O empresário Roberto Caiuby Vidigal dirigiu sua primeira reunião como novo presidente do Conselho de Orientação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) no dia 17 de janeiro. Na oportunidade, ele apresentou as diretrizes para o programa do ano no Instituto e já de início debateu com os conselheiros o tema candente da inovação, que tem sofrido com o processo de desindustrialização o revés do crescimento econômico no País.
Vidigal entrou, portanto, no pleno exercício de seu mandato, depois de ter sido eleito em 10 de outubro de 2012 para substituir o empresário Paulo Cunha, do Grupo Ultra, que dirigiu os trabalhos do Conselho nos últimos anos. Mas para a comunidade de profissionais do Instituto a troca de nomes não será marcada por alterações bruscas: “Eu diria que esse é um trabalho de continuidade – eu já era membro do Conselho anterior, então, não vejo grandes mudanças pela frente”, afirmou em entrevista ao Departamento de Imprensa do IPT no dia 18 de janeiro.
Na entrevista, Vidigal também fala dos desafios que tem pela frente, dos projetos estratégicos do IPT e destaca a preocupação com os recursos humanos do Instituto, prevendo a necessidade de um plano de aposentadoria complementar para estender os benefícios que vem sendo alcançados com o processo de desenvolvimento de planos de carreira. Ao final, o empresário também fala de literatura, sua paixão fora do expediente de trabalho.
Atualmente, Vidigal é presidente da Techint no Brasil, liderando um faturamento anual de R$ 3,5 bilhões, isso sem contar o faturamento da Usiminas, empresa da qual o grupo de origem italiana detém 25% das ações. A Techint atua com engenharia industrial, faz instalações de refinarias de petróleo, oleodutos, gasodutos, siderúrgicas, entre outros tipos de infraestrutura. Além disso, controla o maior fabricante de tubos do mundo, que é a Tenaris. A empresa controla ainda a siderúrgica Ternium, que atualmente é a maior do México.
Confira os principais trechos da entrevista:
O que podemos esperar de sua gestão como novo presidente do Conselho de Orientação do IPT?
Minha ambição é poder substituir o Dr. Paulo Cunha à altura, porque ele foi um grande presidente do Conselho, uma pessoa de altíssimo nível. Se eu conseguir o mesmo sucesso dele estarei feliz e certamente me esforçarei por isso. Eu diria que esse é um trabalho de continuidade – eu já era membro do Conselho anterior, então, não vejo grandes mudanças pela frente.
Qual sua visão da importância do IPT para as empresas?
O IPT tem importância não só para as empresas, como para a vida do cidadão. O Instituto certifica a qualidade de diversas coisas, e também analisa as condições de infraestrutura, por exemplo, se uma ponte está ou não com a estrutura abalada, certifica a vazão de gás em gasodutos, enfim, uma série de coisas úteis para a sociedade, entre as quais eu destaco o trabalho de mapeamento de áreas de risco decorrentes do excesso de chuvas. Esse trabalho é dos mais importantes para a salvação de vidas. Esse é um exemplo de uma utilidade tremenda para a população.
Mas no que se refere à inovação qual deve ser a contribuição do IPT?
Na inovação, os processos normalmente são liderados pelas empresas que, com base nas observações de mercado, podem antever os produtos que precisam ser desenvolvidos. Institutos como o IPT entram no processo para auxiliar em algumas etapas para viabilizar a ideia. Ontem foi a primeira reunião do Conselho que eu presidi e nós tivemos uma discussão sobre o tema, principalmente sobre quem deve liderar esse processo. E a conclusão do grupo de conselheiros e dos diretores do IPT é que quem tem que ser líder e ponto de partida é a empresa. Uma coisa é você inventar e outra é inovar. Você pode inventar um produto, mas para transformar isso em um processo de fabricação, com viabilidade de mercado, depende da atuação da empresa.
Então ontem foi a primeira reunião como presidente do Conselho…
O sentimento, como disse, é de continuidade. Nós estamos discutindo o programa do ano, e havia conceitos como esse da inovação que analisamos. Nosso conselho é rico, porque tem professores universitários, empresários, pesquisadores, então, é um leque de enfoques diferentes que enriquece o processo de condução do Instituto.
