Soluções para o transporte

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O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) sediou ontem, 29 de maio, a primeira edição do seminário para divulgação dos resultados consolidados do projeto Viajeo, concebido para a troca de informações sobre transportes nas cidades de São Paulo, Pequim, Xangai e Atenas. A iniciativa internacional de €5,9 milhões da Comunidade Europeia está em andamento desde setembro de 2009 para o desenvolvimento de uma plataforma computacional aberta, que permita o compartilhamento de informações sobre transporte terrestre em megacidades e sua validação pela implantação de sites demo. O projeto integra a área de transporte do “Seventh Framework Programme – FP7” e firmou parcerias no Brasil com o IPT, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) e a Universidade de São Paulo (USP).

O desafio de lidar com informações para planejamento foi lembrado na abertura do evento pelo diretor de inovação do IPT, Fernando Landgraf. A troca de experiências proporcionada pelo projeto é acompanhada com interesse dado o fato de o planejamento ser um dos maiores desafios enfrentados pelo Brasil em sua opinião: “Em uma análise micro, vejo as dificuldades nossas no Instituto em planejar por conta da multiplicidade e confiabilidade das informações. Em uma comparação com os cenários maiores tratados pelo projeto, posso imaginar os problemas em reunir dados de diferentes bases e transformá-los em uma ferramenta”, afirma ele. “A Europa tem uma tradição grande em planejamento e estamos atentos às suas contribuições, mas sabemos também o que uma metrópole com 16 milhões de habitantes pode receber e oferecer”.

Primeira reunião para divulgação dos resultados finais do Viajeo aconteceu no IPT - na mesa de abertura, da esq. para dir, Vincent Blervaque, Fernando Landgraf e Dib Karam Jr (coordenador de diálogo do Instituto de Estudos Brasil-Europa - IBE)
Primeira reunião para divulgação dos resultados finais do Viajeo aconteceu no IPT – na mesa de abertura, da esq. para dir, Vincent Blervaque, Fernando Landgraf e Dib Karam Jr (coordenador de diálogo do Instituto de Estudos Brasil-Europa – IBE)
Trabalhar com a grande quantidade de dados disponíveis sobre transporte também norteou o discurso de Vincent Blervaque, diretor de desenvolvimento da Ertico ITS Europe, entidade sem fins lucrativos especializada em sistemas e serviços inteligentes de transporte. Para solucionar a questão de reunir informações de várias fontes, muitas delas sem qualidade, e suprir a ausência de um formato comum para integração, o executivo mostrou como a plataforma Viajeo poderá incluir em uma única ferramenta a geração e a disseminação de dados referentes a planejamento, operação e gerenciamento dos transportes. “Esperamos que os resultados finais possam oferecer benefícios como viagens mais eficientes, diminuição de impactos ambientais com um transporte mais verde e a cooperação entre diferentes autoridades do setor de transportes para trajetos mais conectados”, afirmou ele.

EM TEMPO REAL – Segundo Gino Franco, chefe da unidade de inovação da Mizar, empresa de automação que lidera a execução do projeto em São Paulo, o propósito do Viajeo é criar e demonstrar que é possível obter dados que já estão no campo e reuni-los em uma plataforma comum para ser a base da gestão do trânsito e transporte. O resultado será um banco de dados comum para a plataforma de serviços, incluindo o planejamento e organização do tráfego. “O desafio é a melhora de eficiência e segurança no trânsito”, afirma.

A gestão com informações em tempo real em um primeiro momento poderá resultar em um ganho de 3% no tempo de viagem, mas esse número poderá chegar a 20% quando todo o sistema de informação estiver consolidado. Na questão da segurança, a expectativa é de uma redução de 6% no número de acidentes, percentual que a princípio pode parecer baixo, mas que é expressivo frente aos totais de frota da cidade, que, por exemplo, tem cerca de seis milhões de automóveis particulares.

Já quanto ao aspecto dos congestionamentos, sua redução deverá ser de 6% com a aplicação de informações em tempo real na gestão e de até 50% com a total integração do sistema. As emissões de dióxido de carbono (CO2), por sua vez, devem ser reduzidas em 3% na etapa inicial, chegando depois a 10%. Franco explicou que o usuário poderá ter acesso às condições do trânsito antes de sair de casa, escolhendo o melhor caminho em função dessas condições. O executivo acredita também que haverá uma mudança de comportamento dos usuários, já que o sistema poderá motivar a combinação de diferentes modalidades de transporte para a realização de cada viagem, em função das opções que forem viáveis a cada momento.

O pesquisador do IPT na área de tecnologia de informação Alessandro Santiago dos Santos disse que é importante a aplicação estratégica da tecnologia de sensores para saber ou “sentir” o que se passa na cidade em tempo real. O pesquisador afirma que esse processo permitirá uma mudança no enfoque do trabalho de gestão do trânsito e transporte, proporcionando ações mais pró-ativas e menos reativas ou corretivas. “O gestor público poderá deixar a cidade mais confortável”, destacou. Os sensores contam com uma ampla gama de aplicações, podendo até mesmo detectar a ocorrência de acidentes e acionar os serviços de emergência com mais agilidade.

Entre janeiro e abril deste ano, cumprindo etapas de desenvolvimento do Viajeo, Santiago e sua equipe do Centro de Tecnologia da Informação, Automação e Mobilidade pesquisaram as características do movimento de entrada e saída de veículos na cidade, considerando rodovias como Anhanguera, Castelo Branco, Bandeirantes e o complexo Anchieta e Imigrantes. “Nesse período, cerca de 32 milhões de veículos chegaram à cidade e igual montante saiu”, disse. Também foram pesquisados dados como velocidade média com a intenção de montar um quadro de características que estão dando subsídios para o sistema de integração de informações.

TRÂNSITO EM SÃO PAULO – O representante da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, Valter Vendramin, apresentou a missão e alguns números atuais do órgão em relação ao trânsito paulistano. “Nossa missão é prover mobilidade com segurança, sustentabilidade e contribuindo para a qualidade de vida na cidade.” A CET conta com cinco diretorias operacionais e oito gerências de engenharia de tráfego distribuídas por macrorregiões na cidade de São Paulo. Para uma população de 11,3 milhões de habitantes, existe uma frota de 6,4 milhões de veículos e 17 mil quilômetros de vias, dos quais 868 quilômetros são monitorados. “Nestes trechos concentra-se praticamente a totalidade dos problemas de trânsito local.”

Para dar conta desses problemas, a CET define rotinas diárias para suas equipes que incluem monitoramento, atendimento às ocorrências, fiscalização, manutenção e implantação de infraestrutura viária. Conta com 350 câmeras, 395 pontos de operação, 170 rotas prefixadas para veículos de fiscalização e 21 faixas reversíveis em horários de pico. Além disso, há semáforos georreferenciados, sendo 1.621 em tempo real e 4.531 convencionais.

“Anotamos este ano a média diária de 99 acidentes, 309 veículos quebrados e nove mil autuações, entre tantos outros registros. Também há na cidade alguns eventos de grande porte que são geradores de gargalos importantes no trânsito da capital, exigindo ações específicas da CET. É o caso, por exemplo, do GP de Fórmula Um, da Virada Cultural – particularmente complexa porque envolve o fechamento simultâneo de 33 quilômetros de vias durante dois dias – a Parada do Orgulho LGBT, o Carnaval e a Corrida de São Silvestre, entre outras", afirmou ele.

PRÓXIMAS PARADAS – As cidades de Pequim e Xangai, também selecionadas para a implantação de sites demo, têm os seminários finais programados para o mês de setembro.

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