Barulho no Chile

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O pesquisador Marcelo de Mello Aquilino – do Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade dos Edifícios do IPT – esteve na cidade de Santiago, no Chile, entre os dias 25 de setembro e primeiro de outubro para participar da quinta edição do Seminário de Acústica na Edificação e Meio Ambiente no Chile, que teve como tema a experiência internacional como fator de melhoria na normalização nacional. O evento foi organizado pela Escola de Construção Civil da Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC), com a colaboração da DUOC, que é uma instituição de ensino superior criada como fundação pela UC.

O objetivo do seminário foi discutir as necessidades de proteção acústica de ruídos em edificações habitacionais a partir das contribuições de especialistas internacionais. Aquilino foi o único representante do Brasil no evento – que teve a presença de profissionais de Portugal, da Colômbia e da Inglaterra – e ministrou a palestra ‘Desempenho Acústico e Norma de Desempenho’, na qual destacou a entrada em vigor no ano de 2013 da norma NBR 15.575: Desempenho de Edificações Habitacionais, criada com o objetivo de garantir qualidade a partir de uma série de requisitos mínimos.

“O convite para participar do seminário surgiu a partir da visita ao IPT em 2016 de três professores da UC, do Colegio de Ingenieros en Acústica e do Duoc”, explica Aquilino. “Eles vieram ao Brasil porque, apesar da expertise em mapeamento de ruídos, como nas cidades de Santiago e de Valdivia, não têm um conhecimento de desempenho de edifícios, que já está mais consolidado no Brasil e também no laboratório do Instituto”.

Segundo a norma brasileira, a edificação habitacional deve apresentar não somente isolamento acústico adequado das vedações externas no que se refere aos ruídos aéreos provenientes do exterior da edificação habitacional, mas também isolamento acústico apropriado entre áreas comuns e privativas e entre áreas privativas de unidades autônomas diferentes. “Houve muito questionamento de como abordar a isolação de uma edificação completa, e não somente dos elementos – hoje, a medição deles é feita em laboratório, mas os valores obtidos em campo diferem muitas vezes do que é determinado em laboratório. Eles [chilenos] não têm ainda conhecimento do tipo de transmissão de ruído por toda a edificação – assim, o debate se concentrou na questão de como realizar a medição, e não de o que precisa ser medido”, afirma o pesquisador.

NOVAS PREOCUPAÇÕES – Segundo Aquilino, os convidados internacionais mostraram no seminário um interesse maior em discutir temas como o mapeamento de ruído do que o desempenho de edifícios: “Os prédios em Portugal, por exemplo, são bem preparados para o isolamento acústico, mas eles começaram recentemente a ter muitos problemas de ruído ambiental; em vez de determinar parâmetros para as edificações, eles estão tentando fazer o controle do ruído externo”, explica ele.

As chamadas rumbas, que são baladas de salsa, reggaeton e merengue, foram enfatizadas como fontes de ruído na Colômbia e responsáveis pelas queixas da população – os picos de ruído guardam semelhança com os dos ‘pancadões’ brasileiros – e o debate no país está agora concentrado na questão da fiscalização; na Inglaterra, por outro lado, a preocupação é o desempenho de edifícios, mas não os habitacionais, e sim aqueles denominados especiais, como escolas, estúdios e teatros.

Aquilino aproveitou a visita ao Chile para conhecer um laboratório de ensaios acústicos em funcionamento e dois em fase de montagem. Os três estão buscando a acreditação do Instituto Nacional de Normalización (INN) – que é o equivalente ao Inmetro no Brasil – e todos são pertencentes à iniciativa privada. “Eles voltarão ao Brasil para discutir a possibilidade de o IPT executar para eles ensaios de elementos leves, como portas e janelas, que são mais facilmente transportados, enquanto seus laboratórios não são acreditados”, afirma o pesquisador.

Em relação ao mapeamento sonoro das cidades, o pesquisador do IPT lembra que a capital chilena e a cidade de Valdivia possuem mapas de ruído – em Santiago, por exemplo, o primeiro estudo data de 1989 e duas atualizações foram feitas em 2011 e 2015 – e é possível observar a tomada de ações para corrigir os problemas encontrados, como a instalação de barreiras acústicas.

“Estamos alinhados com a metodologia empregada em grande parte dos países para executar o mapeamento. O contato com profissionais de todo o mundo mostrou também que uma grande dificuldade a se enfrentar para a execução do estudo se refere ao cálculo do número de veículos. É uma incógnita no Brasil e no mundo inteiro saber a quantidade de carros, motos, ônibus e caminhões que circulam em uma determinada via”, afirma Aquilino. “É importante dizer ainda que, após realizar o mapeamento, é preciso pensar na qualidade acústica, como está ocorrendo atualmente na Europa. O mapeamento funciona somente como um diagnóstico”.

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