Mas nós podemos falar em metas da sua gestão como presidente do Conselho?
Acredito que precisamos medir a atuação do IPT. O sucesso de uma atividade depende também de termos instrumentos de avaliação, que sejam corretos, adequados, porque é difícil você fazer uma avaliação precisa de diferentes áreas de um instituto de pesquisas.
E quanto aos recursos humanos?
Nós temos algumas coisas que podemos aprimorar no processo de gestão de pessoas, de remuneração e de regras para o corpo dos funcionários do IPT, que nós temos que melhorar.
Como o plano de carreira, que já está em andamento?
Sim, mas nós ainda não temos um plano de previdência privada, por exemplo, e você tem pessoas de mais idade que não podem se aposentar. E é por falta de um plano de previdência que acontece isso, e a maioria das entidades de economia mista tem planos de previdência complementar. Então, essa é uma discussão que não chega ainda a ser uma meta, mas deve ser discutida com o Conselho de Administração e com o Governo do Estado. É uma coisa que tem que ser trabalhada e se possível implementada, mas não sei em que prazo faremos isso.
E quanto aos projetos que o IPT está tocando hoje? Qual é a expectativa do Conselho, quanto ao projeto de gaseificação de biomassa, por exemplo?
Nós vamos rediscutir todos, vamos reavaliar porque as coisas são dinâmicas e como nós precisamos de resultados aplicáveis na prática é importante não perder a sintonia com os fatos. Precisamos reavaliar em que ponto estamos, o nível de interesse, quem pode aplicar a tecnologia, entre outras variáveis.
E o Laboratório de Estruturas Leves, em São José dos Campos?
Esse também é um projeto importante e temos também o projeto para obtenção do silício grau solar, para aplicação em painéis de geração de energia. São todos projetos estratégicos e importantes, aplicáveis na prática. Teremos também muitas oportunidades futuras na área de microfabricação, mais a nanotecnologia, todos estão vendo essas áreas como oportunidades e que terão muitas aplicações no futuro.
O IPT hoje recebe 40% de seus recursos do governo do Estado e 60% provêm dos próprios trabalhos. Essa proporção é um pouco diferente do que é comum em outros institutos no mundo, que fica em torno de 50% para cada receita. É possível que haja alguma mudança no IPT seguindo essa tendência?
Nós achamos que 50-50 é a medida mais correta para a realidade de hoje. E para o Instituto ter sucesso, ele tem que ter pelo menos 50% do seu tempo e do seu custo aplicado em pesquisa que você não tem efetivamente como se ressarcir no curto prazo. Eu conversei como o governador Geraldo Alckmin sobre esse tema e ele anotou em seu caderno; eu não sei bem ainda o que quer dizer essa anotação, mas ele não discordou, pois é um fato que existe no resto do mundo, então, não dá pra discordar. Mas nós teremos de percorrer os trâmites legais e burocráticos para que o orçamento do Estado e o nosso orçamento sejam condizentes com esses números propostos. Nós não queremos reduzir a atividade do IPT para baixar custo e não queremos deixar de fazer serviços e não queremos também apenas serviços de rotina, abandonando o trabalho de pesquisa de longo prazo por conta de equilíbrio econômico e financeiro. Nós temos que chegar nesse denominador comum de 50-50, equilibrando o trabalho vendável do IPT e sua subvenção.
Na gestão de 2008 a 2012, o IPT viveu um ciclo de grandes investimentos e hoje o Instituto já produz resultados com esses investimentos. E de agora em diante, como será o plano de investimentos?
O novo plano de investimentos ainda não começou a ser discutido. A nossa preocupação maior é o plano de gestão e o orçamento que nós temos. Hoje nós temos uma disponibilidade excelente de equipamentos para prestar serviços a terceiros. E agora nós temos que aumentar a nossa receita com serviços a partir desses investimentos.
Em sua opinião, como os desafios tecnológicos nos próximos anos vão necessitar dos institutos de pesquisa?
