Etanol sustentável

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Equipes do Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas do IPT, o Cetae, têm experiência e tradição no campo de avaliações de impactos ambientais em obras de engenharia. Seus pesquisadores estão familiarizados com diversas ferramentas de análise para esta finalidade, o que não chega a ser novidade. O que há de novo na área é a busca da pesquisadora Amarílis Gallardo, do Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental do Cetae, pelo uso adequado de uma ferramenta que permita avaliar os impactos ambientais na tomada de decisões estratégicas, como no caso da expansão da cultura canavieira para a produção de etanol. “Trata-se do instrumento de ‘Avaliação Ambiental Estratégica’(AAE), cujo marco regulatório mais importante é sua adoção pela Comunidade Europeia em 2001 para avaliar as consequências ambientais de planos e programas. O Brasil também conta com algumas iniciativas nesta direção, estimuladas principalmente por agências internacionais de financiamento como o Banco Mundial e o BID ou, ainda, automotivadas.”

Para adquirir conhecimento adequado em relação ao AAE, Amarilis embarcou para a Inglaterra em 2009, dentro do Programa de Desenvolvimento e Capacitação no Exterior do IPT. Realizou um pós-doutorado na University of East Anglia (UEA) em Norwich, Inglaterra. A análise do ambiente de modo holístico e fortemente embasada por estudos técnicos é o carro-chefe da School of Environment Sciences da UEA e, neste contexto, destaca-se o volume de pesquisa e desenvolvimento relacionado à ‘Avaliação Ambiental Estratégica’.

Como estudo de caso para se aprofundar em AAE, a pesquisadora selecionou o planejamento da expansão da cana-de-açúcar para a produção do etanol. Essa motivação partiu do interesse em reconhecer de modo integrado aspectos do setor de energia e do meio físico, áreas de atuação do Cetae, em associação com os demais componentes da sustentabilidade ambiental. A decisão foi em sinergia aos interesses técnicos do supervisor do pós-doutorado, Alan Bond, que desenvolve pesquisas para análise ambiental da expansão da cultura agrícola (non-food crops short rotation coppice willow – SRC e capim-elefante) para produção de bioenergia na Inglaterra usando a AAE.
Avaliação Ambiental Energética pode integrar estudos dos aspectos ambientais, sociais e econômicos da cadeia produtiva de <em>commodities</em> como a cana-de-açúcar” class=”wp-image-40405″ width=”323″/><figcaption class=Avaliação Ambiental Energética pode integrar estudos dos aspectos ambientais, sociais e econômicos da cadeia produtiva de commodities como a cana-de-açúcar


O foco inglês se justifica em função de compromissos assumidos com o Protocolo de Kyoto e outras diretivas europeias, que estabelecem um patamar mínimo de participação da bioenergia na matriz energética daquele País.

No caso brasileiro, a ideia é utilizar essa ferramenta para avaliar os impactos indiretos e as grandes preocupações ambientais mundiais acerca das mudanças no uso do solo na produção de bioenergia, destacando segurança alimentar e redução de emissões de gases de efeito estufa, entre outros. A tomada de decisão sobre cada novo empreendimento no País, como é o caso de produção agrícola e industrial da cana para geração de etanol, fundamenta-se no processo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), vinculado ao licenciamento ambiental. Esse instrumento, segundo a pesquisadora, revela-se insuficiente para analisar os impactos indiretos, globais e sinérgicos relacionados a essa cadeia produtiva.

Embora o estado de São Paulo tenha uma série de dispositivos voluntários ou legais, como o Programa Etanol Verde e o Zoneamento Agroambiental, preconiza-se a adoção da AAE para esse setor. O instrumento, que avalia os aspectos ambientais, sociais e econômicos de modo integrado, permite demonstrar a sustentabilidade do setor e rebater, de maneira consistente, questionamentos frequentes de países potencialmente exportadores e pesquisadores internacionais sobre as consequências da expansão de culturas agrícolas para a produção de energia, principalmente os combustíveis líquidos de primeira geração, que é o caso do etanol. Essa expertise pode ainda colaborar em cooperação técnica internacional para a aplicação em outros países africanos, situados nas mesmas latitudes brasileiras, que queiram expandir a fronteira da produção energética utilizando a cana.

Segundo Amarílis, existem no Brasil outros grupos de estudo com foco na AAE. Há pesquisadores estudando suas aplicações na USP, especialmente em São Carlos, e na Coppe/UFRJ. O que todos buscam é uma concepção mais ampla para a tomada de decisões que contemplem a sustentabilidade não somente na produção de bioenergia, mas em vários setores da economia e no planejamento do uso do solo.

“Já produzi dois artigos publicados em periódicos internacionais a partir desta pesquisa. O primeiro mostra a insuficiência da AIA e reforça o uso da AAE com essa finalidade”, explica a pesquisadora. “O segundo, em referência cruzada da produção de bioenergia da Inglaterra e do Brasil, analisa em profundidade os sistemas de avaliação de impacto desse setor nos dois países, destacando recomendações à sua melhoria, considerando os níveis diferenciados de desenvolvimento dessas indústrias e de avaliações ambientais em cada país. Reuni todos os resultados dos trabalhos nesta área em meu pós-doutorado e a pesquisa continua com o IPT apoiando o desenvolvimento de projeto interno sobre o tema.”

Amarilis participou ainda do “31º Encontro Anual da International Association for Impact Assessment”, em Puebla, México, no período de 28 de maio a quatro de junho de 2011, apresentando um artigo técnico referente a essa pesquisa.



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