São Paulo amanhã

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No dia 25 de janeiro São Paulo comemorou 462 anos. Superlativa em muitos aspectos, a capital enfrenta também problemas de grandes proporções, que afetam os centros urbanos de todo o globo. Esses problemas constituem desafios para os quais, ao menos do ponto de vista técnico, existem múltiplas respostas.

Confira a seguir algumas abordagens de pesquisadores do IPT sobre temas importantes para a cidade que sugerem uma São Paulo mais inteligente. São proposições formuladas a partir da expertise de profissionais do IPT e sujeitas a avaliações da comunidade. Não existe a pretensão de que sejam soluções prontas. Trata-se apenas de mostrar que se vivemos uma crise, ela não é de ideias.


MOBILIDADE – Algumas propostas poderiam representar um verdadeiro presente para São Paulo se implantadas. É o que pensa o pesquisador Alessandro Santiago dos Santos, da Seção de Automação, Governança e Mobilidade Digital do IPT, que defende o uso da tecnologia para uma gestão mais inteligente do transporte de pessoas e de cargas na cidade. “Normalmente associamos a mobilidade a veículos, mas não podemos nos esquecer da mobilidade a pé. Assim, criar zonas prioritárias para pedestres é uma boa alternativa. Além de termos espaços mais funcionais e práticos para os cidadãos, esses locais poderiam ter pisos `piezoelétricos´, que permitem acumular energia quando as pessoas se movimentam sobre esses materiais”. Cidades europeias como Barcelona são bons exemplos de espaços para mobilidade a pé.

Outro nó a desatar é a entrega de mercadorias, que pode ser mais sustentável e gerar menos congestionamento. “Seria interessante a implantação de microterminais para realizar a entrega na porta do cliente por meio de veículos especiais com zero emissão de poluentes, experiência já implantada em outras capitais, como o caso de Pequim, que realiza as entregas em triciclos elétricos. Em um cenário de longo prazo, já existem propostas de entregas de pequenos produtos por meio de drones”.

São Paulo já possui uma rede de transporte integrada, mas é possível usar com mais eficácia os Sistemas Inteligentes de Transporte, que propõem o melhor caminho para os deslocamentos de forma multimodal, combinando os meios de transporte de maneira mais eficiente. “O trabalhador poderia, por exemplo, perceber casos que vale mais a pena parar seu veículo em um estacionamento e pegar o transporte público ou uma bicicleta, do que persistir em um caminho problemático”.

ÁGUA – São Paulo está localizada numa região em que predominam as nascentes de rios, possuindo uma capacidade hídrica limitada frente à população que nela reside. Por essa razão, o pesquisador Luciano Zanella, do Laboratório de Instalações Prediais e Saneamento do IPT, explica que um dos primeiros passos para a garantia do abastecimento de água seria o desenvolvimento de um plano de segurança hídrica para a cidade, e o aumento de sua resiliência hídrica, de forma que o sistema fosse capaz de retornar ao equilíbrio após perturbações como secas, cheias extremas, acidentes e situações advindas do contato inadequado do meio urbano com as fontes de abastecimento.

Medidas como a proteção e busca de novos mananciais, construção de reservatórios, manejo sustentável das águas urbanas, adequação do uso e ocupação do solo, incentivo ao uso racional da água e educação ambiental são ressaltadas pelo pesquisador para explicar que a gestão da água não deve ser isolada da gestão dos demais recursos. “Para reduzir as probabilidades de ocorrência de crises, é necessário que se faça a gestão integrada dos recursos”, sentencia.

Zanella ressalta ainda que muitas medidas podem ser tomadas fora da esfera governamental. “Conhecimento sobre os volumes de água consumidos, uso de equipamentos economizadores e de fontes alternativas, como a água de chuva ou o reúso adequado e seguro e a execução de programas de manutenção e combate a vazamentos são algumas das formas de colaborar para que os recursos hídricos possam ser utilizados de forma sustentável”.