Há um consenso de que o Brasil precisa investir mais em inovação, no desenvolvimento de novos produtos, novos processos, isso é um consenso geral, que também está no BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], financiador importantíssimo na área de pesquisa e tecnologia. O governo, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a presidente da República, todos falam em inovação, o empresário também fala, mas o fato concreto é que a inovação ainda está tímida. Para o empresário investir mais em inovação é preciso que haja um ambiente econômico que facilite. Hoje para a indústria sobreviver, por conta do custo Brasil, está difícil por causa de um processo claro de desindustrialização. Até em relação ao IPT nós podemos verificar que o trabalho prestado a indústrias no ano passado foi menor do que nos anos anteriores.
Perto de 10% a menos, não é isso?
Sim, é algo próximo disso. É uma situação que está refletindo uma restrição da indústria como um todo no sentido de fazer qualquer investimento. Todos dizem que é preciso investir, mas você investe quando enxerga a possibilidade de ter retorno e quando você tem regras estáveis do jogo. Aí você investe. Mas o empresário não é jogador, ele calcula o que pode obter de resultado e corre riscos calculados. Eu diria que na falta de inovação a responsabilidade maior é do empresário mesmo. E para exercer essa responsabilidade a contento é preciso ter um ambiente econômico adequado, tem que haver possibilidade de retorno do investimento e é preciso ter o apoio dos institutos de pesquisa e de financiamento do governo para os projetos.
Então desindustrialização e inovação não convivem…
É difícil interromper essa tendência de menos resultados, menos produção e menos investimento com novos produtos. É preciso começar a ter um ciclo que seja mais virtuoso. A única coisa que eu posso dizer é que a consciência do fato, a preocupação e o debate estão a toda.
Mas essa questão da desindustrialização tem um enfoque tecnológico ou é meramente política?
Não é questão política não, é erro mesmo. É erro de regras econômicas, erro de enfoque, de ficar administrando pequenos setores, em vez de ter políticas globais que estabeleçam maior competitividade para o País. Não é questão de política, mas de incompetência mesmo.
Da nossa incompetência enquanto sociedade ou enquanto governo?
Aí é o governo, porque é ele quem dita as regras. Nós temos uma série de trabalhos ofertados ao governo, pelas mais diferentes entidades empresariais com sugestões, mas nada acontece. Quando tem uma catástrofe em algum lugar, o governo coloca alguma medidinha (sic) para lidar com isso, e simplesmente não estabelece uma regra do jogo que seja boa para o desenvolvimento global.
Muito do que se fala em inovação hoje em dia passa pela questão energética, energias renováveis… Como o senhor acha que esse debate sobre energia vai evoluir nos próximos anos?
Nós temos um fato novo na área energética que é espantoso, vamos dizer assim. Estou me referindo à exploração do óleo e, sobretudo, do gás de folhelho, o shale gas. Os Estados Unidos têm uma reserva enorme desse gás, seguido pela China e pela Argentina. Esse gás pode ser produzido por um valor extremamente competitivo, quer para aplicação na indústria petroquímica, quer para geração de energia. O preço é competitivo e está havendo uma revolução. Mas já se começa a falar de alguns empecilhos ambientais nesse tipo de exploração. O tema ainda é novo para sabermos as consequências, mas é preciso saber o que tem que fazer para mitigar os problemas ambientais.
O senhor se refere à questão do fraturamento hidráulico?
Sim, mas isso ainda está incipiente. Eu acredito que exista uma margem de custo suficiente para você investir recursos para controlar o ambiente e fazer compensações ambientais para esse tipo novo de energia. Hoje a compensação ambiental para fazer uma usina hidrelétrica está beirando 25% do custo da usina, e isso é muita coisa. Mas, se ainda se faz é porque compensa. Então, eu acredito que com o shale gas nós também poderemos desenvolver defesas contra esse problema. Mas eu diria que ainda é uma alternativa de energia fóssil e não renovável, com uma reserva enorme a um custo muito competitivo. Aqui o nosso gás está na faixa de 13 dólares por barril equivalente, mas essa mesma unidade nos EUA está na faixa de 2,5 dólares ou três dólares, então, para colocar esse gás em uma termoelétrica, por exemplo, ou fazer redução direta em uma siderúrgica é uma grande mudança.
E as outras energias?
