Diversificação em madeiras

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Mandioqueira, piquiarana e uxi são três exemplos de espécies abundantes de madeira, com inventário garantido, origem certificada e indicadas para uso na construção civil, que podem contribuir para aumentar a diversidade dos padrões existentes e reduzir a pressão pela busca de novas áreas de exploração: a opinião é do engenheiro florestal e pesquisador do IPT, Marcio Nahuz, que participou hoje do segundo evento de divulgação do Programa Madeira é Legal com a palestra “Indicação de uso de espécies de madeira menos conhecidas no mercado”.

O programa lançado em 2009 tem como objetivo incentivar o uso da madeira de origem legal e certificada na construção civil no Estado de São Paulo. O evento realizado nesta manhã no Auditório da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, apresentou um panorama das ações desenvolvidas no âmbito do programa e contou com a participação de representantes do grupo gestor e dos signatários do programa, atualmente 23 entidades entre empresas do setor madeireiro, da construção civil, da sociedade civil e do governo.
Marcio Nahuz: importância do aumento de padrões para uma opção mais ampla de seleção pelo mercado
Marcio Nahuz: importância do aumento de padrões para uma opção mais ampla de seleção pelo mercado

Entre os benefícios resultantes da introdução de madeiras menos conhecidas no mercado, o pesquisador do IPT relacionou em sua apresentação o aumento da oferta para combater a escassez de espécies tradicionais e usadas há décadas – e, por serem comprovadamente aceitas, cada vez menos disponíveis – e o incremento na variedade dos padrões. “Madeiras tradicionais como o pinho do Paraná e a peroba rosa estão diminuindo nos volumes, quantidades e dimensões requeridos pelo mercado”, afirmou Nahuz, que trabalha na Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais do Instituto. “Além disso, a moda na escolha do tipo de madeira varia de acordo com época, com um crescimento na demanda por espécies mais escuras, claras ou vermelhas, leves ou pesadas. É importante aumentar o número de padrões disponíveis para que o mercado tenha uma opção mais ampla de seleção”.

A terceira vantagem apontada pelo pesquisador é a diminuição da pressão por novas áreas de exploração, o que seria possível com a maximização do aproveitamento das atuais reservas. O processo de degradação, lembrou o pesquisador, começa com a acessibilidade: comunidades penetram em uma região e iniciam plantios de subsistência – isso implica começo de desmatamento. Em seguida, atividades agrícolas, de pecuária ou de mineração são estabelecidas, o que acelera o processo de deterioração da área.

A otimização do uso da madeira disponível nas áreas em exploração poderá colaborar para diminuir a pressão por novas fontes de matérias-primas, com a retirada de um número maior de espécies em um único local e aproveitamento da infraestrutura disponível. A introdução de espécies menos conhecidas pode trazer também como resultados o aumento da sustentabilidade da operação florestal, com um maior e melhor aproveitamento de uma mesma área, e a redução da pressão pelo aumento no preço das matérias-primas, que é provocada pela pequena oferta de espécies.

OFERTA E DEMANDA – Para a inserção de madeiras menos conhecidas no mercado, Nahuz lembrou que é necessária uma série de ações. O conhecimento das características de cada espécie para compatibilização com os diferentes usos é indispensável, o que pressupõe a identificação correta e o levantamento das propriedades físico-mecânicas, durabilidade e desempenho – a madeira usada na construção de um móvel tem requisitos técnicos diferentes, por exemplo, de uma espécie destinada a uma estrutura. Esse levantamento de dados deve ser feito por instituições idôneas, como institutos de pesquisas e universidades, enquanto a certificação fica a cargo das empresas atuantes no mercado e a produção da madeira em áreas florestais legalizadas, a fim de garantir a origem, em uma interação origem-suprimento-adequação.

Para estas madeiras entrarem no mercado, é preciso ainda que elas tenham um suprimento assegurado. “Não é possível introduzir no mercado uma espécie com poucos metros cúbicos disponíveis para o aproveitamento”, afirmou o pesquisador. “Estes números estão presentes nos inventários qualitativos e quantitativos das empresas, que indicam se o fornecimento das madeiras selecionadas será constante ou não”.

A concentração do mercado em uma oferta reduzida de espécies já havia sido comprovada em um projeto de pesquisa aplicada realizado pelo IPT na década de 1980, em parceria com o Laboratório de Produtos Florestais do Ibama, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Foram visitados naquele momento produtores de madeira da Amazônia para um levantamento de todas as espécies exploradas e processadas. Em seguida, os pesquisadores voltaram aos centros consumidores e visitaram as capitais que traziam madeira da região. Foi feito um estudo cruzado dos fluxos, com informações sobre o caminho que as espécies faziam desde a produção (inclusive a troca de nomes para aceitação no sul do país) e os usos.

Os resultados apontaram a existência de 250 espécies retiradas das florestas e processadas, mas somente 14 delas com uso em grande escala para a indústria de construção, moveleira e de embalagens, além de exportação. “As outras 236 eram empregadas para fins pouco nobres, como construções de baixo custo ou ‘misturadas’ a outras madeiras para uso no atacado, sem valorizar a espécie e suas características. Em resumo, um uso inadequado”, afirmou Nahuz. “Pela diferença dos dois números, é possível comprovar o potencial de inserção das espécies menos conhecidas no mercado”.

Foto: Luludi (Agência Luz)

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