os recursos para dedicação às pesquisas dependem da aprovação dos projetos em editais.
“Um docente na universidade sueca tem um comportamento semelhante ao de um pesquisador do IPT: ele vai ao mercado vender seus projetos e deve competir por recursos de editais públicos ou privados, tanto de instituições suecas quanto da Comunidade Europeia, para desenvolver as pesquisas. É importante ressaltar, no entanto, que a maior parte do orçamento das universidades, incluindo as pesquisas, é de origem pública – apenas cerca de 10% dele é de fonte privada”, afirma Flavia.
“CORPORATE VENTURING” – O dia a dia de contato com o funcionamento das universidades suecas apresentou para Flavia uma iniciativa ainda não aplicada no Brasil: todas elas possuem uma empresa de venture que tem como objetivo investir em tecnologias consideradas relevantes e de alto potencial de mercado. “As universidades têm participação acionária em empresas de base tecnológica, tanto daquelas que nasceram dentro delas, quanto de outras identificadas pela venture como interessantes”, explica Flavia. “Os suecos têm uma cultura muito forte de criar negócios e investem em ideias identificadas como promissoras, tornando-se coproprietários e sendo remunerados, caso ocorra lucro”.
No Brasil, continua ela, algumas incubadoras são vinculadas a universidades, mas a possibilidade de participação como acionista das empresas é algo novo no ambiente regulatório brasileiro.
As ideias coletadas durante o treinamento estão sendo empregadas na elaboração de uma proposta, a ser submetida a uma agência de fomento, para um modelo de parceria de cocriação de tecnologia com startups. A intenção é montar uma metodologia para atrair empresas que sejam interessantes para o IPT – a instituição não seria remunerada por este desenvolvimento a priori, mas sim no futuro caso a tecnologia fosse ao mercado.