Não obstante, a energia solar também pode ainda baratear esse processo, que o próprio IPT está contribuindo para ter maior eficiência; pode ir barateando à medida que o volume vai crescendo e a experiência se acumula. Você pode ter o investimento na geração de energia eólica sendo barateado. E você vai ter locais em que isso é oportuno, e locais em que não é. Eu diria que o problema maior dessas energias é que elas estão dependendo do clima, da mesma maneira que uma hidrelétrica, só que você não tem como acumular essa energia. Portanto, se o clima está ruim, você não tem a energia. Mas quanto ao gás você não depende do clima. E você tem a energia normal da biomassa também, o bagaço da cana.
Hoje, poucos países no mundo têm a participação de energias renováveis que o Brasil tem em sua matriz energética…
Mas do jeito que estamos fazendo nós vamos matar esse diferencial. Nós somos competentes em destruir as coisas.
Mas de um lado temos uma matriz energética diversificada, com energias renováveis, e de outro lado as políticas energéticas ao sabor dos imperativos dos combustíveis fósseis. A política de álcool, por exemplo, é cheia de altos e baixos. Como superar os ditames da energia fóssil?
O governo não tem que intervir tanto no preço dos combustíveis. É preciso ser menos intervencionista. Como é substituto eventual da gasolina, o álcool acaba seguindo a política de preços do governo. Se o governo não interferisse da maneira que está fazendo, você teria uma demanda de álcool maior e o preço da gasolina seria maior no mercado. O certo é controlar a inflação não gastando mais do que você arrecada e adotando políticas fiscais eficientes em vez de segurar o preço dos combustíveis. Dessa maneira, nós vamos acabar destruindo tudo, a Petrobras e o grande mercado que nós temos com os produtores de açúcar e álcool. Enquanto tivermos um intervencionismo e uma política burra, nós vamos pagar as consequências. Você tem algum alívio no momento, mas com consequências enormes para o futuro. Eu acredito que o normal é que prevaleçam as leis de mercado e não haja um intervencionismo tão grande na economia – esse é um pesadelo que nós estamos vivendo agora e espero que passe.
Não haveria uma explosão inflacionária com os preços dos combustíveis flutuando?
A explosão haveria não por conta do preço do combustível, mas pelo fato de o governo gastar mais do que arrecada. Se é preciso imprimir dinheiro há inflação. Quando o aumento de salário é acima da produtividade, você também tem inflação porque o salário perde correspondência na produção. Controle de preços é uma fantasia sobre a qual nós já devíamos ter aprendido. Historicamente o controle de preços não nos levou a lugar nenhum. Agora, com disciplina fiscal, um plano arrumado e lógico para a economia, que foi o plano que o Fernando Henrique fez, aí acaba a explosão inflacionária.
Quais são as oportunidades latentes para os próximos anos, quais são as áreas que o IPT tem que entrar ou se manter?
Eu acho que o IPT tem que ampliar o diálogo com os seus principais clientes para procurar direcionar o seu crescimento de acordo com a necessidade deles. O IPT não vai inventar um caminho novo.
Qual a sua mensagem para a comunidade de pesquisadores?
A mensagem é que o Conselho está sempre se colocando no lugar dos pesquisadores do IPT para que se sintam bem e tenham orgulho do que fazem e uma remuneração adequada pelo trabalho que exercem, com reconhecimento da sociedade por aquilo que está sendo feito. O Conselho é um parceiro e valoriza demais o trabalho dos pesquisadores. A mensagem é que há sempre a preocupação com o corpo de pesquisadores, essa é a preocupação principal. É aí que acontece tudo. A valorização dos pesquisadores é uma preocupação permanente do Conselho. Os pesquisadores podem ter certeza de que este Conselho está olhando pelo todo, procurando melhorar o Instituto e, sobretudo, valorizando seu trabalho.
E a sua paixão por literatura? O senhor tem o hábito diário de leitura?
Sim, todo santo dia. Não assisto TV há 40 anos, não assisto nem jornal, nada, e acabo ficando com sono, deito cedo e aí acordo às duas da manhã para ler; leio até as quatro ou cinco da manhã, mas estou muito decepcionado, não estou conseguindo ler nada novo que seja bom. É tudo uma mediocridade. Acabei de ler, forçando, aquele turco que ganhou o prêmio Nobel [referência a Orhan Pamuk, vencedor do prêmio em 2006] e achei-o um chato de galocha. Você pega os prêmios Nobel de literatura, uma mediocridade se comparados com os grandes escritores que tivemos. Eu tenho muito mais prazer em reler, e hoje em dia cada vez eu releio mais, do que ler livros novos. E eu fico bravo, acho que vou virar um fóssil [risos].