POLUIÇÃO SONORA – São Paulo enfrenta todos os dias um problema invisível, mas que prejudica a qualidade de vida de seus moradores e também é danoso à saúde pública: o excesso de ruído. Para o IPT, a primeira iniciativa para controlar o transtorno na capital é a elaboração de um mapa sonoro da cidade. De acordo com os pesquisadores Marcelo de Mello Aquilino e Elisa Morandé Sales, do Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade dos Edifícios do Instituto, o mapa indicará os pontos críticos de poluição sonora da cidade e dará subsídios aos gestores públicos para a tomada de providências e mitigação de ruído na cidade. “O mapeamento constitui uma excelente ferramenta para o planejamento urbano e vem sendo utilizado para avaliar a paisagem acústica em cidades de diversos países, a exemplo de Portugal, Espanha, Chile e Colômbia”.

Um futuro mais silencioso pode não estar tão distante. O IPT vem participando na Câmara de Vereadores de um grupo de trabalho que busca criar soluções para o problema de ruído na cidade, que tem como meta o mapeamento sonoro de São Paulo, previsto no projeto de lei PL 75/2015, já aprovado em primeira instância.

Outras ações também podem minimizar o problema. “A questão da educação merece atenção, pois muitos dos incômodos acústicos são provocados pela falta de consideração com o direito ao silêncio da população. É fundamental ainda que as escolas de engenharia e arquitetura tenham em seus cursos disciplinas que formem profissionais com fundamentos sólidos sobre os fenômenos acústicos”, alertam os pesquisadores.

ILUMINAÇÃO PÚBLICA – Segundo o pesquisador Oswaldo Sanchez Junior, do Laboratório de Equipamentos Elétricos e Ópticos do IPT, o advento de novas tecnologias (sendo a mais recente a de LED) trouxe oportunidades para gestores, especificadores, projetistas, instaladores e até fabricantes basearem seu trabalho em um planejamento mais integrado e sustentável da iluminação urbana. “Muitas vezes o baixo custo e o menor impacto ambiental podem ser obtidos não apenas economizando energia, mas pensando em todo o ciclo de vida da instalação (incluídos os equipamentos de iluminação utilizados), desde a fabricação de componentes, a manutenção da instalação, transporte de itens, geração de resíduos e o descarte final de materiais”, ressalta.

Além disso, para o pesquisador, paralelamente aos âmbitos econômico e ambiental da iluminação urbana, é responsabilidade do poder público pensar em uma gestão que leve em conta as necessidades diversas da população, tanto de conhecer e ocupar os espaços da cidade como de circular por eles com segurança. “Viver e conviver na nossa cidade à noite é uma experiência bem diferente do que a vida de dia. Ao mesmo tempo em que novas dimensões da cidade e da ocupação do espaço urbano podem ser reveladas com a iluminação pública, o urbanismo noturno traz desafios também, tais como diminuir acidentes com veículos e pedestres (que disputam espaços comuns) e mitigar a ocorrência de eventos de violência contra os cidadãos e o patrimônio público e privado. Nessa perspectiva, a iluminação pública atende a uma série de necessidades do cidadão”.

URBANIZAÇÃO E CLIMA – Para que a cidade de São Paulo se antecipe aos possíveis impactos da mudança climática em suas edificações de grande porte – como os prédios com mais de 180 metros de altura ou estruturas de pontes estaiadas e pênseis – será necessária uma parceira estreita envolvendo projetistas estruturais, meteorologistas e pesquisadores focados em deslocamentos do ar, que têm túneis de vento atmosféricos como ferramenta de trabalho. Este é, em linhas gerais, o ponto de vista do pesquisador Gilder Nader, do Centro de Metrologia Mecânica, Elétrica e dos Fluidos do IPT.

No futuro, os ensaios de edificações de grande porte em túneis de vento atmosféricos poderão ser ainda mais demandados do que o são hoje. Proporcionarão mais segurança aos projetos e fornecerão informações para minimizar as vibrações nos últimos andares, além de oferecer mais conforto aos moradores, pois a ventilação adequada gera a dispersão das ilhas de calor na cidade e também de contaminantes. Mas para isso Nader afirma que: “Será necessário formar o comitê para atualizar a norma ABNT NBR 6123, que trata da ação dos ventos em edificações e está desatualizada. E de 1988, e o clima mudou muito, especialmente nos últimos 10 anos.”







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