Controle de inundações

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Quando a prefeitura do município de Lençóis Paulista, localizado no centro-oeste do estado de São Paulo, resolveu procurar o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) com o intuito de receber uma avaliação sobre o sistema de controle de inundações que havia instalado no bairro Vila Contente, próximo ao córrego Corvo Branco, queria, acima de tudo, resolver um problema de quase meio século.

Segundo a imprensa local, alagamentos no bairro são registrados desde a década de 1970, época em que o curso do córrego foi alterado para permitir a construção de residências. Nos últimos anos, no entanto, a situação piorou: em fevereiro de 2006, o córrego chegou a subir cinco metros, atingindo cerca de 100 casas. Em 2011, uma inundação causou danos a 160 residências e 21 prédios, desalojando cerca de 370 pessoas.

Equipe do IPT trabalha na avaliação do córrego Corvo Branco, em Lençóis Paulista
Equipe do IPT trabalha na avaliação do córrego Corvo Branco, em Lençóis Paulista
A administração municipal se sentiu obrigada a agir ainda naquele ano: construiu um sistema de bombeamento e comportas visando auxiliar na drenagem das águas superficiais do bairro, conduzindo-as ao leito do córrego e vencendo o desnível existente entre o curso d’água e as casas. Assim, caso uma enxurrada viesse do alto em direção ao local, bastaria acionar o sistema.

Para validar a bomba e eventualmente apontar medidas que melhorassem o desempenho dela, a prefeitura solicitou um estudo do Centro de Tecnologias Geoambientais do IPT por meio do Programa de Atendimento Tecnológico aos Municípios (Patem) em setembro de 2015. Porém, quando a equipe ainda aguardava a assinatura do convênio que permitiria o início dos trabalhos da equipe do Instituto, um fator extremo agravou a situação: a maior chuva já vista na história de Lençóis Paulista.

“Foi uma chuva que tem uma probabilidade de ocorrência em 12 mil anos”, conta Filipe Falcetta, pesquisador da seção e responsável pelo trabalho em Lençóis Paulista. “Não se dimensionam estruturas para essa magnitude. Os dados coletados posteriormente indicaram que havia chovido cerca de 300 milímetros em 24 horas. Para se ter uma ideia, as recentes chuvas mais fortes em São Paulo foram de 115 milímetros nesse mesmo período de tempo”, completa. Segundo a imprensa local, a chuva deixou 150 casas alagadas e dezenas de pessoas desalojadas, além da morte de um homem.

Após o período das chuvas, a equipe do IPT passou os meses seguintes entre o trabalho de campo e as avaliações dos dados em escritório. Em parceria com os funcionários da prefeitura, usaram informações históricas – como uma foto aérea do bairro da década de 1960 que o Instituto possuía –, geográficas e técnicas das estruturas construídas para conter a água do córrego, que chega a passar embaixo da Marechal Rondon, um dos corredores rodoviários mais importantes do estado.

O relatório final foi entregue ao município em dezembro de 2016. O IPT apontou uma série de problemas que, na avaliação da equipe, precisam ser corrigidos imediatamente. O principal é a modernização de quatro estruturas de macrodrenagem que passam sobre o córrego, muitas delas construídas na década de 1960, quando uma ferrovia ainda funcionava na região. Com dimensões pequenas e construídas em caráter informal, elas não davam conta de manter o rio no seu leito quando, diante as chuvas, a água subia mais do que o normal. Assim, eram as primeiras a ficar no fundo do córrego quando ele transbordava.

Um dos sistemas, responsável por drenar a água do córrego que passa embaixo da rodovia, também não atende aos requisitos básicos de segurança. “Avisamos, inclusive, por meio da prefeitura, o DER, porque verificamos que estava ocorrendo erosão naquela estrutura”, revela Falcetta.

Estruturas de macrodrenagem avariadas, ou de capacidade de escoamento insuficiente, agravam a problemática de alagamento, pois represam as águas, provocando a elevação do nível d’água, fazendo com que o escoamento deixe de ocorrer com segurança dentro da calha da linha de drenagem. Para cada sistema, a equipe elaborou uma ficha com as dimensões atuais e os parâmetros considerados ideais para resolver o problema.

Além disso, o IPT ainda apontou que a prefeitura poderia construir uma bacia de retenção à margem esquerda do rio, do outro lado de Vila Contente, represando a água excedente das chuvas em um espaço vazio. Para melhorar ainda mais a situação, foi sugerida a instalação de uma galeria subterrânea entre o córrego e o seu encontro com o rio Lençóis, que corta a cidade, já próximo à rodovia.

A equipe do IPT também se preocupou em elaborar um relatório de riscos da área, indicando à prefeitura que algumas ruas do bairro estão em um espaço considerado de ‘alto risco’, independentemente das melhorias estruturais propostas pelo Instituto. “Se chover um pouco mais, elas correm risco. Isso foi deixado claro para ser levado em conta quando a prefeitura elaborar um Plano Diretor Municipal”, explica o pesquisador.

O trabalho foi finalizado em dezembro, mas não deve encerrar a passagem do IPT pelo município. A administração de Lençóis Paulista planeja acionar o Instituto para outro projeto, de maior porte, que envolve as margens do Rio Lençóis, um dos principais da região de Bauru.

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