Vidigal entrou, portanto, no pleno exercício de seu mandato, depois de ter sido eleito em 10 de outubro de 2012 para substituir o empresário Paulo Cunha, do Grupo Ultra, que dirigiu os trabalhos do Conselho nos últimos anos. Mas para a comunidade de profissionais do Instituto a troca de nomes não será marcada por alterações bruscas: “Eu diria que esse é um trabalho de continuidade – eu já era membro do Conselho anterior, então, não vejo grandes mudanças pela frente”, afirmou em entrevista ao Departamento de Imprensa do IPT no dia 18 de janeiro.
Na entrevista, Vidigal também fala dos desafios que tem pela frente, dos projetos estratégicos do IPT e destaca a preocupação com os recursos humanos do Instituto, prevendo a necessidade de um plano de aposentadoria complementar para estender os benefícios que vem sendo alcançados com o processo de desenvolvimento de planos de carreira. Ao final, o empresário também fala de literatura, sua paixão fora do expediente de trabalho.
Atualmente, Vidigal é presidente da Techint no Brasil, liderando um faturamento anual de R$ 3,5 bilhões, isso sem contar o faturamento da Usiminas, empresa da qual o grupo de origem italiana detém 25% das ações. A Techint atua com engenharia industrial, faz instalações de refinarias de petróleo, oleodutos, gasodutos, siderúrgicas, entre outros tipos de infraestrutura. Além disso, controla o maior fabricante de tubos do mundo, que é a Tenaris. A empresa controla ainda a siderúrgica Ternium, que atualmente é a maior do México.
Confira os principais trechos da entrevista:
O que podemos esperar de sua gestão como novo presidente do Conselho de Orientação do IPT?
Minha ambição é poder substituir o Dr. Paulo Cunha à altura, porque ele foi um grande presidente do Conselho, uma pessoa de altíssimo nível. Se eu conseguir o mesmo sucesso dele estarei feliz e certamente me esforçarei por isso. Eu diria que esse é um trabalho de continuidade – eu já era membro do Conselho anterior, então, não vejo grandes mudanças pela frente.
Qual sua visão da importância do IPT para as empresas?
O IPT tem importância não só para as empresas, como para a vida do cidadão. O Instituto certifica a qualidade de diversas coisas, e também analisa as condições de infraestrutura, por exemplo, se uma ponte está ou não com a estrutura abalada, certifica a vazão de gás em gasodutos, enfim, uma série de coisas úteis para a sociedade, entre as quais eu destaco o trabalho de mapeamento de áreas de risco decorrentes do excesso de chuvas. Esse trabalho é dos mais importantes para a salvação de vidas. Esse é um exemplo de uma utilidade tremenda para a população.
Mas no que se refere à inovação qual deve ser a contribuição do IPT?
Na inovação, os processos normalmente são liderados pelas empresas que, com base nas observações de mercado, podem antever os produtos que precisam ser desenvolvidos. Institutos como o IPT entram no processo para auxiliar em algumas etapas para viabilizar a ideia. Ontem foi a primeira reunião do Conselho que eu presidi e nós tivemos uma discussão sobre o tema, principalmente sobre quem deve liderar esse processo. E a conclusão do grupo de conselheiros e dos diretores do IPT é que quem tem que ser líder e ponto de partida é a empresa. Uma coisa é você inventar e outra é inovar. Você pode inventar um produto, mas para transformar isso em um processo de fabricação, com viabilidade de mercado, depende da atuação da empresa.
Então ontem foi a primeira reunião como presidente do Conselho…
O sentimento, como disse, é de continuidade. Nós estamos discutindo o programa do ano, e havia conceitos como esse da inovação que analisamos. Nosso conselho é rico, porque tem professores universitários, empresários, pesquisadores, então, é um leque de enfoques diferentes que enriquece o processo de condução do Instituto.
Mas nós podemos falar em metas da sua gestão como presidente do Conselho?
Acredito que precisamos medir a atuação do IPT. O sucesso de uma atividade depende também de termos instrumentos de avaliação, que sejam corretos, adequados, porque é difícil você fazer uma avaliação precisa de diferentes áreas de um instituto de pesquisas.
