Homenagem ao químico

Compartilhe:
Em comemoração aos 250 anos de nascimento de Vicente Coelho de Seabra, considerado o primeiro químico moderno nos países de língua portuguesa, o Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) dedicou a ele a 3ª edição dos Simpósios Temáticos da Pós-Graduação em Química na cidade de Belo Horizonte (MG) entre 11 e 14 de novembro, com a participação de profissionais de universidades e instituições de todo o País.

Vicente Coelho de Seabra Silva Telles, mais conhecido por Vicente Seabra, nasceu em 1764 na cidade de Congonhas do Campo (MG). Após a sua iniciação científica no Brasil, Seabra foi para a Universidade de Coimbra, em Portugal, aos 19 anos, e lá se graduou em Filosofia Natural e Medicina, tornando-se professor da instituição. Ele foi o autor do primeiro tratado de química moderna em língua portuguesa, os Elementos de Química, publicados em 1788-90, e publicou uma dissertação sobre o calor, que é o texto fundador de termodinâmica em português. Seabra também foi o autor da Nomenclatura Química Portuguesa, usada em boa parte até hoje.

O seminário foi organizado a fim de recuperar a memória do período, e o diretor-presidente do IPT, Fernando Landgraf, ministrou no dia 14 a palestra ‘O engenheiro metalurgista José Bonifácio’, contemporâneo de Seabra em Portugal. Landgraf comentou em sua apresentação que uma das profissões de Bonifácio antes de se tornar político foi a de metalurgista – ele não se considerava ‘engenheiro’. Em 1790 o governo português enviou três bolsistas, entre eles Bonifácio, para acompanhar cursos de química e mineralogia em Paris, um curso completo de Minas em Freiberg e visitas à minas da Saxônia, Boêmia, Rússia, Suécia, Noruega e Inglaterra, Escócia, País de Gales e Cornualha.

Bonifácio foi o primeiro a usar a palavra ‘tecnologia’ na língua portuguesa, em dois artigos associados à Academia de Ciências. Nos dois artigos ele inclui a tecnologia em listas de coisas importantes, mas sem explicitar o significado da palavra – se tecnologia é a junção da técnica com a ciência, Bonifácio teve a oportunidade de reunir as duas ao voltar para Portugal, na primeira década do século XIX. O governo português, sob a égide do ministro Rodrigo de Souza Coutinho, deu-lhe um grande número de atribuições, sendo três diretamente ligadas à metalurgia: dar aulas em Coimbra, extrair carvão mineral e reestabelecer a siderurgia.

Em 1801, por exemplo, ele recebeu a incumbência de recuperar a Ferraria da Foz do Alge, na qual haviam sido instalados dois altos fornos que haviam operado intermitentemente até 1759. Esse empreendimento foi o principal esforço português para fabricação de ferro na primeira década do século XIX. Os fornos foram reconstruídos, técnicos alemães foram contratados para sua operação e os fornos produziram peças de ferro fundido e ferro refinado em barras, mas mudanças políticas tiveram repercussões no interesse e na capacidade de investimento do governo no empreendimento siderúrgico, afetando a participação de Bonifácio.

VOLTA AO BRASIL – Na segunda década do século XIX, as únicas manifestações metalúrgicas de Bonifácio estão ligadas à publicação de textos escritos anteriormente. Somente após sua volta ao Brasil, em 1820, é que surge a oportunidade de vê-lo em ação, ainda que apenas analítica. Atendendo ao convite da corte portuguesa, o alemão Frederico Varnhagen havia assumido, em 1815, a construção de dois altos fornos geminados e duas forjas de refino na Real Fábrica de Ferro de Ipanema, já tinha conduzido duas campanhas de teste, uma delas de três meses ininterruptos, e convidou Bonifácio a visitar as instalações enquanto aguardava a chegada de operários estrangeiros experientes para as operações.

O texto intitulado ‘A Memória Econômica e Metalúrgica sobre a Fábrica de Ferro Ipanema’ foi escrito por Bonifácio em 1820 logo após a sua visita. Ele não viu os altos fornos em operação, mas deve ter conversado e analisado os dados mostrados por Varnhagen. O documento critica a represa e os fornos construídos pelo primeiro diretor sueco, os fornos construídos pelo novo diretor, o seu elevado consumo de carvão, a arquitetura dos altos-fornos, o fundente escolhido, o carvoejamento e o uso de cavaco de peroba, entre outros pontos.

“O saber do Bonifácio metalurgista transparece no texto no uso do conhecimento da época sobre o fluxo de massa no interior do alto-forno para criticar a geometria interna e a carga de matéria prima”, afirma Landgraf. “A leitura nos mostra uma análise dura, muito crítica, e em alguns trechos traz um viés de ‘dono da verdade’, mas o aspecto mais importante da memória escrita por ele ainda está aberto para investigação”.

INSCREVA-se em nossa newsletter

Receba nossas novidades em seu e-mail.

SUBSCRIBE to our newsletter

Receive our news in your email.

Pular para o conteúdo