E quanto aos recursos humanos?
Nós temos algumas coisas que podemos aprimorar no processo de gestão de pessoas, de remuneração e de regras para o corpo dos funcionários do IPT, que nós temos que melhorar.
Como o plano de carreira, que já está em andamento?
Sim, mas nós ainda não temos um plano de previdência privada, por exemplo, e você tem pessoas de mais idade que não podem se aposentar. E é por falta de um plano de previdência que acontece isso, e a maioria das entidades de economia mista tem planos de previdência complementar. Então, essa é uma discussão que não chega ainda a ser uma meta, mas deve ser discutida com o Conselho de Administração e com o Governo do Estado. É uma coisa que tem que ser trabalhada e se possível implementada, mas não sei em que prazo faremos isso.
E quanto aos projetos que o IPT está tocando hoje? Qual é a expectativa do Conselho, quanto ao projeto de gaseificação de biomassa, por exemplo?
Nós vamos rediscutir todos, vamos reavaliar porque as coisas são dinâmicas e como nós precisamos de resultados aplicáveis na prática é importante não perder a sintonia com os fatos. Precisamos reavaliar em que ponto estamos, o nível de interesse, quem pode aplicar a tecnologia, entre outras variáveis.
E o Laboratório de Estruturas Leves, em São José dos Campos?
Esse também é um projeto importante e temos também o projeto para obtenção do silício grau solar, para aplicação em painéis de geração de energia. São todos projetos estratégicos e importantes, aplicáveis na prática. Teremos também muitas oportunidades futuras na área de microfabricação, mais a nanotecnologia, todos estão vendo essas áreas como oportunidades e que terão muitas aplicações no futuro.
O IPT hoje recebe 40% de seus recursos do governo do Estado e 60% provêm dos próprios trabalhos. Essa proporção é um pouco diferente do que é comum em outros institutos no mundo, que fica em torno de 50% para cada receita. É possível que haja alguma mudança no IPT seguindo essa tendência?
Nós achamos que 50-50 é a medida mais correta para a realidade de hoje. E para o Instituto ter sucesso, ele tem que ter pelo menos 50% do seu tempo e do seu custo aplicado em pesquisa que você não tem efetivamente como se ressarcir no curto prazo. Eu conversei como o governador Geraldo Alckmin sobre esse tema e ele anotou em seu caderno; eu não sei bem ainda o que quer dizer essa anotação, mas ele não discordou, pois é um fato que existe no resto do mundo, então, não dá pra discordar. Mas nós teremos de percorrer os trâmites legais e burocráticos para que o orçamento do Estado e o nosso orçamento sejam condizentes com esses números propostos. Nós não queremos reduzir a atividade do IPT para baixar custo e não queremos deixar de fazer serviços e não queremos também apenas serviços de rotina, abandonando o trabalho de pesquisa de longo prazo por conta de equilíbrio econômico e financeiro. Nós temos que chegar nesse denominador comum de 50-50, equilibrando o trabalho vendável do IPT e sua subvenção.
Na gestão de 2008 a 2012, o IPT viveu um ciclo de grandes investimentos e hoje o Instituto já produz resultados com esses investimentos. E de agora em diante, como será o plano de investimentos?
O novo plano de investimentos ainda não começou a ser discutido. A nossa preocupação maior é o plano de gestão e o orçamento que nós temos. Hoje nós temos uma disponibilidade excelente de equipamentos para prestar serviços a terceiros. E agora nós temos que aumentar a nossa receita com serviços a partir desses investimentos.
Em sua opinião, como os desafios tecnológicos nos próximos anos vão necessitar dos institutos de pesquisa?
Há um consenso de que o Brasil precisa investir mais em inovação, no desenvolvimento de novos produtos, novos processos, isso é um consenso geral, que também está no BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], financiador importantíssimo na área de pesquisa e tecnologia. O governo, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a presidente da República, todos falam em inovação, o empresário também fala, mas o fato concreto é que a inovação ainda está tímida. Para o empresário investir mais em inovação é preciso que haja um ambiente econômico que facilite. Hoje para a indústria sobreviver, por conta do custo Brasil, está difícil por causa de um processo claro de desindustrialização. Até em relação ao IPT nós podemos verificar que o trabalho prestado a indústrias no ano passado foi menor do que nos anos anteriores.
Perto de 10% a menos, não é isso?
Sim, é algo próximo disso. É uma situação que está refletindo uma restrição da indústria como um todo no sentido de fazer qualquer investimento. Todos dizem que é preciso investir, mas você investe quando enxerga a possibilidade de ter retorno e quando você tem regras estáveis do jogo. Aí você investe. Mas o empresário não é jogador, ele calcula o que pode obter de resultado e corre riscos calculados. Eu diria que na falta de inovação a responsabilidade maior é do empresário mesmo. E para exercer essa responsabilidade a contento é preciso ter um ambiente econômico adequado, tem que haver possibilidade de retorno do investimento e é preciso ter o apoio dos institutos de pesquisa e de financiamento do governo para os projetos.
Então desindustrialização e inovação não convivem…
É difícil interromper essa tendência de menos resultados, menos produção e menos investimento com novos produtos. É preciso começar a ter um ciclo que seja mais virtuoso. A única coisa que eu posso dizer é que a consciência do fato, a preocupação e o debate estão a toda.
Mas essa questão da desindustrialização tem um enfoque tecnológico ou é meramente política?
Não é questão política não, é erro mesmo. É erro de regras econômicas, erro de enfoque, de ficar administrando pequenos setores, em vez de ter políticas globais que estabeleçam maior competitividade para o País. Não é questão de política, mas de incompetência mesmo.
Da nossa incompetência enquanto sociedade ou enquanto governo?
Aí é o governo, porque é ele quem dita as regras. Nós temos uma série de trabalhos ofertados ao governo, pelas mais diferentes entidades empresariais com sugestões, mas nada acontece. Quando tem uma catástrofe em algum lugar, o governo coloca alguma medidinha (sic) para lidar com isso, e simplesmente não estabelece uma regra do jogo que seja boa para o desenvolvimento global.
Muito do que se fala em inovação hoje em dia passa pela questão energética, energias renováveis… Como o senhor acha que esse debate sobre energia vai evoluir nos próximos anos?
Nós temos um fato novo na área energética que é espantoso, vamos dizer assim. Estou me referindo à exploração do óleo e, sobretudo, do gás de folhelho, o shale gas. Os Estados Unidos têm uma reserva enorme desse gás, seguido pela China e pela Argentina. Esse gás pode ser produzido por um valor extremamente competitivo, quer para aplicação na indústria petroquímica, quer para geração de energia. O preço é competitivo e está havendo uma revolução. Mas já se começa a falar de alguns empecilhos ambientais nesse tipo de exploração. O tema ainda é novo para sabermos as consequências, mas é preciso saber o que tem que fazer para mitigar os problemas ambientais.
O senhor se refere à questão do fraturamento hidráulico?
Sim, mas isso ainda está incipiente. Eu acredito que exista uma margem de custo suficiente para você investir recursos para controlar o ambiente e fazer compensações ambientais para esse tipo novo de energia. Hoje a compensação ambiental para fazer uma usina hidrelétrica está beirando 25% do custo da usina, e isso é muita coisa. Mas, se ainda se faz é porque compensa. Então, eu acredito que com o shale gas nós também poderemos desenvolver defesas contra esse problema. Mas eu diria que ainda é uma alternativa de energia fóssil e não renovável, com uma reserva enorme a um custo muito competitivo. Aqui o nosso gás está na faixa de 13 dólares por barril equivalente, mas essa mesma unidade nos EUA está na faixa de 2,5 dólares ou três dólares, então, para colocar esse gás em uma termoelétrica, por exemplo, ou fazer redução direta em uma siderúrgica é uma grande mudança.
E as outras energias?
Não obstante, a energia solar também pode ainda baratear esse processo, que o próprio IPT está contribuindo para ter maior eficiência; pode ir barateando à medida que o volume vai crescendo e a experiência se acumula. Você pode ter o investimento na geração de energia eólica sendo barateado. E você vai ter locais em que isso é oportuno, e locais em que não é. Eu diria que o problema maior dessas energias é que elas estão dependendo do clima, da mesma maneira que uma hidrelétrica, só que você não tem como acumular essa energia. Portanto, se o clima está ruim, você não tem a energia. Mas quanto ao gás você não depende do clima. E você tem a energia normal da biomassa também, o bagaço da cana.
Hoje, poucos países no mundo têm a participação de energias renováveis que o Brasil tem em sua matriz energética…
Mas do jeito que estamos fazendo nós vamos matar esse diferencial. Nós somos competentes em destruir as coisas.
Mas de um lado temos uma matriz energética diversificada, com energias renováveis, e de outro lado as políticas energéticas ao sabor dos imperativos dos combustíveis fósseis. A política de álcool, por exemplo, é cheia de altos e baixos. Como superar os ditames da energia fóssil?
O governo não tem que intervir tanto no preço dos combustíveis. É preciso ser menos intervencionista. Como é substituto eventual da gasolina, o álcool acaba seguindo a política de preços do governo. Se o governo não interferisse da maneira que está fazendo, você teria uma demanda de álcool maior e o preço da gasolina seria maior no mercado. O certo é controlar a inflação não gastando mais do que você arrecada e adotando políticas fiscais eficientes em vez de segurar o preço dos combustíveis. Dessa maneira, nós vamos acabar destruindo tudo, a Petrobras e o grande mercado que nós temos com os produtores de açúcar e álcool. Enquanto tivermos um intervencionismo e uma política burra, nós vamos pagar as consequências. Você tem algum alívio no momento, mas com consequências enormes para o futuro. Eu acredito que o normal é que prevaleçam as leis de mercado e não haja um intervencionismo tão grande na economia – esse é um pesadelo que nós estamos vivendo agora e espero que passe.
Não haveria uma explosão inflacionária com os preços dos combustíveis flutuando?
A explosão haveria não por conta do preço do combustível, mas pelo fato de o governo gastar mais do que arrecada. Se é preciso imprimir dinheiro há inflação. Quando o aumento de salário é acima da produtividade, você também tem inflação porque o salário perde correspondência na produção. Controle de preços é uma fantasia sobre a qual nós já devíamos ter aprendido. Historicamente o controle de preços não nos levou a lugar nenhum. Agora, com disciplina fiscal, um plano arrumado e lógico para a economia, que foi o plano que o Fernando Henrique fez, aí acaba a explosão inflacionária.
Quais são as oportunidades latentes para os próximos anos, quais são as áreas que o IPT tem que entrar ou se manter?
Eu acho que o IPT tem que ampliar o diálogo com os seus principais clientes para procurar direcionar o seu crescimento de acordo com a necessidade deles. O IPT não vai inventar um caminho novo.
Qual a sua mensagem para a comunidade de pesquisadores?
A mensagem é que o Conselho está sempre se colocando no lugar dos pesquisadores do IPT para que se sintam bem e tenham orgulho do que fazem e uma remuneração adequada pelo trabalho que exercem, com reconhecimento da sociedade por aquilo que está sendo feito. O Conselho é um parceiro e valoriza demais o trabalho dos pesquisadores. A mensagem é que há sempre a preocupação com o corpo de pesquisadores, essa é a preocupação principal. É aí que acontece tudo. A valorização dos pesquisadores é uma preocupação permanente do Conselho. Os pesquisadores podem ter certeza de que este Conselho está olhando pelo todo, procurando melhorar o Instituto e, sobretudo, valorizando seu trabalho.
E a sua paixão por literatura? O senhor tem o hábito diário de leitura?
Sim, todo santo dia. Não assisto TV há 40 anos, não assisto nem jornal, nada, e acabo ficando com sono, deito cedo e aí acordo às duas da manhã para ler; leio até as quatro ou cinco da manhã, mas estou muito decepcionado, não estou conseguindo ler nada novo que seja bom. É tudo uma mediocridade. Acabei de ler, forçando, aquele turco que ganhou o prêmio Nobel [referência a Orhan Pamuk, vencedor do prêmio em 2006] e achei-o um chato de galocha. Você pega os prêmios Nobel de literatura, uma mediocridade se comparados com os grandes escritores que tivemos. Eu tenho muito mais prazer em reler, e hoje em dia cada vez eu releio mais, do que ler livros novos. E eu fico bravo, acho que vou virar um fóssil [risos].